segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ser mulher

«Tenho treze anos, dói-me a barriga, há qualquer coisa que me oprime o peito, não posso correr como um cão maluco, já não posso andar na rua sem recear os olhares, não compreendo o que o meu corpo quer de mim, não sei como são os rapazes e que espécie de amor me irão dar.»
«Tenho trinta anos, os cantos dos meus olhos começam a enrugar mesmo quando não estou a sorrir, o meu corpo já não me pertence, a maternidade devora-me o tempo, os homens são como estranhos...»
«Tenho cinquenta anos, não vou ter mais filhos, a minha cintura engrossou, luto sem tréguas contra o meu corpo, os homens não são meus amigos...»
«Tenho sessenta anos, as crianças não devolvem o meu olhar, o dos homens aflora-me sem se deter, pertenço ao terceiro género, o que não tem nome nem sexo, tenho medo...»
«Tenho oitenta anos, sou um bebé sem mãe, feio e mal formado, ninguém faz gracinhas junto do meu berço, sou um monstro de quem a vida quer abortar...» (páginas 148/149)

In ‚Frases curtas, minha querida‘ de Pierrette Fleutiaux

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