Como fazer um poema dadaísta
«Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha num jornal um artigo do tamanho que pensa dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com cuidado cada uma das palavras que formam o artigo e ponha-as num saco.
Agite suavemente.
Agora tire cada recorte, um após o outro.
Copie conscienciosamente pela ordem em que tenham saído do saco.
E o poema parecer-se-á consigo.
E você é um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade enfeitiçante, ainda que incompreendida pelo vulgo.»
Fiz um 'poema' seguindo estas instruções: recortei as palavras, retirei-as do saco e transcrevi-as conscienciosamente, como descrito. Apenas pontuei e quebrei as linhas onde me pareceu melhor, para dar um toque verdadeiro e vivo. Pu-lo abaixo propositadamente. Digamos que é uma estratégia para que o leitor não me abandone e leia este trecho.
O jogo de palavras parece-se um pouco comigo, sim senhores. Parece-se no final, que é misterioso, assim como eu.
Não tenho essa certeza (a de ser misteriosa), mas já algumas pessoas me disseram que apresento essa índole. E, sendo que os outros nos conhecem numa perspetiva diferente mas verdadeira, o melhor é acreditar que sou assim.
Deixo agora uma frase de Marguerite Duras que consta no mesmo livro:
«Os homens gostam das mulheres que escrevem. Pensam-no, mas não o dizem. Um escritor é um país desconhecido.»
O dito 'poema'
Padre!
Qual casar?
Selvagem piropo!
Ela dois mundo(s?) ouviu... e compras
Realizar dinheiro
Conheço segredos
Se equilíbrio?
Se queres realizar!
Confessar-se?
Tenho fantasias...
Engraçado, fantasias...
Romântico, reage!
Sexo o...
Para conversa(s?) imensas depois
Momento me faz...
Tenho que não...
Meus...
Da...
Dos...
Não!
O Pessoa,
(mais pagar uma)
Viveria, diria: o como já?
Gostar...
Imensas levar!
Fosse... Foi numa...
Ainda hoje acabasse loja
Ao...
Foi...
Peço se confesso
Por padre está o pagar
Os...
A?
No?
Com que tem amor?
O faria... Que por... O que... E... O... Ao...
Nota 1: Recorte duma entrevista a Rita Ribeiro e digitalizado a partir do jornal 'Correio da Manhã' de 14 de janeiro de 2012
Nota 2: Referências literárias retiradas da obra 'A Oficina dos Escritores', Francis Amalif.
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