Dantes havia o senhor Rogério e o sô João. Morreram. De certo modo fiquei sozinha, foram duas personalidades do meu quotidiano, dei-lhes vida com as minhas palavras, sinto a falta de os ver e de os ouvir, de efetivamente contactar ou só os apreciar. Talvez eles não soubessem mas, duma maneira ou doutra, eram companhia. Nunca lhes disse e agora já não vou a tempo de eliminar a falta. As pessoas acabam, é a realidade.
Entretanto, outros se chegam. E ficam. O que não falta na minha vida são personagens. Pululam aqui. E pulsam, cada um à sua maneira. Dão de vaia, ou então não. Umas vezes nem precisam dizer nada, que eu vou lá buscar, retiro-lhes o que me interessa.
Uma dessas novidades é o senhor... Como hei de chamar a este?
Manuel?
Não.
Pedro?
Não.
Aires, então?
Seja.
O senhor Aires já apareceu neste blogue algures. Tem um sorriso largo, que não percebo se é sincero. Tem a cara vermelha, um rubor que não estou certa se é do vinho ou da timidez.
Chega por volta das 4 horas, deixa-se ficar à porta e diz uma boa tarde com a voz entaramelada. Ainda não se percebeu se está bêbado, se é mesmo assim. Só se sabe que não falha um dia. A seguir à 'boa tarde' vem a informação de que já passou ali em baixo e cumprimentou 'o jovem' e agora está aqui a cumprimentar a gente. E é só. A não ser no dia em que o presidente se queixou da reforma. Aí é que o homem se fartou de falar daquela pouca vergonha! Mas tirando esse dia foi sempre assim, todos os dias, de segunda a sexta. Não sei se voltarei a escrever do senhor Aires, portanto... Mas seria um esforçado exercício de escrita, garantidamente.
1 comentário:
Acho que deve continuar a escrever do senhor Aires, do senhor Rogério e sô João.
As personagens não morrem se nós as quisermos manter.
Que, sabe eles não vão gostar!
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