Nas férias houve trabalho. Para começar ouvi a descrição exaustiva dum dia de trabalho duma empregada que se encarrega de deixar o chão da Quinta do Lago livre de lixarada. Fiquei a conhecer passo-a-passo a lida da dita moça. Agora já só me lembro do precioso que é colocar uma pedra no saco do lixo para este não voar mas que é preciso andar muito atenta porque quando o saco tem lixo já não voa com o vento dispensando assim a pedra. Jantei com ela. Com ela e outras pessoas. Comemos amejoas gigantes e sapateira. Ela, não. Ela pediu bitoque, até parece que é de Lisboa!
Depois é que houve trabalho a sério. É o que dá ir de férias com o meu colega...
– 'Tou sim, sô arquitecto, como está?
O meu colega, solícito, havia dito ao senhor que íamos para aqueles lados e que se ele assim entendesse, telefonasse que a gente ia lá. Trabalhar. Nas férias. Bah! Enfim...
O sô arquitecto, vendo a minha indumentária veraneante, desfez-se em desculpas. Minha senhora, desculpe interromper-lhe as férias. Minha senhora, se quiser dê uma vista de olhos pela casa. Minha senhora, já viu o jardim? Minha senhora, suba lá acima, vá ver. E eu fui, nos intervalos de passar uma bucha e um parafuso ao colega empoleirado no escadote, curiosíssima como sempre, ia cuscando a casa do sô arquitecto. Fui eu que a projectei há trinta e tal anos, dizia ele. A minha mulher diz que quer morrer a ver um pedaço de relva verde do quarto... Mas a relva está seca!, queixou-se. O meu colega ainda andou lá de volta do sistema de rega mas não obteve sucesso.
Fiquei um pouquinho aturdida com a vida particular do sô arquitecto, em chegando uma certa altura na vida é quase certo os momentos serem na maioria tristes por se estar assustadoramente próximo da morte. Eu ainda não escolhi o meu lugar ideal para morrer, sou jovem demais para isso.
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