sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

III ATOS

I ATO

Onda vaivem

Não é nada a minha onda andar a inventar para escrever. Tenho tentado, ao sério que sim, aí para baixo há uns quantos episódios inventados. Mas não é a minha onda, não é o que me motiva, não me desperta, antes pelo contrário, abafa-me a escrita. Básica e primariamente sou pela observação pura da vida e pelo escrever impulsionado por essa observação.
Não sei bem, mas talvez venere este impulso, sinto-lhe uma espécie de arrebatamento, uma intensidade qualquer que não sei classificar.

II ATO

Murro; pontapé; arranhão

Matias é bandido e dorme na rua. Hoje apresentou-se ao serviço de cara arranhada. Andou à pancada, certamente.
Ou então, caíu.
...
Não caíu nada, andou à pancada. Sei-o pelo modo como me olhou de soslaio, com medo das minhas questões, ele que é sempre tão aberto à conversa.
Não questionei. Fico, portanto, com as minhas certezas. Daí não vacilarei.
Agora me lembro: não questionar traz mais certezas...


III ATO

Cargo de chefia

Tomélia tem um chefe ignóbil. Desconfiado e velho, também. Mal sabe o bicho que ela anda a escrever um livro... E que escreve às escondidas lá no computador...
Segunda a Sexta, das nove às cinco – é o horário. Ela lá se amanha para escrever, aproveitando os bocadinhos todos. O chefe aproxima-se, Tomélia fecha o documento. O chefe trabalha, Tomélia abre o documento. O chefe levanta-se, Tomélia acaba rapidamente a frase e grava. O chefe olha para a papelada, Tomélia retorna à escrita. Vai escrevendo e desenvolvendo a trama da sua história. Aos pouquinhos, aos pulinhos, pequenos soluços do seu viver. É no seu viver que se baseia para escrever, ninguém é capaz de escrever daquilo que desconhece.

Sem comentários: