quinta-feira, 11 de setembro de 2008

No consultório

- Então, o que a traz por cá?
Resumidamente expliquei o motivo, mostrei os exames.
- O que faz?
Ia responder balconista mas lembrei-me disto. Cá por dentro sorri e respondi:
- Sou empregada de balcão.
- Onde?
Achei a pergunta um tudo nada estranha e despropositada e supus que o que ele queria era perguntar em que tipo de loja.
- Numa drogaria.
- Numa drogaria? - fez uma pequena pausa - Qual é o melhor remédio para as formigas? Tenho lá em casa uma praga, pá...!
Arregalei os olhos, acho. Seguidamente tivemos uma pequena conversa acerca de como aniquilar bichinhos que até são de andar por casa mas apesar disso não são bem-vindos no lar que teimam em habitar. E eu descontraí, se calhar era o que ele queria...
- Então, diga-me lá: quer ser operada?
Respondi que sim, que se era o melhor para que desaparecessem os sintomas que tenho sentido nos últimos meses, fôssemos a "isso". Desembaraçado, respondeu-me:
- Minha querida, não há outra solução!
- Seja! - disse eu, tão desembaraçadamente como ele.
Depois foi um reboliço, na minha cabeça passavam rapidamente as vantagens e as desvantagens do que vai acontecer. Estava à minha frente um médico empenhado em me encaixar na sua agenda de cirurgias. Percebi que estava cansado, suspirava entre um olhar para o calendário para situar a quantidade de feriados que aí vêm e um fechar e abrir de várias agendas pois trabalha em vários hospitais e há que coordenar as coisas muito bem para que nada falhe.
Olhei para ele com um misto de admiração e curiosidade em grandes porções e uma pequena dose dos opostos amor e ódio - aquele é o homem com quem me vou estrear em matéria de cirurgia. De repente:
- É o senhor que me vai cortar?
Ele levantou o olhar dos papéis, um olhar sério e atónito.
- Sim... sou eu que a vou operar, o cirurgião sou eu.
Sustentei o olhar dele, absorvida pela curiosidade mas ele pensou que eu estava com medo pois disse muito depressa:
- Mas não se preocupe que eu já fiz mais de dezassete mil operações destas!
- Nunca ninguém morreu? - continuei eu sorridente e provocadora.
- Já... já morreram vários... mas não me pergunte porquê, morreram porque sim...!
- Claro, eu sei que os médicos não têm solução para tudo - continuei a olhar para ele.
Foi a vez dele ficar curioso:
- Vem de onde, de que Centro de Saúde?
- De Loures.
- Ah... é que hoje apareceram-me para aí uma data de doentes de outro sítio, você vem de Loures... - fez um gesto largo indicando que "a data de doentes de outro sítio" tinham sido difíceis de aturar e que eu não fazia parte desse grupo de chatos.

Que alegria, eu sou diferente... (sorriso)

2 comentários:

redonda disse...

Porque eu não sou nada corajosa, não seria boa ideia pedir uma segunda opinião?

Gina G disse...

Já ouvi várias, Redonda. Mas obrigada pela preocupação e pelo conselho. :)
A cirurgia em questão não é complicada mas há sempre riscos, como em tudo. :)