segunda-feira, 11 de julho de 2011

Anos

1, não me lembro mas a minha mãe diz que eu apaguei a vela com uma colher.

2, … 3, … 4, …

5, posei num fotógrafo. Achei-me forçadamente empertigada até ao clique, quieta em demasia, ai que sofrimento. O desenvolvimento deste episódio consta aquia.
Estávamos em Albernoa. A minha mãe ensinou-me a minha nova idade: agora, a minha filha diz que tem 5 anos, a minha filha já não tem 4, tem 5 anos. Desenvolvimento neste post.
Creio que foi nesta estadia que revelei um grande espanto por a minha mãe ter ela própria uma mãe. Não me lembro, a minha mãe é que conta.

6, … 7, … 8, …

9, veio muita gente à minha festa. Ofereceram-me um livro, o qual já escrevi aqui.

10, só está na lembrança o aperceber-me que doravante escreveria a minha idade com dois números (hoje diria dígitos) e que nunca mais deixaria de ser assim a menos que chegasse aos 100. Esta menina já pensava em cada coisa...

11, … 12, …

13, chorei baba e ranho, não queria deixar de ser criança.

14, era domingo. Choveu, fui ao café com a Leonarda e a minha afilhada Carla. Não bebia café nem aceitava nada para beber ou comer, ia só porque sim, porque era assim, porque não havia mais nada para fazer.

15, era segunda-feira, lavei a louça sem protestar ou lembrar à minha mãe que devia ser poupada neste dia especial. Recordo que alguém me elogiou o desempenho mas não sei quem foi.

16, dava uma canção na Radio, 'Pequena Amante' da qual não recordo o intérprete, que falava duma rapariga de 16 anos que encantara um homem mais velho. A minha mente ainda jovem não conseguia alcançar em pleno o verdadeiro significado do poema, apenas me derretia com a ideia de ter a mesma idade de alguém tão especial.

17, eu é que era aniversariante mas as atenções não recaíam sobre mim.

18, eu, linda e jovem. A minha mãe comprou-me um fio de prata na Ericeira. Eu, bela e fresca, esperando na rua que viesse a camioneta de substituição, uma vez que aquela onde viajava avariara na descida da Freixeira. Já tens uma coisa para recordar do dia em que fizeste 18 anos, vês?, disse a minha mãe. Vá-se lá saber com que intuito queria ela algo de inesquecível neste dia...
Foi nesta altura que deixei de me achar desengraçada. Neste dia não me importei da viragem que ocorria, o ser adulta, achei-me igual... só que gira.

19, …

20, era segunda-feira, estava toda dorida nas pernas porque no dia anterior tinha andado a jogar à bola.

21, saí do trabalho e apanhei o autocarro nº 12 para me ir encontrar com o meu noivo. Estava um dia embrulhado e eu suava no meio daquela gente amontoada. Tinha uma blusa branca às bolinhas vermelhas e uma saia dum vermelho vivo, ambas confecionadas por mim. Estava um bocado apreensiva com o grande passo que daria daí a cinco dias: casamento.

22,...

23, estive numa aula de preparação para o parto – a rica filha andava cá dentro aos rebolões. Perguntaram a idade a todas as grávidas. Quando chegou a minha vez: «faço 23, hoje» Recebi muitos parabéns duma vez. Esse coro de parabéns foi único, nunca tinha ocorrido nada semelhante na minha vida e nunca mais ocorreu.

24, a rica filha mordeu a colher da papa. A colher a fazer de cachimbo e o lábio inferior tão levantado... Assemelhava-se ao Popeye.

25, …

26, tinha um barrigão enorme. Junto da rapariga da mercearia lamentei que o rico filho não escolhesse este dia para nascer... Seria engraçado.

27, quantos fazes, perguntou o Vitinhas quando soube que eu era aniversariante.

28, a rica filha estava pela primeira vez num acampamento de Verão. Apaguei as velas cá com umas saudades das suas ladaínhas... O rico filho estava comigo, segurei-lhe a mão porque ele queria jogar-se às velas. Sempre tão sossegadinho, meu querido menino...

29, andei por Loures e pensei que o 29 é um número muito alto, comecei a sentir algum peso na idade.

30, estive em Vila Franca de Xira visitando um centro comercial que abrira há pouco tempo. O meu marido comprou-me um fio e uma medalha com 'G' de Gina. Algum tempo depois perdi a medalha. Lamento até hoje, foi um presente muito especial.

31, era domingo. Choveu. Uma morrinha chata que só visto.
Agora é que vais ver o trinta e um onde te meteste!, disseram.

32, fui jantar a um restaurante chinês em Telheiras (Lisboa). Nessa altura era ainda invulgar ver restaurantes orientais por aí.

33, apenas me lembro de me ser tirada uma fotografia, a qual referi aqui.

34, passeei sozinha por Lisboa. Uma certa nostalgia que não sei explicar. A idade, talvez. Mais um ano. Sempre a somar, sempre a somar.
A partir daqui posso fazer batota, tenho registos escritos de algumas vivências.

35, tive a tarde livre, fui ao Odivelasparque com algumas familiares. Só mulheres. Diverti-me, tive prendas e tudo.
Esta idade sempre foi um marco para mim, quando eu nasci a minha mãe tinha 35 anos.

36, era domingo. Recebi um ramo de flores em casa, prenda do maridão. Grande ideia, amiguinho.

37, manicure francesa, calças brancas e uma t-shirt laranja vivo, são como espectros desse dia. Já uma queda (vulgo bate-cú) que dei ao sair da cabeleireira é uma imagem bem real.

38, cuscus com queijo feta é um espectro deste ano ou do anterior?... Não sei, os anos já são muitos, baralho-me.

39, o derradeiro 'inta', estás nos 'entas' não tarda.

40, trabalho... nada. Há qu' anos não trabalho a 11 de Julho....

41, passeio a Albernoa. Fotos, fotos, fotos.

42, passeio pela saloiada. Fotos, fotos, fotos.

43, é uma questão de ler os posts deste dia.

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