Uma menina estranhou a imagem presente no quadro e disse para a mãe:
– Oh, olha ali tão mal feito, mãe!
A mãe explicou à menina que não era mal feito, era uma arte, há uns senhores que fazem umas coisas que parecem esquisitas mas é mesmo assim.
E eu ali, por baixo do quadro. Queria ver qual a estranheza que havia despoletado a reação na menina. E eu ali, por baixo do quadro, como que prisioneira duma circunstância. Podia olhar para trás mas isso ia dar-me cabo do pescoço, por causa da camada de roupa que trazia vestida.
Passado um tempo vejo aproximar-se uma senhora toda pimpona. Sapatinho alto, casacão cheio de pêlos fofinhos e quentes, beiças escarlate. Uma presença fria, nada atrativa. Olhou com grande interesse para o dito quadro. Séria, no entanto. Seriíssima. Ar de entendida. Ar de desdém.
Afinal parece que o quadro não presta, pensei eu.
E eu ali, por baixo do quadro.
Quando me levantar daqui tenho de não me esquecer de mirar o quadro, pensei eu.
Seria mais um par de olhos. Mais um olhar crítico e prescrutador.
O tempo passou. Por acaso ia-me esquecendo de olhar para trás. É 'alguém' que tem um par de pernas e pés que não tocam no chão, a cabeça no lugar das ancas e depois mais nada de corpo. Na cabeça tem um chapéu-de-chuva em duas perspetivas, o rosto encontra-se de perfil, o nariz está desfasado mas o olho, porém, olha-nos de frente.
É uma imagem muito estranha, a menina tem toda a razão. O melhor do mundo deve mesmo ser as crianças...
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