sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ora, nem de propósito...


Agora está em combinação. Ganhei a segunda volta. Vestiu uma quase nova, a ante-penúltima na pilha de roupa de baixo arrumada com perfeição no armário. Por baixo de tudo, as já remendadas, depois as simplesmanete já usadas, no fim a última, novinha, nunca vestida, a que ela reserva «para ir para o hospital».
Esta muda frequentemente de lugar. Às vezes está no alto da pilha, outras à parte no armário, outras ainda numa mala pequena. Não, engano-me. Na mala do pequena é a camisa de noite para o enterro.
Olho para a minha mãe em combinação.
Uma combinação é uma espécie de forro de vestido, em malha de nylon, sem gola, sem mangas, justa ao corpo, e só um nadinha mais curta do que o próprio vestido. «Vocês, os jovens de hoje, já não usam isto.» É uma peça que faz a transição entre a intimidade do corpo e a fachada que é o vestido. Tem a mesma função que as cortinas de musselina das janelas, por baixo dos cortinados, mais espessos. Também impede que a forma das pernas seja adivinhada, não as deixando ver em contra-luz. Evoca, em suma, uma época em que se desconfiava do corpo, o corpo suja, a combinçãolavável protege o vestido, que não se lava.

In
'Frases curtas, minha querida' de Pierrette Fleutiaux

(página 82/83)

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