sábado, 12 de setembro de 2009

Cabelos


Entrou um moço com uma cabeleira tão farta que tapou a luz que invade o pequenino corredor da entrada quando o sol vai alto.
Começou por me dizer que já ali tinha ido tantas vezes (sim, eu sei que já cá esteve outras vezes, reconheceria essa cabeleira em qualquer parte do universo!) e que ainda não me tinha dito o quanto gosta de lojas daquele tipo porque as pessoas que lá trabalham têm que saber muitas coisas. Fiquei embasbacada durante uns segundos, a cabeça vazia, até que respondi esta sandice:
- Então, agora já disse. Está dito e ainda foi a tempo.
A boca dele abriu-se num sorriso infantil, é moço para ter uma postura descontraída, talvez sobeje descontracção mas, seja como for, é sempre muito fácil atender pessoas assim. Veja-se o seguinte diálogo:
- Tem daqueles pentes fininhos?
- Tenho… é pentes para caspa que quer, não é?
Envergonhei-me ao pensar em nomear o vulgo ao objecto da questão – pentes para piolhos. No entanto, ele avança:
- É daqueles pentes para os piolhos. É mesmo para isso.
A vergonha de há pouco houvera desaparecido. Veja-se a seguinte resposta proferida debaixo do mais puro espanto, lutando por dominá-lo em simultâneo:
- Mas com essa cabeleira você nunca vai dar conta dos piolhos!
E ele exibe outro sorriso de puto despreocupado, desleixado até… E eu deu-me vontade de sair dali a correr para pedir ao Luís a máquina zero e dar-lhe conta das guedelhas…

(Que horror!)

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