segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os colegas


Lá vinha o homem naquela figura do costume: maltrapilho, sujo e desarranjado. O cabelo enorme e espetado para os lados faz-me lembrar o penteado do palhaço do McDonald’s.
Ao se aproximar, o homem parecia mesmo que vinha direito à gente e eu começo a ficar com receio de qualquer coisa estranha porque ele é maluco, não tem os cinco bem medidos. Mais um, pois. Mas a minha companhia do momento diz que não, que não me apoquente, não há problema, o homem foi colega do Ventura. A pergunta normal seria: 'O que é que isso tem a ver?' mas em vez disso dei lugar ao espanto:
- Quê, ele foi colega do Ventura?! A sério?!
O tempo passa e as pessoas apuram-se, revelam-se. Quem diria, o sô Ventura, um homem de ar reservado mas seguro, dono de uma formalidade que de vez em quando ele deixa que seja abafada por pequenas porções de loucura, foi colega de um gajo qualquer que é doido varrido e anda pelas ruas mal trajado e indecente. Descombinam pelo oposto.
Aqui o remate final seria: 'É a vida!'. Mas essa frase já está cheia de nódoas negras de tão batida.


3 comentários:

Vem-tura disse...

Permita que rectifique.
O maltrapilho, sujo e desarranjado não foi propriamente colega do Ventura. Era aluno da instituição artistica onde na altura o sr. Ventura leccionava.
É que isto de ser artista às vezes tem este tipo de desfechos (passam-se dos carretos).

Gina G disse...

Permito, pois. E peço desculpa aos leitores pela informação errada que escrevi. Só por dizer que a minha companhia do momento me assegurou que teriam sido colegas em tempos.

Diz que os artistas são todos uns malucos. Ainda um dia hei-de lá chegar. À maluquice, quero eu dizer...

Vem-tura disse...

Tambem o sr Ventura (que não é artista nenhum) tem os seus momentos de loucura controlada.
Por vezes fá-lo de forma provocatória na procura de uma resposta descontrolada dos interlocutores.
Outras nem se dá conta do inconveniente que pode ser.