Uma figura pequena recortou a luz que entrava pela porta aberta. Vestia um top vermelho e uma saia branca com muita roda. Tinha um ar triste e abatido, os olhos estavam húmidos e forçosamente apagados como se quisessem dissimular qualquer coisa.
Pediu-me um café e esperou em pé que a servisse. Achei estranho uma mulher aqui sozinha, ainda para mais com um ar tão solitário quanto distante daqui.
Pus-lhe o café à frente, ela agradeceu e levou-o para uma das mesas. Sentou-se cruzando as pernas, apoiou os cotovelos na mesa e o queixo numa das mãos sem tocar no café. O olhar continuava o mesmo - húmido, dissimulado e distante mas atento. Simultaneamente conseguia focar o olhar em ponto nenhum e prestar atenção ao local.
Não sei quanto tempo passou... agarrou na chávena e deu um pequeno gole. Reparei que não pusera açúcar no café - quereria manter a linha? Possivelmente. As mulheres têm destas coisas... Foi bebericando o café aos poucos, saboreando com prazer cada golinho do café amargo.
Entretanto chegou um cliente e eu deixei de ter tempo para continuar a observá-la discretamente. Mas, assim que pude, lá continuei observando.
Com o passar do tempo, o seu semblante adquiriu determinação sem no entanto deixar de parecer distante.
Quando achou que chegara a hora, agarrou na moeda de um euro que, desde que ela se sentara, tinha passado todo este tempo em cima da mesa à espera de ser precisa e perguntou-me:
- Quanto lhe devo?
- Sessenta cêntimos.
Estendeu-me a tal moeda, dei-lhe o troco e ela saiu com duas moedas de vinte cêntimos na mão. Nem carteira trazia consigo...
Saíu tão misteriosamente como entrara. De onde viria? Quem seria? Porque andaria só e triste?
Mesmo numa pacata aldeia como esta acontecem coisas que dão que pensar...
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