Lisboa, 6 de Janeiro de 2012 |
Francisca Júlia e José Joaquim conheceram-se e amaram-se. Casaram assim que puderam, sempre em conformidade com os desígnios dos aldeões.
Não viveram felizes para sempre.
Tiveram muitos filhos. Muita fome, pouca esperança em melhorias. Ervas aromáticas: quanto baste. Pão, linguiças, azeite e alhos: parcos. Carne, peixe e legumes: parquíssimos. Restantes itens da roda de alimentos: inexistentes.
Francisca Júlia lavava quilos de roupa na ribeira, fazia a comida e arranjava a casa. José Joaquim trabalhava na monda e finda a jorna embebedava-se. Todas as noites.
Os filhos cresceram debaixo de temor, José Joaquim tinha mau vinho, porrada nos cornos todos os dias, numa ânsia egoísta. Esposa inclusa no descarrego das suas básicas frustrações.
Chegados à idade adulta, os filhos casaram, geraram netos que fizeram algumas delícias a estes avós incultos e brutos que nem cerros. Poucas delícias, que não eram pessoas com jeito para essas coisas, portanto.
A vida passou-lhes por cima. Francisca Júlia e José Joaquim: míseros e infelizes, é o que eram. Triste ilação...
A morte chegou. Bem-vinda, talvez.
Fim.
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