terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Música

Dezanove horas e trinta e dois minutos. E eu a ouvir o piano. Sem calma nenhuma, que não sei nada de calmarias.
Ao meu lado uma rapariga desenhava o cenário. Olhei de soslaio, vi o esboço do piano e outras linhas indecifráveis. Não era grande coisa, mas certamente bem melhor do que eu faria. Eu só sei escrever. Eu só escrevo, quero eu dizer.
Observei o panorama, em busca de pontos interessantes. Hum, personagens não inventados circulavam, isolados mas fazendo parte dum espetáculo qualquer, embalados pela múscia. Há uma harmonia que o piano não deixa descambar.

Chegou uma senhora de bandeja. Sessenta e tal anos, olhos verdes, cabelo pintado de preto. Toda uma série de contrastes, afinal a vida é feita disso. Ia jantar, claramente.
Observar as pessoas agrada-me na medida em que lhes noto costumes sem que neles me reconheça, isso ajuda-me a apartar-me de egocentrismos, os quais me são desnecessários enquanto escrevente.
Depois de instalada à mesa, a senhora deu uma dentada na fast-food que escolhera. Hum... Aprecia o sabor, ao que parece, a expressão de deleite é notória. No entanto ela para, pousa a comida. Quedei ali. Que irá acontecer? Será que afinal não lhe sabe bem e o que observei é pura sugestão do meu cérebro? Ela abre a mala, retira a máquina fotográfica e faz clique em direção ao prato. Um flashe incide e propaga-se, mas poucochinho. Ora e esta! E eu sempre tão receosa que me ralhem aquando das minhas piscadelas fotográficas?

Um jovem fardado de vira-hamburgueres-e-mete-dentro-do-pão jantava o seu hamburguer e batatas fritas, empurrados a golos de coca-cola. Cedo, não? Melhor agora que estar a aviar fegueses com a boca a desfazer-se em água por causa da fome.

Um homem inspecionava argutamente a exposição de fotografia exposta no espaço. Alto e bem arranjado. A mochila contrastando dos trajes, que lembravam o clássico. Imaginei que chegou ali e sairia dali deslocando-se de mota, mas o capacete, onde andava ele? Se calhar é um daqueles que não quer envelhecer, daí a mochila. ... O capacete ficou na mala da mota.

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