domingo, 1 de março de 2009

Érres de Riso e de Refeitório


Era a derradeira refeição tomada neste espaço de alimentação colectiva.
O homem da caixa avisou-me numa voz antipática e gasta que para mim aquilo só funcionava a partir das catorze horas. Respondi numa voz monocórdica: 'Ah está bem.' Que era só a partir das catorze já eu sabia, o que eu estava era a marimbar-me para ele e mais as ordens do superior e mais o raio que o partisse também. Que mal faria eu ir uns míseros quinze minutinhos antes das catorze?
Não havia mesas sem batas brancas ou doutras cores. Todas tinham no mínimo uma bata. Decidi sentar-me numa mesa onde já se encontrava uma senhora que, surpresa das surpresas, não se encontrava fardada, trajava indumentária normal. Perguntei se me dava licença, respondeu: 'Com certeza, com muito gosto!' E riu, não se ficando pelo sorriso. Fiquei agradada com a demonstração de simpatia. É daquela simpatia que fica para além do normal e aquém do fingimento. É aquela simpatia que eu gostava de ter.
Mesmo sem vontade iniciei a minha refeição. E fui observando. Ainda que não estivesse fardada tinha um ar incrivelmente clínico, mas isto se calhar era da minha cabeça devido ao local cheio de pessoal hospitalar. Era pequena e franzina. Numa das mãos havia enfiado um anel da treta enormíssimo, deu-me a sensação que o anel lhe ia comer a mão, de tão grande. Antes disso acontecer ainda vi que tinha nas unhas um verniz cor-de laranja. Oh!
E eu a pensar que só eu é que uso estas cores! Afinal há mais marias com esta mania...
Às tantas, puxou de um caderno e começou a escrever. Pois está muito bem, eu sei que não sou a única pessoa que escreve em locais públicos, mas não consigo deixar de achar engraçado que hajam mais pessoas a fazer o mesmo que eu. Imaginei logo que ela poderia ter um blogue, quem sabe? Mas não devia ser... Reparei que escrevia em inglês e a escrita era feita por tópicos. Na certa estava a preparar alguma aula ou a fazer um trabalho de casa.
O telemóvel dela tocou e ouvia-a falar com o interlocutor em inglês, dando-lhe as indicações para ele chegar até onde nos encontrávamos. Por entre a conversa riu várias vezes daquela mesma maneira, fiquei certa de que aquele riso nela era natural. Ainda gostei mais da senhora.
Despachei-me antes que chegasse a companhia dela. Despedi-me agradecendo e de volta recebi um 'De nada, ora essa!' e fui premiada com mais um riso daqueles...
Sim, foi reconfortante. Eu gosto destes encontros fugazes e efémeros.

4 comentários:

Cris disse...

olá gina....

Tens um desafio no meu blog....
bjs
cris

perdidosemafrica

Gina G disse...

Obrigada, Cris.
Já lá vou ver. :)

redonda disse...

Também gosto de encontros assim :)

Gina G disse...

Adoro ser contagiada pelas coisas boas que as pessoas possuem. :)