As crianças são duma leveza espantosa. Há dias estive com um menino de uns cinco anos, senti-me bem, desanuviada, a sinceridade infantil agrada-me.
Eu tinha ido com o meu colega fazer um trabalho a casa duns clientes já fora d' horas, e o menino era filho deles. Ficou super interessado nas ferramentas, no mecanismo da fechadura, em todas as peças soltas que haviam de ser montadas nos seus lugares. Daí não advém surpresa, bem sei, as crianças são muito curiosas, na verdade até os adultos são...
Eu estava quieta, a um canto, nestas 'saídas' é este o meu papel, quando muito, a pedido do meu colega, coloco-lhe nas mãos uma ferramenta ou outra, uns parafusos ou um espelhinho, seguro aqui ou ali. A dada altura o petiz olha para mim muito sério, como se ainda não houvesse reparado na minha presença ali.
– O que é que a senhora está aqui a fazer?
Respondi com um toque de fantasia:
– Estou à espera da minha boleia...
– É ajudante dele?
– Não, só que tenho de vir com ele, para ir para casa preciso da boleia dele.
– Ah, então a senhora não tem carro?
– Tenho.
– ?!
– O meu carro é o mesmo que o dele, nós moramos juntos.
Largou-me. Não lhe interessou. Imagino que uma caixa cheia de peças metálicas dos mais diversos formatos seja muito mais apelativa que uma adulta sem grande conversa, pois logo a seguir dirigiu-se ao meu colega com um raciocínio e um palvreado invulgares para a idade:
– Tu vais utilizar estas peças todas?
Local e data das fotos:
Lisboa . Campo de Santa Clara, 29 de junho de 2012
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