domingo, 6 de maio de 2007

A minha mãe

Decorria o ano de 1973, o meu irmão já andava na escola, o meu pai estava a trabalhar no que seria a barragem Cabora Bassa em Moçambique e a minha mãe tomava conta de nós, da casa e do seu próprio trabalho. Uma das suas actividades era costurar. E fazia-me vestidos, muitos vestidos. Cheguei a ter 22 vestidos todos feitos por ela. Com qualquer bocadinho de tecido ela fazia um vestido para mim, era por isso que eu tinha tantos. Um dos vestidos era cor-de-rosa, tinha um feitio simples e sem mangas, a direito até à cintura de onde saíam pregas vincadas e tinha umas florzinhas brancas aplicadas no peito e no decote.
No dia em que fiz 5 anos, a minha mãe vestiu-me esse vestido, calçou-me meias brancas e sapatos de verniz pretos e foi comigo ao fotógrafo para registar a minha fisionomia com 5 anitos.
O fotógrafo mandou-me subir para uma espécie de mesa, que era tão alta para mim que tiveram que me ajudar a subir. Seguidamente o fotógrafo endireitou-me as costas e rodou-me o rosto para um dos lados. Ajeitou-me o vestido, pôs-me as mãos abertas em cima da mesa e disse-me para trocar as pernas. Recomendou-me que ficasse sossegada até ele tirar a fotografia. A minha mãe observava tudo e mantinha-se calada deixando o fotógrafo executar o seu trabalho. A mim estava a custar-me horrores estar naquela posição que parecia que não era a minha.
- Olha para o meu dedo... (e eu olhava) sorri... (e eu sorria)só mais um bocadinho... (e eu sorria)aguenta só mais um bocadinho... (e eu a aguentar) já está!... (ufa!!! que alívio!!!)
Voltei de novo à minha posição normal, desci da mesa (ou que raio era aquilo) e saímos para a rua, para longe daquele cheiro característico das lojas de fotografia.
- Gostas da mãe?
- Sim - respondi simplesmente.
- Muito ou pouco? - a minha mãe nunca está satisfeita... olhei para o céu, pensei, pensei e lembrei-me que o meu pai estava longe em trabalho.
- Como daqui a Moçambique! - a minha mãe riu-se da minha espontaneidade e durante anos ouvi-a contar este episódio várias vezes.
A minha mãe é uma batalhadora. Alentejana de origem e também de alma e coração, veio com o meu pai e o meu irmão em 1965 para Lisboa tentar uma vida melhor. E, à custa de muito esforço, conseguiram mesmo uma vida melhor. A minha mãe sempre trabalhou, nunca ficou de braços cruzados à espera que as coisas aparecessem.
A minha mãe tem pouca instrução, mas nunca deixou de ir a lado nenhum por isso. Se era preciso tratar de algum assunto ou ir a algum sítio que nunca tivesse ido, mesmo mal sabendo ler, lá ia ela à descoberta e sem medo nenhum do que iria enfrentar.
À minha mãe eu devo muito, talvez quase tudo, do que sei e do que sou hoje. A melhor mãe do mundo é a minha...

3 comentários:

Anónimo disse...

Bem...22 vestidos! Que espectaculo...a minha mãe dava-lhe mais com as camisolas...ehehe
nota-se que tens muito orgulho na tua mãe. e tambem se percebe porque.

beijocas

NOBITA disse...

Bem, a tua mãe tem bastantes semelhanças com a minha em muitos aspectos. Realmente mãe é única.
A tua para ti, a minha para mim e por ai fora. Quanto à foto estás muito linda, mereces estar naquele palanque, ainda para mais com um vestido muito giro feito pela tua mãe.
Beijos grandes

Anónimo disse...

Que gira!!!! Pareces mesmo uma boneca....ë tao bom recordar a nossa infancia nao é?
Tens um grande orgulho na tua mae,realmente uma lutadora assim, pois nao é facil criar os filhos sozinha....
Quantoa o teu pai entao esteve em Tete.Tambem deve ter boas recordacoes de Mocambique nao?
beijocas
perdidosemafrica