Não ser conhecida na blogosfera é uma mais-valia quando desejo não ser reconhecida na vida real. Ajeito-me com esta simples ideia, por vezes, especialmente quando quero dizer coisas e relatar factos objectivamente. Sendo pequenina na blogosfera é quase certo que não vêm ralhar comigo porque não tenho nada que andar a escrever da vida das pessoas e mais não sei quê. Por não ser conhecida no virtual ninguém me vem pedir contas no real. Fantástico, não? Claro que sim. Muito. Posso escrever sem reservas, ninguém procura uma drogaria suja e entupida de material que tem lá dentro um balcão partido onde repousam trastes que não lembram a ninguém e esconde uma mulher de meia idade, maltrapilha, sisuda e gasta pelo tempo. É por isso que posso ser atrevida e declarar e relatar o que bem me apetece: cenas carregadas de pormenores. E ainda tenho o desplante de não me esconder nem um bocadinho...
Lisboa, 30 de Maio de 2011
Eram catorze e quarenta e cinco. Um Fiat Punto vermelho queimado pelo sol estava estacionado em frente à saída duma garagem da Avenida Guerra Junqueiro, saía lá de dentro a música num som tão alto quanto se possa imaginar, uma daquelas músicas com brejeirices de Verão mas cantada por uma criança.
Eram três e trinta e três da tarde. A porta do número quinze da Rua Rosa Damasceno abre-se para deixar passar uma septuagenária que havia saído do cabeleireiro – tinha a cabeça num primor. O tempo hoje não está favorável aos aprimorados, está frio e vento e caem umas pinguinhas de chuva aqui e ali. 'Ai que horror, sair dali com a cabeça quente e dar logo de caras com este frio!' Diz ela toda encolhida. Este tempo não favorece os aprimorados e os temerários a doenças.
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