Tive um bom bocado de tempo livre. Por isso, depois do treino, fui até ao Rio Tejo. Das portas do Ginásio até à água existe um espaço sem iluminação, amplo e vazio. Apesar do escuro, caminhei até lá. Quanto mais me aproximava mais intenso ia sendo o cheiro a rio. Com os olhos já habituados à escuridão consegui distinguir a ondulação e quando cheguei à beira do rio, vi as águas escuras. Não se via grande coisa, estava tudo escuro e comecei por me sentir pouco à vontade mas ao mesmo tempo com aquela sensação que costumo ter quando me sinto insegura com algo. Acho que é vontade de lutar contra os meus próprios medos. Pensei: " Medo do quê, Gina? Qual é o teu problema? Não está aqui ninguém, é certo. Mas precisa de estar aqui alguém? Não, pois não? Então aproveita os cheiros e os sons, vá... isto é tão giro exactamente porque não está aqui ninguém... "
E assim fiz. Andei por ali e tal... depois sentei-me numa coisa de metal cravada no chão que em tempos serviu para amarrar os barcos - não sei como se chama - e por ali fiquei até me apetecer.
Por acaso a escuridão é algo que me foi desagradando com o passar dos anos. Não me lembro de alguma vez durante a minha infância ter tido medo do escuro. A minha mãe até conta que quando eu nasci não deixei ninguém dormir de noite enquanto não descobriram que eu queria a luz apagada para dormir tranquila. Nunca tive medo das sombras nem nada disso. No Verão, era capaz de ir de madrugada para o quintal sozinha quando não tinha sono e não me passava nenhuma coisa má pela cabeça.
Hoje em dia não gosto do escuro. Não chega a ser medo e muito menos pavor, só uma certa insegurança pelo desconhecido porque está às escuras. Não gosto do escuro. Gosto de ver bem o que está à minha volta para ser devidamente analisado pelo meu olhar perscrutador.
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