domingo, 14 de setembro de 2008

Verde Água

Como hoje é um daqueles dias que não sei que escrever andei por aí e fui parar ao meu primeiro blog. Relembrei os meus primeiros tempos de blogger, de como ficava embaraçada com a ideia de que alguém lia aquilo, da busca de companhia nas palavras, a minha busca nas minhas próprias palavras.

Num dos blog´s que li hoje mas do qual não me lembro o nome (sei que é imperdoável mas peço desculpa à mesma) estava a seguinte frase: se você se sente só é porque construiu muros à sua volta em vez de pontes.
Fiquei a pensar naquilo. A solidão que sinto é única e exclusivamente culpa minha. Não sei cativar as pessoas de maneira que elas gostem de vir à minha casa, desfrutar da minha comida e da minha companhia. Relaciono-me com as pessoas mas é porque sou obrigada a isso, não é possível viver completamente isolada. Quando aparecem oportunidades de fazer amizades mais sólidas ou mais íntimas eu encolho-me, tenho medo de me dar às pessoas. E assim, acabo por afastar as pessoas da minha vida. Isto porque tenho o péssimo defeito de levar tudo a mal, o que me dizem ou fazem. Travo uma luta quase constante contra este meu defeito... Acabo sempre por achar que as pessoas não gostam de mim o suficiente, então, tento não lhes dar importância e vou ficando cada vez mais fechada no meu casulo.
Já há muito tempo que eu me apercebi destas coisas que estou aqui a escrever agora e também sei que devia mudar. Só que quanto mais tempo passa mais difícil é mudar o meu comportamento. Sinto-me mal por me sentir só porque eu tenho tudo o que se possa desejar, tudo mesmo. Não me falta carinho, amor, saúde, casa, comida, conforto, enfim... eu tenho tudo, então porquê esta insatisfação?

(20 de Maio de 2006)

Quando releio qualquer coisa que já tenha escrito há muito tempo costumo sentir um certo desprendimento daquilo que senti e que me levou a escrever, às vezes até custo a crer que tenha sido eu a escrever o que estou a ler.
No entanto, neste excerto de texto não me sinto de todo deslocada com o que vivo hoje em termos de sentimento, ainda me sinto um pouco assim. Hoje tenho amigos reais e dou-me com pessoas da minha idade, saio e divirto-me com elas. Aqui, no virtual, também tenho amigos, aos poucos as pessoas foram aparecendo, umas de fugida outras porque gostam... mas vão aparecendo e agrada-me muitíssimo a companhia dos leitores.
Nunca fui muito comentada ou visitada e se calhar é por isso que sempre dei muito valor aos comentários. Hoje sei que escrevo para emitir o que quero que seja "ouvido". Se houver retorno, se houver resposta de alguém, é óbvio que terei a certeza que estou a ser lida. E eu gosto disso. É por isso que publico textos, publico-os porque gosto de ser "ouvida".
Mas, lá no fundo, esta solidão, este desacompanhamento que sinto por ser pouco lida, dá-me jeito. Inicialmente, se assim não fosse, rapidamente me sentiria inibida em publicar textos que exprimissem certas ideias e o facto de nunca andar por aqui muita de gente acabou por me dar coragem e uma grande abertura de mente, foi assim que a musa apareceu cada vez mais amiúde. Depois das dúvidas chegaram as certezas - se ninguém lia, paciência...
A seguir, comecei a ter certezas sem passar pelas dúvidas- eu quero escrever acerca disto ou daquilo "ainda bem que ninguém lê", pensava eu. Aprendi que não posso criticar o que escrevo, não posso ter medo do que vão pensar, não posso sequer esperar que leiam sem, no entanto, deixar de lado a ideia de que para nada servem as histórias se ninguém as ler...
Mas... eu comparo muito o impacto que o meu blog provoca na blogosfera à minha própria vida. O meu blog é um espelho de mim, da minha personalidade, e aquele excerto de texto fala de como afasto as pessoas porque não sei mantê-las, aqui acontece o mesmo. É raro haver alguém que cá fique. A culpa não é dos leitores, é minha...:

os textos são longos...
os temas são pessoais...
a escrita surge intimista...
e torna-se insignificante...

8 comentários:

dona tela disse...

Amoroso, amoroso é o post que acabei de fazer.

Muitos cumprimentos.

claras manhãs disse...

Engraçado!
fechei o meu blog anterior por ter visitas a mais.
Agora tenho menos do que o blog fechado continua a ter.
Uma maravilha!
Sinto-me que nem peixe na água!
Gosto também que me leiam, que comentem, mas se não o fizerem paciência, eu continuo a escrever o que gosto e o resto são cantigas.
O que é bom na blogosfera acaba sempre por ser descoberto.

Gina G disse...

Dona Tela:
Então e este meu post que acabaste de "comentar", que tal?

Claras manhãs:
O melhor mesmo é escrever o que se gosta e como se gosta. Se ninguém ler, paciência...

Patti disse...

Também tenho essa ideia do que deve reflectir um blog pessoal.
Se bem que pessoais são todos os blogs. Música, política, desporto, culinária, etc.

O meu também me revela, é um reflexo de mim, porque faço questão que o seja. Não teria sentido se fosse de outra forma.

Gina G disse...

Se contarmos aqui as nossas coisas sempre vamos ter o nosso reflexo, é inevitável.

redonda disse...

Gostei muito do texto todo, por ser intimista e por ser sobre a escrita, menos da conclusão final da qual discordo completamente.
Não sei muito bem o que atrai os leitores. Talvez possa ser algo como a divulgação ou ter-se tempo. Se for raro que alguém cá fique nunca poderia ser culpa tua ou do que escreves porque isso só poderia ter o efeito oposto.
Há três blogues, entre os quais o teu, que para mim se destacam pela forma especial de escrever, pelos temas e pela originalidade. E aos outros dois acabo por não ir com muita frequência porque fazem intervalos que desconheço entre textos e desabituo-me de passar por lá.
Por isso, penso que não há máximas, que existirão blogues com grandes textos muito visitados e outros com textos igualmente bons pouco visitados e o contrário também. O teu blog poderá ser um reflexo de ti pelo que revelas mas não vejo como poderia afastar as pessoas, mas sim atrai-las e a tua escrita não é nunca e de forma alguma insignificante!!!

redonda disse...

Como podes constatar sou uma fã muito veemente e crítica :)

Gina G disse...

Redonda, obrigada. Não sei que responder-te porque fiquei sem palavras...