domingo, 29 de março de 2009

Obituário


O senhor que me deu este ramo de flores morreu. Eu até nem tinha grande lidação com o homem, conhecia-o vagamente, 'bom-dia/boa-tarde' e pouco mais. É estranho. Sei que para morrer basta estar vivo mas é estranho. Não consigo deixar de me sentir um tanto ou quanto confusa com a aspereza da morte...
Há dias falei com uma senhora que encara a morte de modo totalmente pragmático. Quando enviuvou encarou a situação com a máxima naturalidade. Dizia-me ela que o marido morreu de cancro, de maneiras que o melhor era vê-lo morrer a vê-lo sofrer atrozmente. E acrescentou que lhe fazia muita confusão as pessoas chorarem os mortos, que isso era apenas um grande egoísmo da parte de quem fica vivo. Eu ainda ripostei, disse que as pessoas choravam pela saudade inevitável que a perda fisíca provoca. E ela... sempre naquele seu modo impassível repetiu que isso não passa de egoísmo, isso sim!
Perante tamanha convicção deixei-me ficar no meu canto a pensar naquilo. Ela tem razão. Se a morte assim fosse encarada por todos a vida depois da morte seria bem mais fácil para os vivos. Mas... e consegui-lo?

Nota:

Este é o segundo post a que chamo 'obituário'. (para ler o primeiro é favor clicar
aqui) Qualquer dia crio uma etiqueta com este nome. A contar com as pessoas que eu já conheci vivas e que hoje estão mortas, iria arranjar assunto para post diariamente...

4 comentários:

bell disse...

Concordo com essa senhora. Acho que choramos a falta que o morto nos faz, ou porque nos deixou sozinhos, ou porque lhe queríamos ter dito algo e não o fizemos, ou porque estamos arrependidos de algo que lhe fizemos ou dissemos. É um choro egoísta, sim. Tal como quando choramos durante um filme. Choramos porque a situação nos toca de alguma forma e aproveitamos para carpir as nossas mágoas com a desculpa "é este filme que é muito triste".

Gina G disse...

Eu também concordo, tal como está escrito no post. Mas conseguir manter um sentimento desta natureza é que são elas!

V. disse...

Além de pensar tal e qual como a senhora pratico essa maneira de estar.

Até ver, sim, porque até agora ainda não me orreu ninguém muito próximo.
Além do meu avô que morreu de cancro e para mim foi tão bom ele ter deixado de sofrer (confesos que fiquei feliz por ter termiado o sofrimento dele, só meses depois fiquei triste porque nunca mais o ia ver) mais ninguém assim próximo e especial como ele morreu... por isso é capaz de ser tudo "garganta" da minha parte.

Seja como for sou vista como muito fria...

Gina G disse...

É uma postura de grande coragem e determinação.