sábado, 19 de novembro de 2011

O monstro

«No entanto, irritava-a ter dentro de si aquele monstro brutal a agitar-se! Ouvir ramos a estalar e o peso dos cascos nas profundezas daquela floresta densa, a alma; nunca se sentir completamente satisfeita, ou completamente segura, pois a qualquer momento a criatura poderia mover-se; aquele ódio, que, sobretudo desde a sua doença, tinha o poder de a fazer sentir-se arranhada, ferida na espinha; infligia-lhe uma dor física, e todo o prazer que sentia na beleza, na amizade, no bem-estar, em ser amada e transformar o seu lar num lugar encantador, estremecia, vacilava, e ruía como se na verdade houvesse um monstro a puxar pelas suas raízes, como se toda a panóplia da satisfação não passasse de amor-póprio! Aquele ódio!
Disparate, disparate!, gritou para si mesma, empurrando as portas giratórias dos floristas Mulberry.»

In
'Mrs. Dalloway', Virginia Woolf (página 22/23)

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