quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Soneca


Descia a avenida e detive-me numa loja de velharias. Na montra estavam destacados os meninos jesus e outros objectos relacionados com o presépio, mas também haviam sinetas daquelas de chamar a criada, guarda-jóias, quadros e outras coisas obsoletas e, por isso mesmo, belas - o obsoleto pode ser belo, creio eu.
Lá dentro, sentado numa cadeira, o senhor já dormitava por tanto esperar clientes. Não é uma loja muito movimentada... nota-se. Começou a subir-me uma maldade - se a maldade pode ter tamanho, então era uma maldade pequenina -, entrar para ver lá dentro só pelo prazer de arrancar o senhor dos braços do Morfeu. Depois pensei que era melhor ficar ali de fora olhando para ele ininterruptamente porque sempre ouvi dizer que um olhar persistente sobre nós pressente-se. Ora deixa lá ver... Bem, é verdade, passados alguns segundos o pobre abriu os olhos e viu-me espiando-o através da sua montra. Não me senti nem um pouco apanhada em falta, eu continuava envolta naquela - pequena - maldade, que se calhar aqui já era uma maldade daquelas grandes. Coitadito do senhor.

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