Uma mistura única, a linguagem da minha mãe, e hoje lamento não ter anotado as particularidades dela, em pormenor, no dia a dia, julgava lembrar-me de tudo para sempre e apercebo-me de tudo o que esqueci, que sou obrigada a explicar laboriosamente, em frases que não são as convenientes, com muitas subordinadas encadeando-se, e muitos «que» e «quem», eu que sempre desejei saltitar agilmente com as palavras, como a menina pequena que sou, por causa do meu grande medo oculto. Fica claro que não consigo fazê-lo com a minha mãe.
De entre as perguntas que um escritor ouve fazerem-lhe, destaca-se uma, recorrente:«Toma notas?» Respondo «não, se não nos lembrarmos mais das coisas, é porque não eram importantes». Indubitavelmente, funciona assim comigo, sempre funcionou assim... excepto no que respeita à minha mãe.
Mas como poderia ter tomado notas? Teria sido preciso esquecer que ela era minha mãe, que eu era filha dela, só lembrar-me de que era uma escritora, preservar este «quanto a mim», este «pelo meu lado», o lado secreto, simultaneamente íntimo e impessoal, a fortaleza aberta a todos os ventos, onde se aloja o escritor. (páginas 112/113)
De entre as perguntas que um escritor ouve fazerem-lhe, destaca-se uma, recorrente:«Toma notas?» Respondo «não, se não nos lembrarmos mais das coisas, é porque não eram importantes». Indubitavelmente, funciona assim comigo, sempre funcionou assim... excepto no que respeita à minha mãe.
Mas como poderia ter tomado notas? Teria sido preciso esquecer que ela era minha mãe, que eu era filha dela, só lembrar-me de que era uma escritora, preservar este «quanto a mim», este «pelo meu lado», o lado secreto, simultaneamente íntimo e impessoal, a fortaleza aberta a todos os ventos, onde se aloja o escritor. (páginas 112/113)
In 'Frases curtas, minha querida' de Pierrette Fleutiaux
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