quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A minha mãe

O (re)começo

Esta semana (re)começaram as aulas (só para os mais novos, ainda não é a vez dos ricos filhos) o que me fez recordar o meu primeiro dia de escola. Não foi bonito, foi até um tanto ou quanto traumatizante. Chorei baba e ranho, pensava que a minha mãe me ia abandonar à mercê duma velha austera de bata branca, o que fez com que ela mentisse e me dissesse que ficava ali sentada naquela banco à minha espera, debaixo do pinheiro que ainda hoje lá está, enquanto eu estivesse dentro da sala:
- A mãe não vai embora, a mãe fica aqui sentada, vês?
Acreditei piamente tinha só seis anos, nessa idade o que os pais dizem é a mais pura verdade para nós.
Já não me lembro bem mas lá dentro devem ter-me acalmado dalguma maneira, talvez tenha feito um desenho ou o meu nome em grandes letras.
Nos dias seguintes ainda chorei baba e ranho, que bem me lembro, e como era muito envergonhada não pedia à professora para ir à casa de banho quando me vinha a vontade de fazer chichi. Logo... A minha mãe encontrou-me 'molhada' um dia ou outro e depois dava-me nalgadas, que eu não tinha nada que me mijar, ora o raio da rapariga, vergonha de quê e tal e tal.
Para meu descanso, isto não foi sempre assim. Não demorei muito a mudar radicalmente de opinião, semanas depois adorava a escola e pouco depois disso, olhando demoradamente para o saleiro que estava pendurado na cozinha lá de casa, onde se lia em grandes letras vermelhas 'SAL' exclamei em voz alta e muito senhora de mim:
– Sal!
O que encheu de orgulho a minha progenitora. Durante o resto da minha infância ouvi relatos assim 'a minha Gina três meses depois de andar à escola lia corretamente'.


Passar a esponja

Terminei em grande o texto anterior mas denegri um pouco a imagem da minha mãe. Vou contrariar essa ideia já de seguida.

A minha mãe era linda quando era jovem. A pele branca e sem defeitos, o olhar muito vivo, a boca bem desenhada com os dentes todos alinhados. Era uma cara sem atributos fantásticos mas resplandecente na sua aura de simplicidade.
A minha mãe foi sempre linda, ainda me lembro de os homens lhe mandarem piropos e ela esbaforida levantar a mala e dizer: «Levas com a mala nos cornos que verás, filho dum cabrão!»

Hum, acho que ainda não terminei da melhor maneira... Vou tentar outra vez.

Zanga versus Convivência

Os meus pais estiveram alguns anos zangados com a minha avó paterna e as minha tias (irmãs do meu pai) ao ponto de não falarem com os outros. Durante a infância ouvi zunzuns aqui e ali mas não sei contar o motivo da zanga, presumo que se tenha dado devido a invejas das minhas tias e avó para com a minha mãe. Os atritos próprios de sogra/nora/cunhadas, talvez não tenha passado disso mesmo.
Mas a minha mãe não queria as suas crianças ressentidas por não verem a avó (e as tias) e levava-nos (a mim e ao meu irmão) até à porta da casa onde moravam. Subíamos e ela ficava em baixo à espera, enquanto nós, tomando a atitude que a minha mãe corretamente nos ensinava, visitávamos e estávamos um bocadinho com a aquela parte da família, para que a mesma tivesse a nossa presença ao menos uma meia horita lá de quando em quando.
Era comum a minha avó dar-nos dinheiro no final da visita, até parece que estou a ver a nota de cem escudos a passar-me à frente dos olhos, ela sempre a estendia ao meu irmão, que era o mais velho, (coisas da hierarquia familiar...) mas sempre alertando que a quantia era para dividir pelos dois.

Sensata, a minha mãe... Não falar com a sogra e as cunhadas e mandar lá os meninos e assim. Sensata, sim senhores. Depois queria saber tudo, claro...

1 comentário:

redonda disse...

No meu 1º dia de escola, fui para lá com a minha irmã mais velha e achava que já sabia tudo (não chorei, mas algum tempo depois pensei em desistir porque sabendo como era tudo, preferia ficar a dormir de manhã)