sábado, 29 de maio de 2010

Morreu tudo, pá! Porra! Só cá estou eu... Chiça! Eh pá... Só cá estou eu... Ai ai, ai ai!


Ele morre lentamente e eu assisto num misto de lamento e prazer.
Este meu sentir é vergonhosamente mórbido e crú, só que eu queria registá-lo. Este meu querer embala a vergonha e adormece-a. Ficam a morbidez e a crueza e com essas posso eu muito bem.
O senhor Rodrigues morre não tarda nada...

Noutro dia contou-me que foi à médica. Ao olhar as análises esta disse-lhe que ele tem uma coisa, uma única coisa, que não se pode curar: é alérgico à vida, não deseja viver. A mulher ia chorando, diz. E ele sabe disso, da alergia, do não-viver. E eu assisto-lhe a solidão: morreu tudo, pá! Porra! Só cá estou eu... Chiça! Eh pá... Só cá estou eu... Ai ai, ai ai!


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