segunda-feira, 7 de março de 2011

Lisboa, 7 de Março de 1994



Faz hoje 17 anos que cheguei ao balcão, estou quase a ser uma balconista (ah, como eu gosto desta palavra!) adulta.
Não sei se vou continuar balconista por muitos mais anos, por isso decidi registar o aniversário antes que não haja oportunidade disso. Sempre que passa este dia, 7 de Março, lembro o aniversário. Nunca o tinha mencionado aqui, e sei porquê, mas não vou especificar o(s) motivo(s), se o fizer corro o risco de este post ficar seriamente mau e desinteressante.
À parte todas as coisas (más) que envolvem a minha vida profissional, é com agrado que verifico ser através do balcão e afins que guardo tantas histórias, transformando-as depois em textos que publico no blogue. Não é a primeira vez que toco no assunto balcão / desgosto / prazer, esta é uma relação amor – ódio, pode dizer-se.

O meu blogue está cheio de acontecimentos, ideias, conclusões que nascem da relação cliente/balconista. Mas este blogue não tem nem um terço do tempo que tenho de balcão. O leitor poderá questionar:
– Então e antes do blogue, escrevias acerca do teu balcão? Do que presenciavas, das ideias que te transmistiam? Do que as pessoas te faziam concluir? Escrevias?

– Não, não escrevia. Escrevo agora.

A primeira coisa que me pediram foi cré. Fiquei apavorada, bolas..., ao menos pedissem qualquer coisa que eu conhecesse. Felizmente havia quem me ensinasse, claro.
Outra coisa gira foi logo nos primeiro dias vender uma bilha de gás vazia. Devo dizer que o cliente estava tão atento quanto eu, só reparou quando chegou a casa e reparou que a bilha não deitava gás...
'Olha que vendeste uma bilha vazia!' disseram-me. Ui, que pouca vergonha...
Passaram muito anos, fiz muitas asneiras e continuo a fazê-las: parto lâmpadas, vidros, estrago alguns materiais por distração, vendo coisas abaixo do preço porque confio na tola, esqueço-me de mandar vir isto ou aquilo pelo mesmo motivo. Sou humana. Falível, portanto. Mas sei que o cré é utilizado na construção civil e nunca mais vendi nenhuma bilha vazia...

Nos primeiros anos aprendi logo duas coisas acerca das pessoas:

'Não duvidar do que dizem...'

Por mais que custe convém deixar as pessoas falar, pode ser que escorreguem e se deixem cair, quem sabe...

'… nem as julgar pelo aspecto.'

Isto porque há grandes, grandes surpresas.

Quiçá, chegou a hora de o leitor me questionar outra vez:
– Então... Por onde andava o teu humor antes de teres criado o blogue?

Andou sempre aqui, na minha cabeça. Fui toda a vida espontânea e sempre tive o tipo de humor que tenho hoje, só não estava registado num blogue, nem eu própria era tão comunicativa como agora. A vida passa... Tudo se revela.

Já muitas coisas se passaram nesta vida de balconista: fui maltratada, ofenderam-me chamando nomes, mandaram-me a 'lugares' pouco ortodoxos, ameaçaram-me fisicamente.
Mas, e felizmente que assim é, também há coisas boas: se estou doente as pessoas sentem a minha falta, algumas sentem saudades, até, e mandam beijinhos, quando retorno sou bem recebida, reconhecem o meu trabalho e esforço, admiram-me pela simpatia, pelo apreço que lhes demonstro, pelo tempo que lhes dedico e pelo bem que as sei ouvir. Também recebo pequenas lembranças no Natal e toda a classe de mimos durante o ano inteiro: floresfruta, legumes, peixe, filhós, bolos, açúcar...


É a vida, é o mundo, são as pessoas. Se tudo faz parte, um balcão nunca poderá ser à parte disso.

E ponto final.

2 comentários:

nandokas disse...

Olá Gigi!
Gosto deste teu post.
E ainda mais do último parágrafo: "É a vida, é o mundo, são as pessoas. Se tudo faz parte, um balcão nunca poderá ser à parte disso."
Beijos

Gina G disse...

Obrigada, Nanadokas! :)