terça-feira, 20 de setembro de 2011

No supermercado

Vi a Olinda na secção de charcutaria, tal como eu aguardava a vez de ser atendida. Pensei falar-lhe, soube que morreu a filha, uma menina que brincava comigo às bonecas no meu quintal. Entretanto, como ela não olhasse na minha direção e eu não me apetecesse deslocar-me até ela e blás, nem posso dizer que houvesse grande empatia parte a parte, deixei-me estar no meu canto.
A espera deu-me tempo para lembrar algumas cenas de infância em que a Olinda esteve presente. Levou-me à praia uma vez ou outra. Numa dessas vezes, como não entendi à primeira o que me dizia, chamou-me 'atraso de vida'. Magoou-me profundamente. Dizem que as crianças não esquecem quem as faz sofrer. Creio ser verdade, assim que o meu pensamento viajou até à infância a primeira coisa que me lembrei foi algo de negativo.
Afinal já não quero falar à Olinda, que se lixe o luto dela, que se lixe a pena que tenho.

Ah, não sou nenhum 'atraso de vida'.

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