quinta-feira, 31 de maio de 2012

Viagem

Dantes ia de metro até ao Parque das Nações (Lisboa). Lá chegada, comia um gelado exótico, uma combinação de manga e leite cremoso e adocicado. Entretanto olhava o esplendor do rio Tejo, pensando na vida estranha que tinha, fantasiando largamente, pousando o pensamento em lugares idílicos. E pessoas, também havia pessoas. Conversava com as pessoas mentalmente, agora me lembro.
No fim dos vários prazeres tinha boca lambuzada por fora e fresca por dentro, os pulmões limpos, os olhos cheios de azul e prata e o vendaval interior amainado.

Hoje não existe nada disso, esses dias são recordações longínquas. Mas concretas.
Hum, talvez ainda existam os diálogos imaginários, sempre há pessoas na minha cabeça. Não me acho diferente por isso, sei que somos todos assim.

Que maravilha!

A afirmação categórica 'eu lembro-me de si' faz maravilhas por uma balconista.
A pergunta 'lembra-se de mim?' destrona qualquer maravilha. Aparentemente ninguém gosta de me lembrar mas adora ser lembrado por mim. Menos mal.

?!

'Tampa para pipi-pipi', foi o que o estrangeiro pediu. Fui buscar um tampo de sanita. Não era. Pipi-pipi, dizia ele apontando para a boca duma botija de gás. Fui buscar um redutor. Não era. Pipi-pipi, repetia ele, e, felizmente, ó glória terrestre, mostra-me um cartão da BP. Ah!... Gás Bê Pê! Disso não tenho, 'migo.

31

Hoje metemo-nos num 31 do qual sairemos dentro de horas.

Reabertura

Às 15 horas tinha um magote de atrasados mentais à minha espera. Literalmente. Eram adolescentes duma instituição qualquer e andavam todos na rua, passeando, um passeio de escola, ou algo assim, presumo. Andavam eles e uma espécie de mãe, chamavam-lhe mãe. Esta mãe queria um bidé de plástico para fazer as vezes dum vaso, ia apetrechá-lo com belas flores e pô-lo quintal, gosta da forma deste objeto, diz que é gira.

O joelho da Laurinda

Laurinda, a velhota modernaça, ia falando das maleitas dum e doutro, bem como das dela própria. Diz que teve um irmão que foi operado ao joelho e passado um ano e meio morreu. Há dias leu um artigo duma doutora qualquer que diz estar provado que as pessoas operadas ao joelho morrem passados 18 meses, por isso ela não quer ser operada aos joelhos. O médico quer mas ela não quer. Olaré!
E é só isto. Eu queria deixar o leitor a pensar na teimosia da Laurinda infinitamente. Não vos vou pedir que me digam se efetivamente ainda estão a pensar, não. Podem sossegar.

Dias de um ginásio

Entrei na sala de Pilates, estava vazia, o que me oprimiu os sentidos. Estranhei a minha reação, eu até gosto de solidão e lugares vazios... Afugentei a opressão, fui buscar o colchão, estendi a toalha e deitei-me de mãos na nuca, descontraidamente. Por causa da opressão fixei-me no imaginário, fazia de conta que estava na praia, pronto. Havia sol na parede, havia água numa garrafa e até com o som dos carros eu podia baralhar a cabeça, podia pensar que era o som do mar.
Passados pouquinhos minutos chegaram as pessoas, dentre elas, o senhor professor, o ilustre profissional do físico.
'Vamos trabalhar? Rabo chegado à frente, pernas dobradas, mãos atrás das coxas, desce a lombar lá atrás engolindo a barriga...'

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A montra-espelhada

Uma morena alta com ares de puta rebelde arranjava o rabo-de-cavalo usando o reflexo da sua figura no vidro da minha montra. Tinha as pernas um pouco afastadas, os glúteos apertados e ligeiramente espetados e os braços altos, mexendo nos longos cabelos, o que lhe conferia um ar sexual. Passou um velhinho que olhou demoradamente para os cofres que estão expostos na minha montra, já que é material para ter resmas de interesse...

O volante

Vínhamos os quatro no carro. Apeteceu-me agarrar no volante, vibrar, dominar, controlar. Anuindo à minha vontade o Luís parou o carro numa paragem de autocarro e trocámos de lugar. Cheguei o banco à frente e amanhei os espelhos. Será que ainda sei conduzir, pensei eu. Não demorei nada de tempo a esquecer a dúvida, arranquei normalmente, como se conduzir fizesse parte do meu quotidiano. Depois acelerei um bocadinho e ia falando e rindo alegremente com a família, que eu, sei lá porquê, quando conduzo falo mais do que quando sou conduzida. O Luís ia fazendo referência à velocidade e tal, como quem não quer a coisa, olha aí as curvas, tu vê lá, fingindo-se mais descontraído do que efetivamente estava. Ah e tal, as pessoas que não conduzem habitualmente têm mais tendência para acelerar e coiso, é mesmo assim, para nós que estamos habituados não é tão emocionante e mais não sei o quê. Eu ria-me muito e ia conduzindo destemidamente, muito embora demasiado veloz, confesso, e cheia daquele prazer malvado que faz tão bem... Vai daí, lembro-me de perguntar aos ricos filhos que tal se sentiam com a mãe ao volante. O rico fiho diz simplesmente: 'bem' e a rica filha vai um pouco mais além e meio pensativa diz: 'hum, é mais divertido...'

A minha historinha

O livro que contém a minha historinha tem quinhentas e oito páginas. Escrevo o número por extenso para não desencorajar os possíveis compradores bem como os presumíveis leitores, acho que as letras quando decifram números lhes retiram algum valor.
Também sei que somos noventa e um autores (presumo que já tenha anunciado este número algures no blogue) e que a coletânea está preparadíssima para a impressão. Ou seja, ninguém me mandou o meu texto revisto para aprovação prévia... Pode ser que não lhe tenham sequer 'mexido'. Ou por outra, será que alguém o leu? Será que se enganaram na pessoa e afinal é outra Gina qualquer?!

Antigo

Os antiquários estiveram aqui a mexer em tudo e a moer-me a cabeça com perguntinhas parvas e graçolas absolutamente desengraçadas. Esta gente do entulho é assim: curiosíssima e não compra porra nenhuma, uma vez que só vendo coisas a estrear.

Dias de um ginásio

Fui à aula de stretching. No final diz a professora:
'A Gina está muito melhor!'
Ela queria dizer que eu agora estico-me mais, vou lá à frente, as mãos alcançam uma lonjura como nunca antes. Não me desmanchei, retorqui que sim senhora, estou muito mais flexível, enquanto na minha cabeça pairava o pensamento oposto. Depois, no balneário, vira-se para mim uma colega de aula e exclama:
'Está quase a fazer a espargata!'
Não aguentei mais a fachada de senhora possuidora de sólida autoestima e digo com grande espanto:
'Acha?!'

Dia da...

Ouvi na radio que hoje é o dia mundial da doença. Mundial, ou internacional, ou lá que é.
Hoje não estou doente. Estou muito grata por isso, é um grande consolo.
A saúde é o melhor de tudo, diz quem não a tem. Não estou doente.
Não estou doente, se bem que com um post destes... Se duvide.

Monólogo da mulher dos gelados

Veio aqui fazer-me um questionário qualquer acerca de gelados. No meio das perguntas metia comentários concernentes ao tema, efusiva e um tudo-nada metediça:
Já viu o quiosque da alameda? Ai eu gosto tanto de gelados! A senhora este ano ainda não comeu nenhum gelado de pauzinho? Não?! Não me diga! Mas não gosta de gelados? Eu como um todos os dias! Daqueles do pauzinho!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Explosões

Esmagamento

O projeto de que falei lá atrás no tempo anda a dar-me cabo da cabeça. Oh céus! É esmagador, asfixiante. É muita alma; muito amor; muita dedicação; muito interesse; muito eu. É uma canseira. Oh céus!
A vida não se devia cingir a isto de escrever, há tanta coisa por aí, à espera de alguém que as viva. Oh céus! E a baralhação que é?! Acho que estou apaixonada, ou lá que é, quando é assim tudo fervilha, não consigo passar sem escrever.

Asfixia

Leio há muitos anos. Com interregnos, é certo, mas já lá vão décadas.
Escrevo regularmente há pouco mais de meia dúzia de anos.
Só hoje descobri que paro a leitura para escrever, leio um livro e escrevo as minhas coisas (quase) simultaneamente → escrevo, penso e leio. Esta é a ordem decrescente. Dou primazia à escrita, indubitavelmente. Sou mais escritora que leitora. Estou sempre a escrever. É mesmo verdade: eu escrevo ininterruptamente. Às vezes estou extenuada da tola... Parece que vai haver uma explosão qualquer. Bum.

Balanceio

Por causa dos últimos ‘Diálogos’ devo dizer que há pessoas que me desconcertam. Não é surpresa, é desconcerto mesmo, rodopio, desarrumação interior. Só queria dizer que é uma boa sensação, gosto deste balancear.

Diálogo por causa dos vasos

Ah, se calhar levo este, que é que acha?
A senhora é que tem de decidir.
Eu sei, eu estou a falar sozinha.
Compreendo, nós comerciantes temos a ideia de que é preciso dizer alguma coisa, é da profissão. Já viu o que era a senhora falar e eu ficar especada a olhar para si?
Mas eu também estou a falar consigo! Não sei se leve este vaso ou este, que é que acha?

Diálogo ao telefone

Nota prévia: no pequeno diálogo que se segue as questões são feitas por alguém que pesquisou drogarias na lista telefónica, portanto é alguém que desconheço completamente.

Quem fala?
É a Gina.
Olhe, a rua tal é em Campo d'Ourique?
Não...
Onde é que senhora está?
Em Lisboa.
Mas Campo d'Ourique também é em Lisboa!

Diálogo com o 29

Ó dona Delmira, ajude-me lá, a senhora que é uma jovem: que dia é hoje?
Então a menina não sabe que dia é hoje?!
Não, diga lá que eu não me consigo lembrar...
É terça-feira!
Não é isso, é o dia do mês!
É 29! Ai esta menina...

Diálogo inclassificável, para não dizer 'conversa parva'

Olha o senhor... Ai, não sei o seu nome.
Rui.
Veja lá que eu pensava que se chamava Joaquim.
Não, sou Rui.
Então você não pertence àquela gente dali?
Não.
Hum, então trabalhou lá...
Isso!
E o senhor de lá é que se chama Joaquim...
Sim.
E você é o senhor...
Rui.
Muito prazer, o meu nome é Gina!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pensamento perdido

Existir apenas um leitor ávido é quanto baste para dar impulso a este estranho ato de escrever. Mesmo que esse leitor seja uma leitora: eu.

Visão

Passei junto a uma porta gigantesca e austera, um portão, vá. Senti-me oprimida com a visão, o medo instalou-se e imaginei-me fugindo dali.
Ora acontece que não posso contar a ninguém este medo estranho sob pena de ser posta de parte pela sociedade e inclusivamente pelos amigos. Não estou a exagerar, as pessoas põem de parte quem sai fora dos eixos, o desconhecido fragiliza-as, será a sua vez de sentir medo, um medo que jamais confessarão, ah pois, será a sua vez de fugir subtilmente, oh sim.
Contando a este e àquele 'olha, já viste o que me aconteceu: eu tive medo dum portão grande e senti uma vontade irresistível de fugir, diz-me que isto é normal, ajuda-me', eles nunca mais me quereriam ver por perto, é tão certo como faltarem cinco minutos para daqui a bocadinho.
Não obstante, alegra-me de sobremaneira ter um blogue, porque num blogue a gente revela ao mundo inteiro o que não podemos confessar aos amigos.

Profissão

Se eu não tivesse esta profissão teria outra. Hum, que saber magnífico, que conclusão extática... Estou aqui que não posso, tal é o deleite que sinto.
Pois é.
Se eu não tivesse esta profissão, pela qual não morro de amores – é assim que costumo referir-me ao (des)interesse que nutro pela dita – não experimentaria certas vivências, aqui aparece todo o tipo de pessoas, um balcão é o mundo, tão somente. Veja-se o caso do raminho de flores (clicar aqui), por exemplo.
Conversei com a rica filha acerca das estranhezas de determinada pessoa e ela muito espantada perguntou-me se realmente existem pessoas assim, concluindo depois que as mesmas afinal não aparecem só nos filmes, existem realmente.

'A arte imita a vida' (Óscar Wilde) e não o contrário...

Existem sim, rica filha, acredita. É por isso que tenho a vida facilitada, uma vez que gosto de escrever, tenho o balcão e ainda a benesse de entrar na casa dalguns clientes, o que me permite observar as pessoas numa vertente particular e genuína, e portanto, assaz reveladora.
Sou uma privilegiada, bem sei.

À porta

Esta manhã tinha caca de cão à porta da loja. Diz que significa dinheiro mas eu cá acho que só significa que já havia merda antes de eu chegar.

Adenda*

(*a este post)

Talvez se entenda o fulcro mas sinto que a importância está no que o envolve.

É comum eu
visualizar / sentir
pontos de interesse nas
pessoas / situações
no que as envolve
e não no fulcro.

A voz

Falei com uma senhora (ou então foi uma senhora que falou comigo, não sei) onde decifrei uma voz absurdamente irritante. O absurdo é não me ter sentido irritada. Presumo que ao som daquele embalo estridente eu tenha ficado calminha porque agora estou estupidamente inteligente. 'Estou', leia-se 'estou', fazendo o favor.

Ricochetes e assim

'Quem vai à guerra dá e leva';
'Na boa cama que fizeres te deitarás';
Quem diz o que quer ouve o que não quer'.

C' est tout la même chose, pas vrai? Ou seja, e basicamente - basicamente como diria a saloia - é tudo a mesma merda.

Que bom

É bom ver as pessoas chorar de alegria com a minha chegada e depois tratarem-me extremamente bem, como se eu fosse exclusiva. Ou ser realmente exclusiva e particularmente amada. Que bom.

Nota: eu sei que não se percebe nada do que escrevi acima. Mas sendo que sinto o imperativo de registar... Registei.

Podia ter escrito

Podia ter escrito que fui aos caracóis e às caracoletas e a uns bivalves dos quais desconheço o nome. Comi-os prazerosamente.
Podia ter escrito que estava tudo divinal, passando ainda pelo pão torrado, a manteiga d' alho e o vinho branco com bolhinhas que fazem cócegas na garganta e rubor nas faces.
Podia ter escrito das conversas, ainda me lembrei de tomar breves apontamentos, já que é esse o meu costume, quanto mais não seja dentro da minha cabeça. Não o fiz.
Podia ter escrito que no dia seguinte estava cheia de ranho. Seria dos caracóis?! É que estava mesmo congestionada...
Podia ter escrito do espaço fantástico que conheci em Lisboa:
biblioteca + livraria + pianista ao vivo + exposição de gravuras + bar + discoteca = Fábrica do Braço de Prata.
Podia ter escrito que adorei a música; podia ter escrito que tenho mais um livro, podia ter escrito um convite reforçadíssimo a quem possa e queira visitar este espaço cultural, pois valerá a pena. É bonito e agradável por dentro e por fora.
Podia ter escrito, podia ter escrito, podia ter escrito.
Podia ter escrito outras ideias além das que acabei de escrever.

Leitura terminada

«‘Escrevendo? É um diário?’
Uma das enfermeiras ao meu lado tentou ver o que eu escrevia no caderno. Minha letra é tão indecifrável, talvez porque eu deteste escrever à mão, que nem me incomodei com a sua curiosidade.
‘Não. É um livro de sonhos.’
‘De sonhos? Que interessante. O senhor sonha muito?’
‘A noite inteira.’»

Terminei mais uma leitura: ‘Diário de um fescenino’, Rubem Fonseca. Este livro foi lido num instante!
Gostei. Gostei muito, muito, muito deste livro.

• Da forma hábil como o autor escreveu a intimidade masculina, tornando um diário num livro agradável, uma vez que os diários correm o sério risco de se tornarem aborrecidos.

• Do drama que o escritor descreve, levando o leitor a perceber que a escrita é indissociável da vida real, ainda que se contem histórias ficcionadas. Os escritores baseiam-se no que observam da vida real, retiram apontamentos de situações e as características dos seus personagens são muito próximas às pessoas que efetivamente conhecem.

Estas questões fizeram-me refletir bastante. Eu já sabia que escrever não é de todo agradável e neste livro percebi que se pode mesmo ser acusado das próprias criações literárias, ainda que se escreva ficção.

sábado, 26 de maio de 2012

Receba as flores que lhe dou!

Não dei o devido valor, ou não a soube (d)escrever como ela merecia. Falo duma senhora que há dias me disse (clicar aqui) ter descoberto que escrevo, alguém lhe dissera. Ontem apresentou-se-me aqui com um singelo raminho de flores colhidas havia minutos no seu quintal.
‘Dê cá um beijinho e tome lá!’ Estende-me meia dúzia de fetos e uma flor alaranjada que não sei nomear. ‘De uma pintora para uma escritora!’
Fiquei estarrecida com tamanha amabilidade. Ainda lhe disse que não sou escritora, nunca publiquei um livro, não passo duma mera escrevente... Ela volta de lá categórica:
‘Ora essa, é escritora sim, isso de escrevente é uma coisa que não existe. A senhora é escritora!’
Ainda me fez mais uma série de observações elogiosas, de artista para artista, às quais não estou lá muito habituada, há que dizê-lo. Embasbacada, pensei em dizer-lhe o quanto estava sensibilizada mas o que me saiu foi ‘obrigada, minha senhora, ai eu até estou toda maluca!’

É assim, a vida pregou-me uma partida. Há largos meses que ando a arranjar coragem para deixar de escrever. Escrever é ruim, às vezes faz-me mal, deprime-me. Escrever também transforma tudo, contrariando essas ideias, eu preciso de escrever para bem da minha saúde mental. Isto é muito confuso, é algo que não sei combater nem consigo controlar, o que me faz sentir insegura.
E depois quero deixar a escrita radicalmente.
E depois acontecem-me estas coisas.
E depois...
A escrita acaba por ser um balanceio preciosíssimo na minha vida, equilibra-me as vontades.
E depois…
Prossigo, escrevendo.

Ferramenta manual: paquímetro

A diferença entre mecânicos e engenheiros não é apenas unhas sujas de óleo ou então não. Há mais: os primeiros dizem peclisse, os segundos chamam paquímetro.
Já os ferrageiros sabem ainda que pode chamar-se craveira ao paquímetro e que o nome Peckliss é uma marca que comercializa (ou comercializou, neste caso ignoro se é presente ou passado) esta ferramenta de precisão que desgraçadamente caiu na vulgaridade de ser apelidada de peclisse.

Sábado

Hoje é sábado, estou no local misterioso, aqui a musa desce amiúde e mais intensamente do que em qualquer outro sítio. Portanto, contrariando os últimos sábados deste blogue, e com vossa licença, daqui escreverei.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Trocos

Se estar 'toda trocada' é um estado que efetivamente existe, então eu hoje estou num dia desses.

?!

O que achas do nome Alcides?

O que achas do nome, Alcides?

Criando algo

Escreve aí!
Tem de ser uma criação do momento?
Sim.
Ok... O mistério do saco desaparecido é tão denso que não se deixa escrever.

Sem título

Está escrito no livro, como dizem os crentes!
Ah, pois está escrito, está! E eu sei que a senhora também escreve, disseram-me! Eu já desconfiava...
Porquê?!
Por causa duma coisa que a senhora disse num dia em que foi lá a casa.
A sério?!

Hum, então está bem. Às vezes sou desmascarada...

Fuga para a verdade

Ai, só me apatece é fuzir!
Então foze.
Também posso fuzir sozinha, não achas?
Ui, às vezes é quando se fode... foze melhor.

Convite

Olha eu para o meu colega:

– Não queres um café e o caraças?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A faladora

A dona Genoveva diz que não gosta de falar mas está muito sozinha, isso sim, pede que não a ajude aquando das paragens do acelerado monólogo pois ela não se perde nas conversas, antes procura as palavras certas, mas não por falta de vocabulário, às vezes até lhe vem à cabeça palavras difíceis mas não as usa pelo facto de o interlocutor poder eventualmente não as entender. 'Olhe, vê?', continua ela, ‘Interlocutor. Se bem que interlocutor não é uma palavra vernácula...'

Aqui tenho de parar, creio que vernácula* tem a ver com verdade, verdadinha, verdadeira.

Tem pois. Acho que posso ir tomar qualquer coisinha com a dona Genoveva, sei umas coisas do dicionário.
Ela convidou-me, ou anunciou o desejo disso, por assim dizer. Hesitei e agradeci a espécie de convite e deixei no ar que um dia desses e tal a gente vê-se. 'Olhe, a Gina não me diga que sim que eu depois cobro! Costumamos encontrar-nos ali assim às tantas horas, um dia vamos tomar qualquer coisinha.'

Hum, tenho de mudar de esquina... A dona Genoveva é boa senhora mas não sabe conversar, um encontro entre nós passado numa mesinha de cafetaria será entediante para uma das partes: eu.


*Vernácula

Adjetivo

1. Próprio do país a que pertence. = NACIONAL
2. [Figurado] Genuíno, puro (falando-se da linguagem).
3. Correcto, com pureza no falar, no escrever.
s. m.
4. Língua própria de um país.

Letras

Queria fazer um post giro onde referiria com mestria literária que 'opinar' e 'pinocar' são palavras compostas com as mesmas letras.
Isto até ao dia em que descobri que o 'c' do pinocar está a mais. Assim que descobri fiquei sem poder desenvolver esse assunto, mas não fiquei sem um post.

A voz

Parece que está a recitar 'Foste a 30 de fevereiro dum ano por inventar', a canção sobejamente conhecida do Vítor Espadinha, mas não está, apenas pede um betume para parede. Tem uma voz muito bonita, é profunda e grave, a dicção é puramente perfeita. Parece o Vítor Espadinha. E é só.
Vendi-lhe o betume dando uso à minha voz que desgraçadamente se insere nos parâmetros da vulgaridade, claro que sim.


Recordar é Viver

Foi em Setembro que te conheci
Trazias nos olhos a luz de Maio
Nas mãos o calor de Agosto
E um sorriso, um sorriso tão grande
Que não cabia no tempo.
Ouve, vamos ver o mar
Foste 30 de Fevereiro de um ano por inventar
Falámos, Falámos coisas tão loucas
Que acabámos em silêncio
Por unir as nossas bocas
E eu aprendi a amar

Sim eu sei, que tudo são recordações
Sim eu sei, é triste viver de ilusões
Mas tu foste a mais linda história de amor
Que um dia me aconteceu
E recordar é viver,
Só tu e eu.

Foi em Novembro que partiste
Levavas nos olhos as chuvas de Março
E nas mãos o mês frio de Janeiro.
Lembro-me que me disseste que o meu corpo tremia.
E eu, que queria ser forte, respondi que tinha frio.
Falei-te do vento norte
Não, não me digas adeus.
Quem sabe, talvez um dia...
Como eu tremia, meu Deus
Amei como nunca amei
Fui louco, não sei, talvez mas por pouco,
Por muito pouco eu voltaria a ser louco
Amar-te-ia outra vez

Sim eu sei, que tudo são recordações
Sim eu sei, é triste viver de ilusões
Mas tu foste a mais linda história de amor
Que um dia me aconteceu
E recordar é viver,
Só tu e eu.


Vitor Espadinha

Fonte: http://www.vagalume.com.br

90

O nonagenário lúcido e desenvolto pediu-me que lhe dissesse onde é a Junta de Freguesia dos arredores. A dona Luísa, que estava de visita a este espaço comercial, disse que ia para esses lados e gentilmente ofereceu-se para acompanhar o dito cavalheiro. Este não quis, recusando perentoriamente. Entre recusas e reforços das mesmas, a dona Luísa nem o ouvia, piscou-me o olho com malícia e num sussurro diz:
'Vou com o velho. Ainda se fosse novo...'
Eu podia ter-lhe respondido:
'Pois é, mas olhe que o velho não quer nada consigo!'
Mas não respondi.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Liberdade

Não é que o olhar ou o pensamento ou o escrever no blogue sejam atos completamente livres... Eu é que gosto de pensar assim, dá-me jeito.

Tenho amigos...

Tenho amigos que nem sempre são meus amigos. Tenho inimigos. Sou uma pessoa na qual a bitola da normalidade – conquanto exista essa tal de normalidade - encaixa perfeitamente.

Promoção

Não tenho queda para promoções, se em particular me refiro à minha pessoa e às minhas experiências.
Hum, isto está confuso, eu explico: não sei promover a minha escrita, contenho-me, não a mostro, não a divulgo. Preciso dum empresário...
Devia cingir-me à parte artística desta questão, escrever por prazer, somente. Mas existe uma palavrinha muito importante neste meio escrevente: partilha. É preciso outras pessoas, é imperioso haver leitores... Oh céus! (Suspiro profundo.)

Lamentavelmente

Não tenho muitos desgostos ou lamentos, mas tenho um que me afeta de sobremaneira: ser extremamente boa em coisas vãs e inglórias.
Sinto-me um tanto ou quanto fútil. Então... Para combater a inércia, escrevo.

A não-sei-quantas

Estou de novo estupidamente inteligente. Não sou, estou. Leia-se 'estou', façam-me esse favor, vá.

Acho que ...

… Clientes ansiosos e/ou deveras hesitantes não se devem acanhar em perguntar o que os moveu até aqui.

… Primariamente desconheço o que os clientes querem, portanto não deviam iniciar o diálogo com a parva introdução 'ai, eu não sei o que quero!'

Pois na primeira situação eu retorquirei destemidamente 'não se acanhe, pergunte o que deseja' e na segunda direi sem refrear que 'eu também não sei'.

Virtude

«... Minha atenção foi despertada por uma mulher atravessando a rua apressadamente, com aquele jeito de alguém se escondendo. Era Virna, ela deve ter-me visto e passou para o outro lado, para não se encontrar comigo. A visão de Virna me deu vontade de foder. Sei que parece uma loucura, uma coisa incoerente, a mulher que está desgraçando a minha vida me despertar esse sentimento de amor e não de ódio, mas o ser humano normal não é coerente, muito menos um escritor, a coerência não é uma virtude literária. A única virtude do escritor é a coragem de falar as coisas que não pode falar.»

'Diário de Fescenino', Rubem Fonseca

Página 160

Lar lisboeta; vista sobre Lisboa

Há um centro de Natal com velas brancas e o pavio queimado; há pratas areadas aqui e ali; há plantas altas com as pontas secas arrumadas a um canto; há uma carpete roxa com cornucópias amarelas vivificando o classicismo de toda aquela divisão.
Da varanda vê-se o antigo Convento de Arroios e um dos recomeços (ou fins?!) da rua Alves Torgo.
Há pombos nos beirais; há pombos nos fios elétricos; há pombos nas varandas; há pombos, pombos, pombos; há bandos de pombos voando num frenesim próprio do fim de tarde.

Não há fotografias, não creio serem necessárias. E o leitor, sente falta de imagens?

Letras

O meu colega pediu-me para manuscrever um documento sem oficialidade (uma raridade hoje em dia), diz que tenho uma caligrafia bonita. Escolheu bem o dia, eu ontem estava bem-disposta, incrivelmente os rabiscos saíram redondos e certinhos, bem apresentados.
Gosto desta calmaria, há dias em que não suporto escrever no papel, a caligrafia sai-me desalinhada e difícil de perceber. Mas ontem não, ontem marquei a diferença.
E hoje?!
Hum, vou ali manuscrever e já volto.

Fado ou Poesia

Um dia deu na radio a Lenita Gentil cantando 'Preciso de espaço'. O meu pai comentou a poesia, achou interessante o poema referir a necessidade de haver espaço para a raiz crescer saudável. Perguntou-me se eu sabia o que aquilo queria dizer, respondi afirmativamente e expliquei com o parco vocabulário que possuía que uma raiz não tendo espaço para crescer atrofiaria, o mesmo acontecendo com as pessoas, a gente precisa de espaço para viver.
(Era uma metáfora, portanto. É poesia.)
À época eu não tinha mais de treze ou catorze anos, no entanto possuía maturidade suficiente para perceber a frase dum poema, afinal não era assim tão infantil...



PRECISO DE ESPAÇO

Preciso de espaço
Para ser feliz
Preciso de espaço
Para ser raiz

Ter a rede pronta
Para o mar de sempre
Ter aves e sonho
Quando a terra escuta
E falar de amor
Aos tambores da luta

Ter palavras certas no sol do caminho
E beber a rir o doirado vinho
Misturar a vida, misturar o vento
E nas madrugadas
Quando o povo abraço
Para estar contigo, preciso de espaço
Preciso de espaço
Para ser feliz
Preciso de espaço
Para ser raiz

Caminhar sem ódio
Falar sem mentira
Ter meus olhos longe
Na luz de uma estrela
E ser como um rio
Que se agita ao vê-la

Ter palavras certas no sol do caminho
E beber a rir o doirado vinho
Misturar a vida, misturar o vento
E nas madrugadas
Quando o povo abraço
Para estar contigo, preciso de espaço

Ter palavras certas no sol do caminho
E beber a rir o doirado vinho
Misturar a vida, misturar o vento
E nas madrugadas
Quando o povo abraço
Para estar contigo, preciso de espaço

Letra retirada deste linque

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Tenho um amigo...

Tenho um amigo que se mostrou admirado quando percebeu que eu não reparara em determinado facto, uma vez que reparo e vejo 'tudo'. Respondi-lhe cheia do meu saber:
«Sei que sou uma pessoa muito observadora mas não dou conta de tudo o que me rodeia, sempre há pormenores que me escapam. E ainda bem que é assim, adoro surpresas, é devido a essas surpresas que tenho histórias para escrever. E agora venha de lá o Lobo Antunes ou algum dos seus contemporâneos, ou ainda o defunto Pessoa ou mesmo o ancestral Camões dizerem que não é assim!»

Tirar fotografias

Comprei um conjunto de pilhas para usar na máquina fotográfica. A ideia de aproveitar uma promoção nem me deixou pensar bem na compra, ao presente raramente tenho vontade de fotografar, às vezes lá tenho um rasgo mas logo esmorece.
Há dias tive um desses rasgos de vontade, era intenso mas tinha de me pôr no meio da avenida, de costas para os carros, o que era má ideia. Sei que seria uma fotografia bonita, um varandim alto lá ao fundo, numa outra avenida, as árvores agora frondosas fazendo como que uma moldura envolvente e verde, sendo que o varandim e as árvores se distam várias centenas de metros.
Um dia subo àquele varandim desafogado... Já falei com o dono do prédio e ele diz que me leva lá, temos é de combinar. O porvir é algo que me move e alenta.

Complemento*

*(ao post anterior)


Recordar o tipo de miúda que eu era no pátio da escola trouxe-me outra recordação, a vida entrelaça-se e uma recordação leva a outra.
Há dias a rica filha revelou-me algo desgostosa que lembra os nomes completos dos colegas, data de nascimento, turmas a que pertenceram, quem era colega de quem e em que turma lecionavam nos mais variados anos. Confessa-me que às vezes fica aborrecida porque acaba por dar uma atenção desmedida a factos que ninguém valoriza e portanto não obtém retorno da mesma espécie. Isso é duma solidão...
Sou igual. Se isso é genes então ela tem os meus. Estendi-lhe a mão como se a quisesse cumprimentar dando-lhe as boas-vindas ao clube dos coitadinhos e desgraçadinhos que têm características inglórias. A mãe sabe como é, rica filha...

A miúda

Eu era uma daquelas miúdas mal-amadas e pouco desejadas. Ficava sempre para última nas escolhas de equipa, no jogo do bate-o-pé ninguém me batia o pé, nas festas do final do ano letivo ninguém queria dançar comigo e raramente me convidavam para algo.
Tenho um certo trauma com essas memórias, a adolescência é uma fase de desmantelamento do imaginário infantil, começamos a ter consciência das injustiças da vida, e ainda nos vemos num corpo mutante e a gente a querer tanto (mas tanto!) ficar como antes. Em suma, é uma fase muito violenta, um verdadeiro calvário.
Tenho o trauma (pequenino, pequenino) mas hoje sei que o facto de não me convidarem para isto ou aquilo seria provavelmente por eu não me dar a ver e a conhecer. Sou adulta, já vivi o que vivi, sei que a porra da reciprocidade também vive e é uma duríssima realidade. Ou me mostro ou me deixo estar caladinha e sossegadinha, recebendo a mesma atitude de volta, que a vida é um bumerangue.

O vendedor

Naquele dia o senhor António não estava lá muito conversador. Despachei-o rapidamente e depois ele deixou-se ficar um tempo. Calado, ia observando as minhas prateleiras. Calada, eu, ia-o observando de soslaio.
Sou uma mulher de muitos silêncios mas há alguns que me constrangem, em particular se partem de pessoas que não se silenciam frequentemente.

Sábado

Tenho trabalhado aos sábados. Comecei no sábado anterior a este último e hei-de continuar nos próximos dois ou três.
Isto acontece por motivos absolutamente desinteressantes.
Ou talvez não, talvez eu seja uma funcionária excecional ou especial, o que me transforma em alguém sumamente interessante. Não tenho essa certeza mas gosto de pensar que sim.
Mas hoje é segunda-feira, bem sei. Hoje é segunda-feira, dia de a empregada do primeiro andar do prédio defronte pôr os cobertores e as colchas à janela, apanhando o fresco matinal.

Oh, desventuradas damas do futuro!


'Diário de um Fescenino', Rubem Fonseca

Página 108


Viúvas

Esta rua tinha uma viúva de luto, triste pela perda mas contente com o que lhe resta da vida. Agora na rua passam outras duas viúvas de luto e tristes, muito mais velhas que a primeira, na réstia da vida.
Esta rua tem três viúvas de luto. E era isto, resumidamente.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quase

Ia sendo atropelada. Não fui. Estou muito viva, portanto, não simplesmente viva.

A bem-vestida

À laia de elogio diz ela assim:
– Vê como fica tão bem com goupas clagas e peguimaveguis?!

Se o leitor necessitar de tradução para o que está grafado em itálico deixe-me sabê-lo através da caixa de comentários, que eu apraz-me descodificar tolices enigmáticas.

Sutiã

Uma mulher de sutiã vermelho às bolas brancas passou no átrio. Por cima usa uma blusinha clara e transparente, por isso sei a cor da roupa íntima.
As mulheres são umas exageradas, não é preciso tanta exposição, os homens olham para todas com um interesse desmesurado quer sejam feias, giras, bonitas ou lindas. Todas. Pode inclusive tapar-se tudo... Que eles olham na mesma.

«Para que uma mulher se sinta bem, são mais importantes os olhares dos homens do que as calorias e os medicamentos.»

Françoise Sagan in 'A Oficina dos Escritores' de Francis Amalfi

Estive a ouvir o piano...

Estou a ouvir piano ao vivo, meio ausente. Não sei o que tenho presente, se o corpo se o espírito. O pianista está de t-shirt, estranho.

?!

Tenho de ter uma razão para escrever?
Não poderei apenas depositar frases no blogue?
Tenho de explicar porquês, especificar motivos?

Não, ?
Ai, que bom!

Erro de digitação

Há momentos em que não sei escrever. Pouco me importa se a mulher do chapeuzinho percorre a rua com passo acelerado demais para a idade ou se o maluquinho de arroios tem os auscultadores nas orelhas e dança no meio da rua.

Amarelo

Vesti-me de amarelo novamente. Desta vez na parte de baixo. A saia, quero eu dizer. Gosto de amarelo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Língua

Noutro dia escrevi um post onde referia que o Gualter 'fala' a mesma língua que eu. Quando escrevi dei a ver que ele é porventura a única pessoa que conheço com essa capacidade. Não quis juntar outras pessoas ao post, queria que o mesmo pertencesse unicamente ao Gualter, o post era dele.
Existem outras pessoas, afinal, claro que sim. Daqui a uns anos a rica filha será uma dessas pessoas, presumo. Não para já, ao presente ainda temos o vínculo mãe protetora / filha dependente muito forte. Mas sinto que ela será alguém que me entenderá, dispensando explicações ou não desdizendo cada frase minha como faz a maioria.
Mas há mais. Só mais duas pessoas, ambas mulheres, ambas familiares, sangue do meu sangue. Se a gente se entende por elas estarem no mundo das letras ou das artes, não sei, só sei que sim. Gosto imenso de me encontrar com elas, encho os pulmões, revigoro a mente e alimento o ego.
Quero ainda acrescentar que existir um homem na lista das pessoas que 'falam' a mesma língua que eu... É uma boa média. Eu cá acho.
Só mais uma adendazinha: um dia encontro mais pessoas assim, aumento a lista, que a esperança não morre.

Os tracinhos dos diálogos

No livro que ando a ler (Diário de um Fescenino, Rubem Fonseca) consta que o escritor medíocre se apoia nos diálogos para disfarçar a falta de criatividade na escrita.
Fiquei a pensar que sou mesmo boa a escrever, custa-me horrores reproduzir diálogos, a bem da verdade nem gosto de os escrever.

A minha historinha

Um:
Diz que quer muito ir à apresentação do livro, mostra-se interessado, pergunta quando é. Digo que ainda não sei, quando souber anunciarei. Devolve-me uma resposta um tanto ou quanto seca, diz que se não lhe disser não irá, estou avisada: já perguntou uma vez e será da minha responsabilidade anunciar quando será.

Outro:
Sempre que me vê pergunta quando é a apresentação do livro. Impacienta-se, interessa-se genuinamente, quer saber, pergunta e pergunta e pergunta.

Escrever é difícil, eu já sabia. Publicar historinhas é muito mais difícil.

A minha historinha

Está na hora de revelar a editora da minha historinha:

Pastelaria Studios Editora

http://www.pastelariastudios.com/

Já me foi enviado um documento com a capa e a contra-capa da coletânea, bem como um video de apresentação que pode ser visualisado clicando neste linque.
A data? Pois é, ainda não sei, só sei que é num sábado do próximo mês.

Surpresa

Gosto de ver o olhar surpreso dos clientes se julgam que da última vez não foi comigo que falaram ou não fui eu que os atendi. Às vezes basta ter os óculos postos ou então não para baralhar as pessoas.
Não há cá mais senhora nenhuma, 'migos... Sequer a indumentária difere muito em cores, textura ou feitio, eu tenho os óculos na cara... Ou não tenho os óculos na cara. E é só. 

Dicotomia

Dicotomia é uma palavra que designa duas opiniões, dois modos de ser ou estar, opostos entre si. Vivo uma, duma e numa dicotomia constantemente. Cada lado tem mais dois opostos, o mesmo sucedendo com todos os lados da minha vida e da minha personalidade. Um dia transformar-me-ei em algo diferente. Não, maluca não. Poetisa, talvez. 

Espiga

Costumo usar frequentemente a frase 'não há espiga', querendo dizer que está tudo bem, não problema, deixe lá isso e tal.
Ora bem, hoje há espiga, hoje é dia da espiga. Vesti-me de amarelo mas não foi por causa da espiga...
Tenho uma memória lá longe: eu passeando pelo campo num dos anos da primária com a minha professora e os meus colegas. Esses passeios aconteceram, só não sei se foi por causa da espiga, se bem que na minha memória está que sim. Ou então apanhei a espiga com a minha mãe, também está na minha memória eu e a minha mãe de volta da espiga por esses campos ao redor da casa saloia onde cresci.
As memórias confundem. Confundem-se entre si e depois confundem-me.

O botão

Tinha o botão do bolso de trás partido. O botão tinha-se partido no sítio certo, dava para abotoar na mesma, o que restava ficava preso na casa. Há pessoas com sorte.

Dias de um ginásio

Andava uma mulher de nariz para o ar aspirando fortemente e dizendo amiúde que este cheiro faz mal, quem é que terá mandado a empregada usar tanta lixívia, daqui a nada vamos todas parar ao hospital e mais não sei o quê. Pergunta se me cheira a lixívia, aspiro por minha vez e nego. Ela insiste. Eu idem. Dá-me vontade de lhe dizer:
'Ó 'miga, olhe lá, trabalho numa drogaria, estou familiarizada com a mescla de odores químicos. Tomara eu que durante todo o dia me cheirasse só a lixívia, ok?'

Não!

Dei uma tampa a um homem giro e novo. Note bem: novo, que giro é eventualmente dispensável. No fim o pobrezito ainda me agradeceu o tempo que lhe dediquei. Um mimo. Ai, que prazer!

(Vender cartões de crédito dá cá um trabalho!)

O sol

De manhã o tempo apresentou-se nublado e fresco. Ainda assim vesti-me de amarelo, a ver se o sol e o calor apareciam.

É meio-dia e tal, o sol joga às escondidas comigo, o maroto, e calor ainda não há.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A minha historinha

Até aqui tenho estado numa espécie de limbo em relação a este assunto da minha historinha. Agora a coisa adensa-se, toma forma, passa-se à prática não tarda. Estou a ficar um bocadinho nervosa e ansiosa. Logo à tarde tenho de ir à loja do senhor Adeodato comprar um quilo de chá de tília – note bem: costumo comprar cinquenta gramas... - para armazenar na minha despensa. E no dia da apresentação tenho de beber uns três litros desse calmante que esmorece os nervos...

Novidade

Tenho um telemóvel novo. Novo, não, herdado do marido, quero eu dizer. É um aparelho todo xis pê tê ó, talvez demasiado sofisticado para alguém como eu, que nunca uso todas as funcionalidades de que os telemóveis normalmente dispõem. Mas já lá coloquei uma opção que considero imprescindível: o vibrador. Tudo que é toque nos telemóveis que tive até hoje tem de ter o vibrador ativo. Sou gaja, logo, há que existir vibrações na minha vida...
... Não é por aí. Sou mulher, é um facto, e é por isso que tenho de ter um telemóvel com vibrador, mas é para senti-lo dentro da mala, pois se não for assim cuido que não saberei quando me ligam. O vibrador e um toque estridente atuando em conjunto, tem de ser.

Nova leitura

Agora leio o livro 'Diário de um Fescenino' de Rubem Fonseca. Quando comprei este livro fiz post (ver aqui).
Ora bem, devo dizer que o livro é invulgarmente interessante. Olhando apenas para o título intui-se que é um livro cheio de intimidades masculinas. E é, só aí estão resmas de interesse, sou mulher. Mas acho que é sobretudo um livro sexual, nada sensual, o que me surpreende deveras. Estou praticamente convencida que a sensualidade pertence (quase) exclusivamente às mulheres.

A menina

Alguém conhece a 'menina da drogaria' mais simpática de todo o Portugal?
Pois é, sou eu. Fui eleita hoje. Sim, mereço o epíteto. Obrigadinha.

Sorriso

Não se pode dizer que o rico filho seja um rapaz romântico mas pode dizer-se que é introvertido e pouco dado a manifestações de carinho. Não obstante, um dia estávamos todos na galhofa - inclusive o rico filho, que ainda assim sabe galhofar - quando a mana diz que ele não se ri das piadas dela e raramente sorri. Ele responde logo de seguida que agora já sabe sorrir, a namorada ensinou-o. Achei tão enternecedor... O amor é lindo!

No meu tempo...

Segue-se um monólogo da rica filha em que vocaliza pensamentos nostálgicos, o que contrasta com os seus vinte anos:

- No meu tempo o verão não era assim... No meu tempo, em maio, nós saímos de manhã com um casaquinho e às onze horas esse casaquinho tornava-se inútil... Depois, de tarde, nunca mais era preciso. Em junho é que já não precisávamos de casaquinho, de manhã já saíamos de casa sem ele. No meu tempo o verão era assim...

A minha historinha

No que concerne a esta nova experiência de publicar um conto numa coletânea, o que de mais caricato sinto é o facto de o meus pais não saberem que tenho este gosto pela escrita. Não tarda tenho de lhes anunciar, o que será uma supressa para eles. Até já estou a ouvir o meu pai:
'O quê, vais aparecer num livro?! Mas como é isso?!'
E também ouço a minha mãe, depois de bem assimilada a notícia:
'Ah, moça dum cabrão!'
E vão-se rir os dois, felizes com a novidade, eles e eu. É assim que prevejo.

Adenda: 
Peço ao leitor que leia com uma marcada pronúncia alentejana o que supostamente os meus pais dirão.

De visita

Está cá a ex-professora do secundário, mãe do filho estudante vitalício. Andam por aí os dois, bebendo cerveja e cigarrando nas esplanadas, uma vez que há tempo para isso, o folguedo impera naquelas vidinhas. Vá, agora venham lá dizer-me que a minha vida é fácil!

O labirinto

Pedi à rica filha o favor de me trazer os óculos que tinha dentro da mala e ela logo se prontificou. O pior foi descobrir a caixinha dos mesmos.
'A tua mala é um labirinto, mãe! Olha p'ra isto, bolsinhas e mais bolsinhas!'
'Se trabalhasses num balcão como eu vias que as malas das mulheres são todas assim, ias perceber que não sou nada diferente.'

Tenho uma amiga...

Tenho uma amiga que não gosta dum amigo meu. É ríspida e lacónica aquando dos raros contactos. Ou seja: às vezes têm de comunicar, não há como contornar.
O meu amigo fica ligeiramente apreensivo e/ou surpreendido com a atitude da minha amiga mas supera sem queixas.
No meio de tudo isto, o que tem mais piada é o facto de ela terminar algumas frases com um 'amigo' quando se dirige a ele. Por exemplo: 'Esse trabalho fica-lhe em xis euros, amigo...'
Somos todos amigos, afinal. É giro. Eu cá acho.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Está certo!

As certezas pertencem aos néscios. Talvez seja assim, quero eu dizer.

Gostar de tudo

Gostava de achar que gosto de achar a vida bonita e simples.

O nome das coisas

Primeiro veio buscar carvão e acendalhas, que as sardinhas já vinham dentro do saco. Mas tarde veio buscar algo imprescindível: uma grelha. Chega aqui e diz que não sabe como se chama mas que é uma coisa que dá para assar sardinhas. Solícita, resolvo-lhe o primeiro problema: 'o que a senhora quer é uma grelha', e enquanto isso, diligentemente, vou-lhe resolvendo o segundo problema: retiro uma grelha de onde as tenho arrumadas e preparo-me para fazer o negócio. Vai dai, a despachada senhora diz com um certo desdém que não sabe se é uma grelha ou não, que quer é uma coisa para assar sardinhas no carvão, uma coisa daquelas que as prenda ou assim. Vai daí, eu, esta que escreve, debaixo daquela humildade fingida, refiro encolhendo os ombros:
- Olhe, eu chamo-lhe grelha, se a senhora quiser chamar também...

Vaselinas

«Quero uma vaselina da marca tal», disse o cliente com o peito inchado de saberes.
Tinha de ser da marca tal, só mesmo da marca tal, explicitamente da marca tal. Ainda bem que tenho a vaselina assim-assim, ó glória terrestre, que folguedo. Sabe-se lá se vinda doutra gente teria menos óleos e não escorregava tão bem ou isso.

Citação

«Os meus presentes favoritos são ferramentas. Adoro construir coisas.» Michelle Pfeiffer*

*Lido na revista Lux duma data qualquer, num número qualquer, numa página qualquer, enquanto a Carminho me alindava os pézinhos...

Caro colega, aconselho-te a encontrares o Twitter (ou outra rede social) da Michelle rapidamente, a ver se lhe vendes umas coisas. Mostra-lhe o teu blogue e o teu Fuçasbuque, não percas esta oportunidade, amigo.

Conversa entrecortada
(porque só ouvi a cigana)

Cigana, vendedora ambulante: - Quer comprar um perfumezinho, minha linda?

Elisabete Maria, a esotérica: - Hum, blás.

Cigana, vendedora ambulante: - Onde é que a senhora ouviu isso?!

Elisabete Maria, a esotérica: - Blá blá blá!

Cigana, vendedora ambulante: - Ah, atão quer dizer, a gente lá porque põe perfume não toma banho?!

Elisabete Maria, a esotérica: - Blás e mais blás.

Cigana, vendedora ambulante: - Ah, atão a gente agora não pode pôr perfume?! A senhora quer dizer que a gente é porcas?!

Elisabete Maria, a esotérica: - Blá blá blá, hum.

Cigana, vendedora ambulante: - Ó minha senhora, fume mais e pinte-se menos!

Elisabete Maria, a esotérica: - Hum??!!

Grande seca!

Como qualquer balconista... Levo secas. Pronto, é assim a vida, um(a) balconista é uma pessoa que aparenta disponibilidade, quase um(a) amigo(a), não se pode fugir dali, o balcão é do caraças, temos de dar atenção e mais não sei o quê. O melhor é parar por aqui para não dar seca aos leitores.
Devo dizer que esses pedaços de tempo roubados à vida nem sempre são aborrecidos, dalgumas 'secas' retiro pensamentos ou ideias para desenvolver textos mais longos, por isso não desprezo esses minutos de todo.
Como autora de blogue público e assumida escrevente no horário do patrão, tenho uma hora (um pedaço de tempo roubado ao patrão) em que me dedico furiosamente à escrita. Porém, há um senhor que se planta aqui nessa hora em que é costume ter mais tempo livre para escrever, o que me angustia por demais... Ó sô Carlos, você deixe-me escrever, homem!

O primeiro

Para começar o dia em termos de blogosfera, nada como anunciar que raspei uma lima folha de oliveira mesmo no cerne do corte que me pulsa no dedo indicador esquerdo. 
Fi-lo (o corte) com um x-ato no sábado passado, isto porque queria ajudar o meu colega a alcatifar o corredor da dona Maria do Céu. Como não sou lá muito experiente, tumba, ia cortando a cabeça do dedo com aquela lâmina afiadíssima que só um x-ato consegue ter.
Hum... que horror, ó mê guê, q' isto dói tanto. O corte foi terrível, a introdução da lima terrível foi. Meras distrações duma cabeça esgrouviada.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poema ausente

Ontem criei um poema lindíssimo que metia mamas trémulas e o súbito calor que se pôs. Verbalizei-o, inclusivamente. Alto e bom som. Quem o ouviu gostou e aconselhou-me a que o escrevesse logo, antes que esquecesse. Não fiz caso, o que é lamentável, porque era um poema magnífico.

(Pode-se enaltecer da melhor forma algo que não vai ser apresentado.)

Palavrinhas

Não esperar nada da vida talvez seja a melhor forma de viver, quiçá a poção mágica.

Palavrinhas

Estávamos no restaurante almoçando, o meu colega e eu. Uma senhora doutra mesa dirigiu-se-nos pedindo licença para incomodar mas é que queria um certo número de telefone. Ofereci-me para lhe arranjar um papelinho para assentar e retiro o meu bloquinho rudimentar de dentro da mala. Mas ela foi mais rápida rasgando um pedacinho da toalha de mesa e foi aí que acabei por assentar o dito número de telefone e outros dados. Na minha cabeça ainda surgiu a vontade de referir a maneira como designo o meu bloquinho mas deixei-me ficar calada. Mas, para minha surpresa, a senhora aponta para o meu bloquinho e diz 'ah, esse é um bloquinho rudimentar mas é um bloquinho!'
Fiquei especada a olhar para a senhora e exclamo completamente alucinada com a coincidência 'que engraçado! é mesmo assim que lhe chamo, bloquinho rudimentar!'
Às vezes sinto vergonha em usar palavras e expressões que não são corriqueiras, sinto um pavor crescente, imagino que vão pensar que me estou a armar em importante e sabichona. Não sendo isso o que habitualmente acontece caso me saia uma palavrita ou outra menos comum, a verdade é que sempre que verbalizo um irregularidade o mais certo é o meu interlocutor começar a brincar com o tema ou a fingir que desdenha ou, ainda, a desdenhar efetivamente. É chato, aborrece-me.

Palavrinha

Caput! não tem nenhuma conotação promíscua, ok?!

Palavrinha

Sui generis é sui generis por si só. É uma expressão que sofre da própria essência.

Não e também não!


Chega com um cigarro apagado e esfarelado entre os dedos. Cheira bem e é agradável no trato. Pergunta-me se conheço prédios cujos donos os queiram vender. Estranho a pergunta e digo que não. Ele não desiste...
Prédios mais ou menos novos?
Não.
Prédios velhos?
Não.
Prédios devolutos?
Não.
Prédios a caírem de maduro?
Não.
Prédios... Sei lá, prédios! (Sorri)
Não. (Sorrio)
Depois quase desfaz o sorriso quando repara no cartão que tenho em cima do balcão, é duma 'colega' da mesma imobiliária, pergunta-me se ela vende ou compra, respondo que vende e ele volta a sorrir largamente dizendo que negociar comprando é bem mais giro. Roda nos calcanhares e quase não me dá tempo de lhe dizer que julgo que sim, julgo que seja bem mais aliciante comprar.


Conversa parva

Então, está bom?
Nunca fui!
Não?!
Não.
Então olhe, não se nota nada... Você finge bem, deixe lá.
Ah bem, isso é que eu gosto de saber! Assim, sim!
Todos temos um lado mau, há que escondê-lo, não é?
Claro!

Uma ajudinha

Amanhã vou ajudar o meu colega a colocar uma alcatifa no corredor da dona Maria do Céu. Ele não precisa assim lá muito da minha ajuda, eu é que tenho a mania que sou precis(os)a e isso. Perguntei-lhe se lhe podia passar as ferramentas para a mão e se me deixava ao menos martelar uns preguinhos... Diz que sim. Vamos ver, vamos ver.

Sanita

Sanita, pois, que eu hoje ando nisto, atolada em merda.

Veio cá uma outra dum outro consultório dizer que a colega, ou assim, tem o cu grande e deu cabo do tampo de sanita, de maneira que aquilo agora roda e o caraças. Veio requisitar os nossos serviços, portanto.

Verde água, agora sim

De manhã fui a um consultório verde água marcar uma consulta para a rica filha que anda com um dente do ciso a dar-lhe muito que fazer. Quem me abriu a porta, por sinal um senhor doutor que só faltou vir de lá com a broca na mão, pediu-me simpaticamente que aguardasse um pouco pois a super-Fátima viria atender-me assim que pudesse. Achei um piadão à alcunha.

O duende

Parecia um duende do Pai Natal, se bem que desconheço se o Pai Natal convive com duendes, mas dizia eu, o homem parecia um duende devido à estatura, às faces rosadas e ao risinho fácil, aparentando um certo ar infantil, porém nada ingénuo.
Quando lhe peço os dados para preencher o recibo conta-me sem pudor que tem duas empresas e que uma delas é dona da outra e ainda me fala da percentagem que tem duma e doutra, valores que não fixei, e ainda que os tivesse fixado não colocaria aqui.
Diz que as pessoas hoje em dia se estão a virar para as marcas seculares, mesmo as camadas mais jovens. Depois pergunta-me pelos meus produtos singulares, tem um amigo que os vende na internet e aconselha-me a fazer a mesma coisa mas no modo regular desta casa, eu que faça as montras com esses produtos e os demonstre, inclusive aos clientes que não venham com intenção de os comprar.
E fala e fala e fala. É curtido, este senhor. Fala mas não serve para conversar, toma as rédeas, não escuta, é perentório nas afirmações, a algo que se lhe diga ele contrapõe com um não, independentemente de concordar ou não. Aliás, é com um redondo não que inicia quase todas as suas frases, o que me aborrece um pouco e não me estimula nada. Mas é curtido, o bicho...

Bacio

É particularmente interessante o estado de alma do comprador de bacio, é comum demonstrarem embaraço e  apresentarem requisitos especiais. Este último que aqui apareceu queria que embrulhasse o bacio em papel e depois o pusesse num saquinho de modo a que não se visse nada do objeto. Assim fiz, utilizando papel de jornal. A meio do embrulho deu-me cá uma vontade de dizer ao homem ' este bacio é para merda que saiba ler...'

Vizinhos
ou
Obituário(s)

Morreu a vizinha Gertrudes, ou Estrudes, na verdade é assim que lhe chamam... Chamavam.
Não é uma figura da minha infância, antes do meu marido, mas fiquei nostálgica com a notícia. Era uma senhora bondosa e ternurenta, qualidades que admiro. Morreu. Morreu e já está. Será?! Não, perdurará na minha memória, eu gostava muito dela. A vizinha Estrudes também perdurará no blogue, às vezes faço-o existir para perpetuar memórias.

Morreu outro vizinho aqui das redondezas, por sinal há mais tempo que a vizinha do texto acima. Tinha decidido não mencionar a morte do Mário dos móveis por não haver grande relação ou afinidades de espécie nenhuma entre nós (se bem que ele figura uma vez ou outra no blogue).
Entretanto ouvi alguém lembrar que o cumprimento habitual do sô Mário era 'bom-dia (boa-tarde) senhor(a) vizinho(a)!' Então pensei: eu tenho que registar isto, era mesmo assim que ele nos cumprimentava, sentado à porta da sua loja, o olhar vago e distante, mas via-nos passar e mandava aquele cumprimento invulgar. Está registado.

Maquiavélica

Andava pela rua, com a cara de quem tem um destino. Muito determinada é esta senhora Maquiavélica!
O carrapito de todos os dias no cocuruto (ao qual a minha mãe chamaria 'cagalhão', já um dia frisei). Observei com minúcia o dito penteado, tinha tempo para isso. Não é um cagalhão, são vários, em cascata, do alto da cabeça à nuca. É um monte de merda o que ela tem na cabeça.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O choro

A veia artística leva-me a observar as pessoas ou as situações por vezes descaradamente, tanto que pareço um tudo-nada infantil. Mas nem sempre tenho esse desplante, noutro dia vi um homem com cara de choro, vermelho e contido, logo a seguir vejo uma mulher dirigir-se-lhe, possivelmente a esposa, roçaram os lábios num beijo breve, ela como sendo o consolo dum momento de grande tristeza, ele o recetor desse afeto, e depois ainda vi o começo do que suponho ter sido um longo abraço de amor e compreensão, se me basear nas expressões faciais que ambos aparentavam.
Podia ter ficado a observar, debaixo desta capa de artista, ou maluca, ou excêntrica. Depois criaria um texto e apresentá-lo-ia no blogue, como já fiz milhares de vezes. Mas não consegui, observar a dor alheia não me é aprazível.

Gualter e as minhas mãos

E lá veio ele em modo cliente, caso raro, que este é daqueles que vem ver a malta a maior parte das vezes.
Estende-me o cartão multibanco frisando novamente que o dito só funciona comigo, com as minhas mãos. Senti um peso enorme pela responsabilidade. , estou a brincar, não senti grande peso mas não deixei de ter aquele pensamento um cadito derrotista 'ai que é hoje esta porra não funciona...' Pensado e feito, o cartão não se validou. Ora bolas! Barafustei baixinho:
– Estas máquinas, pá, quanto mais não valem as pessoas...
O Gualter não estava lá muito conversador nesse dia, limitou-se a dirigir-me um olhar cúmplice, o qual retribuí, presumo.
O Gualter é uma pessoa que me entende, 'fala' a mesma língua que eu. Incrivelmente. Ainda bem que há pessoas assim na minha vida. Ao menos uma.

Terminus

Lisboa, 10 de maio de 2012

Já terminei a leitura d' O Apicultor', de Maxence Fermine. É uma obra belíssima! Adorei toda a história, desde o drama à quimera, está tudo lá. Que nunca se deixe de sonhar... Foi principalmente isso o que aprendi com este livro.


«- Vais retomar a exploração?
Aurélien ficou um momento em silêncio antes de responder.
– Sim. Mas à minha maneira. Quero voltar a ser apicultor.
– Depois de tudo o que se passou? Mas é uma loucura!
– Na primeira vez eunão sabia o caminho a seguir. Agora sei. Venho de África e chamo-me Aurélien Rochefer. Então deixa-me fazer e, depois, compreenderás. O importante é que voltei para cumprir coisas grandes.
Aurélien, com o olhar perdido no vazio, virou-se para o velho e acrescentou:
– Sabes o que vou fazer aqui?
– Não.
– Qualquer coisa de belo.»

Páginas 128/129

O troco

Fui a correr até ao meu colega buscar duas notas em troca de uma (de maior valor, pois claro) para a dama de verde. Ele era fatinho verde às flores e às bolinhas, ele era óculos com laivos verdes, ele era pulseira de pedrinhas verdes e grande anel a condizer, brincos e colar também. Verde, verde, verde. Esmeralda, not Verde Água, que isso é só aqui.

Homens

Subindo a avenida vinha um magote de engravatados. Quando me cruzei com eles falavam da crise e do 'agora não dá, que isto está mau'.
Vai daí avisto outro magote de engravatados, pus-me atenta aquando do cruzamento, muito curiosa, será que também falavam da conjuntura económica do país? Não, falavam de churrascos. Tão mais descontraído este grupo...

Grupinhos

Três homens, duas mulheres, em duas mesas de café. Conversavam e conviviam. São iguais, são pessoas. Os homens conspiram tanto quanto as mulheres, se numa mesa elas cochichavam em surdina, assim faziam eles. Talvez os assuntos sejam díspares e talvez a maldade das mulheres lhes dure mais tempo, não duvido e até concordo, mas no fundo, lá mesmo no mais rentinho ao chão que há... Somos todos iguais.

Casual

Eu ia abrir o ficheiro de stoks, a sério que sim, mas instintivamente abri o documento onde escrevo. Tal é o hábito... Foi por isso que nasceu este post.

As indicações

Eu sou muito mais desembaraçada a indicar (ver post anterior) às pessoas que me aparecem com questões meramente geográficas.

(Geográficas?! Ena...)

Mais, muito mais desembaraçada, simpática e prestável. É só coisas boas. É primavera, está sol e calor e o caraças. Nuvens, inclusive. Brisazinha e tal...

A indicação

É logo ali, segue por aqui e é a segunda rua à direita. Olhe, é uma rua com muitas árvores! Se não coiso, pergunte a alguém novamente!

Acordeão Armado Bugari 2ª voz

Xis euros...1! Xis euros... 2! Xis euros... 3! Vendido!

Lá se foi o meu acordeão... Esqueci-me de lhe dar um beijinho de despedida, ou por outra, nem tive tempo para despedidas.
Estou estupefacta com a rapidez do negócio, a internet é uma maravilha.

Parentesis

(Entre um pilar e outro deu para ver ela levar a mão ao nariz, introduzir o dedo e retirar uma substância. Mas já não deu para ver o resto do ritual: amachucar e rodar o macaquinho entre o polegar e o indicador e depois da bolinha feita atirá-la para o chão. Não vi, não, mas foi assim que aconteceu.)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Tenho uma amiga que...

Tenho uma amiga que não sabe escrever. Diz que esteve com um homem cheiroso, que bebeu café com ele e conversaram um bocadinho. Mas bem-cheiroso, disse ela, que cheiroso pode ser dum cheiro mau.
Não sei se ensine esta minha amiga a escrever ou me deixe estar sossegadinha...

A película

Vi o filme 'Meia-noite em Paris' e devo dizer que me impressionou positivamente. Passa-se no imaginário do personagem principal, um escritor, nas suas rebuscas ao passado, absolutamente deslumbrado com uma época em especial, os anos '20. Através do seu imaginário conhece escritores e pintores hoje célebres. Um desses escritores famosos, Ernest Hemingway, em certa altura aconselha o dito personagem / escritor a ser mais louco ainda, escrevendo sem medo, sem reservas, completamente desprovido de amarras, pois só assim se escreve... Só assim se escreve bem.

«Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança.»

Ernest Hemingway

A perguntinha

Perguntou-me pela minha escrita, o que muito me alimentou o ego. Quis saber, importou-se. Que bom.
Respondi que a minha escrita está boa, que vou escrevendo. Talvez não tenha sido a melhor resposta...

Metropolitano

Uma jovenzinha tem vestida uma t-shirt que diz: waiting for your call. Recebe sms amiúde e vai sorrindo com uma candura que só visto.
O 'call' da t-shirt apresenta-se em forma escrita, será? Muitas, muitas, muitas 'calls' para ela não se sentir sozinha?

Um homem pergunta-me diretamente se para ir ao El Corte Ingles terá de sair em São Sebastião da Pedreira. Digo que sim, é aí mesmo. Depois fico a magicar como é que entre três mulheres ali presentes logo me tenha escolhido a mim para perguntar. Deve ser este meu ar informado, certamente, mas eu prefiro pensar que é por ser a mais gira.

Uma mulher tem uma camisola de malha na cor pêssego com as mangas dobradas. Sei como é, esse é um dos dramas das gordas. Compram-se camisolas grandes, ora, supostamente, os senhores dos texteis têm de fazer camisolas que sejam para pessoas grandes também em altura. Só por dizer que há gordas baixinhas, ah pois é.

Ombro

O senhor Joaquim tem o ombro deslocado. Toda a minha gente pergunta 'Então, senhor Joaquim, o que foi isso?'. 'É o ombro deslocado e blás', diz ele.
Elisabete Maria, a esotérica, quando ouviu a explicação simples do senhor Joaquim, reponde muito depressa 'Ah, eu também já tive princípios disso!'

Laranjada

Chupa em duas palhinhas o líquido refrescante. Ouço-a chupar o ar, não o líquido. Aborrece-se.
Ai mulher, isto não dá!, exclama ela.
Retira as palhinhas de dentro do copo e sorve dois ou três golos.
Eu cá gosto é assim, mulher!, diz ela, e sorri, satisfeita.
Ora bem, minha senhora, 'bora lá!, pensei eu, e limitei-me a acenar com a cabeça e retribuir o sorriso. E a escrever, dois minutos depois.

Gotículas

Lisboa, 8 de maio de 2012

De manhã chuvinha, coisa pouca. De tarde um imenso calor.
Diz que depois de amanhã vão estar 30ºC. Também não era preciso tanto, meus caros... Poucochinho calor, um dia de cada vez, seria quanto baste, pá...


Amadora – Este

Daqui a nada lá estarei, oh glória terrestre! Vou passear. Em trabalho. Quanto não vale isto?!

12

São 12 euros. - disse eu.
12, como? - perguntou a cliente.
Ainda pensei que a questão fosse devido à conversão euro/escudo, que ainda há pessoas que a pedem para se situarem economicamente. Ia dizer que eram dois contos e quatrocentos quando ela me interrompe:
12 euros assim: 10, 11, 12?
Hum, fiquei atónita. Ela repete a questão. Resolvo dizer que sim, é isso mesmo: 10, 11, 12.

Ser diferente

Isto de ser diferente não me agrada. Não quero ser diferente de ninguém para não me sentir sozinha no mundo. Mas sou. E estou.
Entrei num lugar público, nomeadamente um campo de futsal onde o rico filho havia ido participar num torneio. Entretanto vou-me dando conta de tudo e tal, observando como é meu costume. Foi golo, grande algazarra e o caraças. Não vi nada. Ainda referi, à laia de desculpa, que estava observando as envolvências, uma vez que não me costumo deter no fulcro. Ninguém me ouviu. Ou quero pensar assim...

A minha historinha

A dona Carminda não estava sentada como é seu costume. Andava em pé, tratando doutro tipo de papeladas e afins. Depois dirigiu-se ao seu lugar e tratámos das transações habituais, que a gente dá-se muito bem nessas andanças.
A dada altura pede-me um 'autógrafo', quer que rubrique a folhinha do depósito bancário. Mal sabe ela que já me estreei nisso de dar autógrafos...
Não sou eu que conto aos amigos que a minha história vai ser editada, é o Luís, ele é que conta. E contou. Logo a seguir o amigo pediu-me um autógrafo, brinca dizendo que um dia vou ser famosa e aquele autógrafo terá um valor imenso. Autografei um guardanapo, brindámos ao meu sucesso com vinho do Porto e tudo. Tudo na base da brincadeira, bem sei, mas mal sabe a dona Carminda...

Acordeão Armando Bugari, 2ª voz

Em tempos toquei acordeão, nunca fui grande tocadora, sequer ultrapassei o básico, mas tocava umas coisitas.
Há dias o acordeão saiu do armário onde se encontrava há anos, a ver se o vendemos, quem sabe se consegue, a internet serve para tanta coisa... O título deste post é propositado, pois assim sendo, alguém chegando aqui através dos motores de busca googleanos, deixe comentário que responderei com o maior prazer.
Mas eu queria, principalmente, realçar uma pequenina questão. Quando retirei o acordeão da caixa e lhe dei colo, raspei os dedos nas teclas redondas e muito juntas tentando lembrar a escala, que é pouco evidente, não muito comparável às teclas dum órgão ou piano. Não lembrava. Fui tocando nas teclas, tocando, tocando. Meio minuto depois a escala estava lembrada na totalidade. Isto do cognitivo e da automatização dos gestos é mesmo algo espantoso.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Azul

Para mim é azul, eu sei que é azul. Mas, se calhar, se vires deste ângulo, será diferente. Experimenta.

Meias de renda

Não quero vestir meias de renda preta, esburacada e pirosa. Nem quero vestir uma saia aos quadrados e uma blusa garrida ao bom estilo dos anos '70, provocando uma visão desigual e ridícula. Não quero ser este misto entre doméstica interna e dona de casa da alta-roda. Esmeradíssima.

Acho incrível a capacidade que o ser humano tem para se deslocar dum extremo ao outro. A dona de casa duma elevada posição social, caso se esmere de sobremaneira, parecerá a sua eventual empregada interna.

Barbies

Duas barbies, mas em moreno. Altas, vistosas e tão aprumadas como só as barbies são. Vem um parvalhão atrás delas, desvairado com tamanha beleza, entra na mesma loja que elas e pergunta se alguma teria perdido um molho de chaves. Elas admiram-se, abrem muito os olhos pintados, a boca aberta como quem se depara com uma enorme surpresa. Dizem que não perderam nada e o bicho fica amarelo e baza. Uma delas exclama:
– Ah, o tipo seguiu-nos, viste?!
A outra faz que sim. Mudam os semblantes. Completamente. Viram-se para mim, a do balcão, noto que sorriem ligeiramente, ainda atordoadas com a lata do estrupício que as seguiu. Vamos ao que interessa: querem um frasquinho vazio. Anuncio que não tenho frasquinhos desses para venda, não costumo ter, não vou ter. Vão ficando como que aborrecidas conforme assimilam a dura realidade. Depois, não podendo fugir, largam as duas um sorriso enorme e dizem quase em uníssono:
– Ok, obrigada!
Logo após, fico livre e desimpedida. E sinto-me estranha, é sempre confuso ver disparidades. Eu gosto mas baralha-me.

O bolo

Fiz um cheesecake lindo. Alto, denso, branco. Era para a rica filha levar para a festa de aniversário duma amiga.
Quando ela regressou da festança contou-me que ninguém comeu o bolo espetacular que eu havia feito com tanto carinho, excetuando ela, que não se privou, não. Fiquei um tanto ou quanto magoada. Ora bolas, eu a ver o bolo maravilhoso ir embora sem poder afilar o dente e no fim das contas... A rica filha também ficou um tanto ou quanto magoada com o desplante, uma vez que já é costume eu prover uma pequena parte da mesa destes comensais e os meus bolos são sempre os primeiros a serem devorados, o que muito a orgulha.

– Ninguém em Loures sabe fazer cheesecake, mãe...

Dizia a rica filha antes do desfecho... Veja-se!

O tempo

Elisabete Maria, a esotérica, fala sempre do estado do tempo, o que deprime o homem da cafetaria. O coitado já não pode ouvi-la falar da chuva e do frio e do solinho e das nuvens e do vento.
Elisabete Maria, a esotérica... Café lá dentro, cigarro cá fora, que a lei é lixada para os dependentes de nicotina. Já os dependentes de cafeína são uns felizardos.

Falar

Uns duma maneira, outros doutra, a verdade é que Deus anda na boca de toda a gente.

Nova leitura

Ora bem, acabado um livro é certo que outro virá. Desta feita virei-me para um que já havia começado a ler: 'O Apicultor', Maxence Fermine.

«Aurélien refletiu e disse:
– Acreditas que se possa viver sete vidas?
O iemenita olhou-o com um ar estranho. Este jovem europeu falava como um velho sábio.
– Não sei. Talvez certas almas tenham necessidade de se construir com o tempo.
– Sete. É um bom número. A sétima vida vale ouro.
– Sim – disse o iemenita. - É também a última para finalmente a enriquecer.
Houve um grande silêncio, apenas perturbado pela música do vento.
– Então – disse Aurélien levantando-se -, é preciso continuar a caminhar mais e mais.
– Não estás cansado?
O apicultor passou a língua nos lábios secos pela sede.
– Não. Eu não estou cansado de viver.

Nessa noite, ao caminhar no deserto, Aurélien teve a intuição de uma coisa que chega na hora da morte: a vida prende-se unicamente à solidez de um fio. Um fio de ouro urdido por dias em que se compreende que a necessidade de sobreviver será sempre mais bela do que o prazer de morrer.
E desejou, com todas as suas forças, continuar agarrado a esse fio.»

Páginas 74, 75

Fim de leitura

Terminei de ler o livro 'Cinderela de saia justa' de Chris Linnares.
Não gostei. Gostei.
Farei figurar primeiro a parte negativa por modo a perdurar a parte positiva na memória do leitor.

Não gostei duma cena dramática e pouco explorada, pareceu-me novelesca demais, irreal. Percebo que a ideia da autora seria eventualmente o leitor não se debruçar muito sobre a tragédia, mas ficou esquisito.
Não gostei da ideia de que para sermos felizes nos temos de concentrar somente no presente, não podemos (devemos) lembrar o passado, sob o estigma do aprisionamento, não podemos (devemos) questionar o futuro. Preocupemo-nos com o presente, apenas, assim viveremos felizes e despreocupados.
Posso dizer que compreendo este ponto de vista, vá, mas chateia-me, eu que gosto tanto de recordar e questionar...

Gostei do facto de ser um livro de autoajuda que contém uma história ao redor dos ensinamentos de bem viver. Gostei da analogia com a história da Cinderela, acho que foi bem conseguida, é realmente uma forma de encararmos a vida real, mesmo que nos baseemos em fantasias.


A forra do livro...

Da primavera

Hoje há uma chuva que não abala, faz lembrar o outono. Não fossem os campos branquinhos, amarelinhos, vermelhinhos, lilasinhos e verdinhos, ou não fosse o cheirinho a pólenes e clorofila e diria que sim, diria que é o outono. Mas não. É a primavera que predomina, ora pois. A natureza é cá duma perfeição... Tão infalível quanto imprevisível.

Ah...



Ela gosta de sentir as formas do seu corpo sob as mãos dele.

Ele gosta de sentir as mãos sobre as formas do corpo dela.

Cognominar

Acerca de nomes:
Assim de repente Antonieta Perpétua é um nome giro e parece-me bem. Porém, melhor será não estacar o olhar muito tempo em cima da dupla tão sui generis...

domingo, 6 de maio de 2012

Dia da Mãe

Feliz dia das Mães.
Ás mães, às filhas, às mães que são filhas, às mães que foram filhas. E às filhas que são só filhas. E aos filhos, claro. E aos pais, já agora. Feliz dia a todos e pronto!

Imagem descaradamente surripiada ao Google

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ah se eu fosse poeta!

Se eu fosse poeta hoje teria feito um belo poema, cheio de tristezas, mas belo. Assim, resta-me a prosa, na qual me espojo, sem que consiga despojar as mágoas.

Dias de um ginásio

Grande brecha. Voltar à rotina é preciso. É melhor retornar á vidinha que considero normal, mesmo que a desconheça completamente.

Duas histórias da minha mãe

Uma figura da minha infância

Havia certos aviamentos que a minha mãe não ia à rua comprar, esperava pelo barateiro, o homem da carripana carregada com elásticos, botões, fechos, agulhas, linhas e talvez outros artigos que não recordo. Chegava ao beco e apitava como que avisando da presença, talvez, também não recordo. A minha mãe aparecia e cumprimentavam-se com um aperto de mão e diziam 'a paz do Senhor'. A mim também me era dirigido um cumprimento natural de pessoa adulta para criança, em calhando dizia-me que eu estava mais crescida desde a última vez. E eu ficava a mirar e remirar todo o conteúdo da carripana, aquele homem era um adulto que me deixava descontraída.
O irmão Barata era crente evangélico e a minha mãe havia sido em tempos, o cumprimento habitual continuava, não sei porquê. Depois da compra e venda efetuadas, ficavam um bocadinho a conversar das coisas de Deus, lembro-me de uma espécie de admoestação, simples e sem condenações de espécie nenhuma, da admiração que a minha mãe sentia em relação a este senhor calmo e sereno, detentor de uma expressão facial muito apaziguada, como se nenhuma tempestade fosse forte o suficiente para o abalar. Há pessoas assim, felizmente.
Houve uma altura em que íamos a casa deste irmão, a minha mãe sempre foi aquele género de pessoa visitante, cria saudades facilmente, gosta de rever.
Numa das paredes da casa havia um calendário daqueles que se arranca a folhinha diariamente contendo um pequeno versículo bíblico e um breve desenvolvimento. O primeiro sítio onde o meu olhar pousava era nesse calendário, nunca o encontrei fora da data corrente...
Uma coisa que nunca percebi: a minha mãe chamava-lhe barateiro por causa do nome Barata, ou seria ao contrário?

O cobertorinho

No início a minha mãe vinha-me ajudar a fazer a cama. Primeiro as fronhas, uma para cada uma de nós. Depois lançávamos os lençóis. Estendíamo-los, esticávamo-los e dobrávamo-los por baixo do colchão. Um e outro. A dobra do segundo muito direita para ficar uma cama bem-feita (que a minha cunhada era uma mulher que fazia uma cama muito bem-feita).
Quando chegava a vez do cobertor é que eram elas... O raio do cobertorinho era quase quadrado, difícil encontrar-lhe o preceito. Mas a minha mãe conhecia-lhe a manha, era assim, com as cornucópias apontando para ali, formando determinado desenho.
«Estás a ver que é assim, filha?»
Na hora, quando me apercebia do preceito da minha mãe, via o quanto era fácil.
«Ah, então é assim.»
Pensava eu. Mas não dizia nada. Talvez sorrisse. O sorriso ilude o próprio e os presentes.
Entretanto a minha mãe deixou de me ajudar, agora vejo-me sozinha com o estender na minha casa em geral. Nunca sei para que lado são as cornocópias do cobertorinho... Fixo depois de lhe adivinhar o preceito. Adivinho porque vou às apalpadelas, só há duas hipóteses, e não é costume acertar à primeira. Quando apanho o cobertorinho estendido a preceito, sou capaz de fixar. «Hum, ok, as cornocópias são para ali...» Para dois minutos depois me esquecer completamente e tudo retornar na próxima vez.