Tenho andado a pensar neste post porque entretanto reparei que não soube transpor para o texto o pequeno episódio que vivi, resumi tanto que fugi um pouco do assunto, não revelando bem a peculiaridade da situação. De certa forma vou reescrevê-lo:
Enquanto esperava a chamada ia-me distraindo com o ambiente da sala de espera.
Sentada ao balcão lá no fundo, a recepcionista questionava os utentes que iam chegando para assim preencher quadradinhos com dados no computador. Mais perto de onde me encontrava duas senhoras folheavam revistas antiquíssimas não demonstrando qualquer interesse no que viam nelas.
Lá de dentro veio um homem de bata branca esvoaçante por ter apenas dois botões apertados. Olhou imediatamente para mim, interessado. Tinha um olhar lindíssimo – claro e muito brilhante. No olhar vi-lhe também muitas outras coisas. Desviou-o quando chamou:
- Dona Maria Antónia e dona Irene da Conceição!
As duas senhoras que olhavam para as revistas levantaram-se imediatamente e foram ter com ele. Não era ainda a minha vez, deixei-me estar sentada e não desviei a atenção da presença dele. Entretanto pensei que tinha ali um doutorzinho irónico e malicioso, se era aquele que me ia calhar logo se veria.
Passados instantes ele apareceu outra vez e chamou pelo meu nome, olhava para mim com aquele olhar magnífico e cheio de muitas coisas. Encarei-o e enquanto me dirigia até ele sorri e sustentei-lhe o olhar que não desistia da ironia nem da malícia.
Lá dentro, no tal cubículo, deu-me as instruções para me fazer o raio-X adoptando uma postura profissional mas deixando uma fresta por onde saia qualquer coisa de sensual e místico.
Estou numa idade, ou numa fase da vida, em que este tipo de situação já não me apavora, até acho piada e actuo com naturalidade.
Talvez actue com naturalidade porque tenho um casamento sólido e feliz e não vai ser um belo par de olhos verdes e vorazes que me vai mandar dum abismo abaixo estragando toda a minha felicidade por causa duma queca furtiva. Existe uma facilidade tão grande para quecas furtivas que, de alguma maneira, já atingiu a normalidade perante a maioria das pessoas.
Eu, por mim, já que não me interessa tais vivências, mais não fiz do que dissecar o que vi de modo a desvalorizar a “qualquer coisa de sensual e místico”.
Enquanto esperava a chamada ia-me distraindo com o ambiente da sala de espera.
Sentada ao balcão lá no fundo, a recepcionista questionava os utentes que iam chegando para assim preencher quadradinhos com dados no computador. Mais perto de onde me encontrava duas senhoras folheavam revistas antiquíssimas não demonstrando qualquer interesse no que viam nelas.
Lá de dentro veio um homem de bata branca esvoaçante por ter apenas dois botões apertados. Olhou imediatamente para mim, interessado. Tinha um olhar lindíssimo – claro e muito brilhante. No olhar vi-lhe também muitas outras coisas. Desviou-o quando chamou:
- Dona Maria Antónia e dona Irene da Conceição!
As duas senhoras que olhavam para as revistas levantaram-se imediatamente e foram ter com ele. Não era ainda a minha vez, deixei-me estar sentada e não desviei a atenção da presença dele. Entretanto pensei que tinha ali um doutorzinho irónico e malicioso, se era aquele que me ia calhar logo se veria.
Passados instantes ele apareceu outra vez e chamou pelo meu nome, olhava para mim com aquele olhar magnífico e cheio de muitas coisas. Encarei-o e enquanto me dirigia até ele sorri e sustentei-lhe o olhar que não desistia da ironia nem da malícia.
Lá dentro, no tal cubículo, deu-me as instruções para me fazer o raio-X adoptando uma postura profissional mas deixando uma fresta por onde saia qualquer coisa de sensual e místico.
Estou numa idade, ou numa fase da vida, em que este tipo de situação já não me apavora, até acho piada e actuo com naturalidade.
Talvez actue com naturalidade porque tenho um casamento sólido e feliz e não vai ser um belo par de olhos verdes e vorazes que me vai mandar dum abismo abaixo estragando toda a minha felicidade por causa duma queca furtiva. Existe uma facilidade tão grande para quecas furtivas que, de alguma maneira, já atingiu a normalidade perante a maioria das pessoas.
Eu, por mim, já que não me interessa tais vivências, mais não fiz do que dissecar o que vi de modo a desvalorizar a “qualquer coisa de sensual e místico”.
Saí dali já preparada e enfiei-me no sítio que, achava eu, era a saída... mas não era. O mestre lá daquela coisa sai (ou entra, nem sei...) de uma daquelas portas que acho que já foram brancas e com o olhar brilhante de gozo disse-me:
- Para sair...? Experimente por este lado...
Não, não foi no chão que me enfiei. Foi mesmo no sítio que ele sugeriu...
- Para sair...? Experimente por este lado...
Não, não foi no chão que me enfiei. Foi mesmo no sítio que ele sugeriu...
Este pedaço de texto em itálico que copiei tem agora um significado diferente, não tem?
2 comentários:
Estes momentos são o sal da vida. pelo menos para mim.
Sim, estas coisas salgam a vida mas tem que se ter muito cuidado para não a salgar demais... ;)
Para além disto há muito mais coisas para temperar a vida, não achas?
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