quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Hoje foi um daqueles dias em que andei bastante por algumas das ruas de Lisboa mas com um propósito diferente do habitual. Tinha que ir entregar uma papelada a um dos últimos números ímpares da Avenida 5 de Outubro. Agarrei nas perninhas e lá fui eu.
Iniciei a minha caminhada numa das ruazitas da zona de Arroios e orientei-me de maneira que fosse o mais a direito possível até ao meu destino. Subi a Avenida Guerra Junqueiro, passei a Praça de Londres, atravessei a Avenida João XXI, entrei na Avenida de Roma e virei na Avenida Óscar Monteiro Torres. Tentei ao máximo entreter-me com a paisagem para não pensar em nada. Às vezes faço este exercício mental porque preciso de descansar e assumir, mesmo que seja só por uns momentos, outros valores ou outros pensamentos.
Há vários dias que só penso coisas do tipo: "não estou a conseguir livrar-me disto...raios partam este feitio de caca que eu tenho!..." Assim sendo, achei por bem dar valor à paisagem que creio ser algo que pode ser paradoxal por ser tão importante e tão banal ao mesmo tempo. A paisagem e a atmosfera têm tanto valor e eu quase me sinto parvinha por passar o tempo a reparar nas cores do Outono, nos sons dos passarinhos, nas pessoas entretidas nos seus afazeres ou nos seus pensamentos, na luminosidade deste sol outonal que faz o vermelho da Praça de Toiros do Campo Pequeno parecer tão vivo, passar numa rua chamada Chaby Pinheiro e pensar que não faço ideia quem terá sido, na Avenida da República parecer tão imensamente larga por eu estar apeada, no barulho dos comboios ao passar na estação de Entre-Campos e, por fim, quando já me encontrava na Avenida 5 de Outubro, o frio que estava e eu quentinha de tanto andar. Isto são banalidades importantes. Pelo menos, hoje foram...
Mesmo assim... tanta coisa, tanta coisa... e não me livrei daquilo... o que eu queria era não pensar em nada e hoje não consegui.
Cheguei ao meu destino, fiz o que tinha a fazer e voltei para o meu local de trabalho pelo mesmo caminho e pelo mesmo meio - a pé. Assim que pude escrevi este texto que agora publico.
Há meses, para não dizer anos, que carrego um peso e quando dou por mim, estou a pensar nele e a escrever acerca dele.

2 comentários:

nandokas disse...

Olá gigi,
Desde logo achei graça à frase: ... "Agarrei nas perninhas e lá fui eu". :)
E se carregas um 'peso' há tanto tempo, creio que às tantas vais precisar de o 'descarregar', não achas?
Bom texto.

Gina G disse...

Acho. Esse dia virá.
Obrigada por achares que este é um bom texto.
:-)