sexta-feira, 23 de abril de 2010

Na cadeira laranja


Entrou um senhor na loja. Achei logo estranho, ali só se vende roupa feminina. Minutos depois trazia consigo três ou quatro cabides com vestidos e saias e blusas, tudo em preto e branco.
Vi a empregada tratando do registo, enquanto o homem passarinhava uma vez mais pela loja, aparentemente procurando por mais coisas para levar.
Não cheguei a ver mais nada mas imaginei muito.
Imaginei que o embrulho ia ser em papel de seda e depois seria colocado suavemente - com mãos de seda também, porque não? - numa caixa branca atada com fita vermelha a formar um laço muito aprumado bem no centro.
Imaginei o cliente ditando uma morada onde a caixa deveria ser entregue.
Imaginei que quem recebia a caixa era uma mulher linda e loura - tipo Marilyn Monroe, vá - que ficaria encantada com a surpresa do marido.
Por fim ocorreu-me que não imaginei nada. Apenas revi na minha cabeça cenas de filmes antigos, porque não imaginei o cartão de crédito pagando aquilo tudo.


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