A Lucrécia é uma senhora muito simples, assim como que sonsinha e com pouco ou nada a dizer. Uma vez ficou ali de volta dos porta-chaves que têm nomes. Virou e revirou enquanto quis, aparentando querer comprar um daqueles espécimes com o seu nome lá escrito. Encorajei-a a que me facultasse a sua graça pois eu procuraria (nas prateleiras de cima) com muito prazer o dístico nominal. Não quis. Riu, riu, riu. E riu. E depois ainda riu. Eu ria com ela, nada há mais contagioso que o riso. Entre risos ia-me dizendo que o nome dela não estava ali, de certeza que o seu nome não estava ali, e vá de dizer que era Lu, era Lu, era Lu. Tentei adivinhar, morta de curiosidade, só me lembrava de Lurdes e Luísa, nada mais. Fiquei a seco...
Isto passou-se.
Um tempo depois fiquei a saber o nome dela: Lucrécia. Desta vez já não rimos tanto. No minuto a seguir a provar o conhecimento, ainda mal mastigando o alívio duma curiosidade saciada, esqueci por completo o nome da mulher e a própria mulher.
Isto também se passou.
Talvez tenham decorrido meses quando ela voltou. Não me lembro como encetei a conversa, mas lembro que já não tinha o nome que ela achava para lá de esquisito e que ninguém tem na minha memória. Voltei a inquirir, cheia de risos contidos (esta senhora dá-me motes alegres...).
– Mas olhe que eu sei que você é Gina...
Diz ela. Insisto:
– Diga lá...
E ela quase grita:
– Sou Lucrécia! Lucrécia!
Mas ri, ainda assim, ri. Ela e eu.
1 comentário:
Lucrécia não abona muito mas há piores.
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