terça-feira, 1 de março de 2011

Enti

Uma pessoa vê-os malucos e enche-se de uma paciência que afinal até nem tem. O Francisquinho é um desses malucos que uma pessoa atende mais humanamente do que realmente consegue. Só que às vezes a coisa fica verdadeiramente impossível, porque o bicho é assim:
«Ó Gina, filha, quanto é que custa isto assim-assim?»
O preço é anunciado...
«Ah... E isso é quanto, 'miga?»
Diz-se o preço partido em moedas e notas de modo a que o bicho perceba exactamente quanto custa: uma nota disto, uma moeda daquilo e nha nha nha.
«Ó Gina, filha, olha, quanto é que custa aquilo ali?»
Acho que já se percebeu que o bicho é chato e que dificilmente leva o negócio a cabo.
E o bicho continua...
«Ó Gina, olha 'miga, diz-me o preço de um champô enti-caspa, filha.»
Ai ai ai... Uma pessoa vê-os malucos e depois abusa porque uma pessoa também tem uma certa dose de loucura fervilhando e pronta a explodir a qualquer momento. Ai que é agora!
«Um champô enti-caspa?» 
Pergunto eu pronunciando devagar as palavras e dando ênfase ao enti.
«Sim, 'miga...»
«Ora bem... Um champô enti-caspa...»
«... que eu preciso tirar a caspa da minha cabeça!»
«Então, um champô enti-caspa custa... Eh pá, traz uma nota de cinco que ainda levas troco!»

1 comentário:

Manuel disse...

É uma bela observadora e consegue muita mordacidade nos seus escritos.
Adoro todas essas crónicas.