sábado, 18 de fevereiro de 2012

A joia (preciosa...)

Preciosa já tem maminhas e as ancas redondas quando inicia a atividade laboral. É uma mulher, a bem dizer.
Conseguiu o emprego de caixa no minimercado lá do lugarejo, a sua tia Inês já lá trabalhava e meteu a cunha. Isto na saloiada é assim... Bem como no resto do país, já se sabe.
Preciosa aprendeu cedo a manejar os artigos no sentido certo, com a etiqueta do código de barras para baixo. Artigos para o lar, frutas, legumes, mercearias, talho, peixaria... Havia até uma secção de arranjos de costura e outra do sapateiro mais corcunda que já se viu.
Mas vamos às etiquetas: todas têm um códigozinho às tiras pretas e minúsculas. A máquina sofisticadíssima só tem de fazer: Bip!
Tens de ouvir o bip, Preciosa. Tu vê lá... Põe-te a oferecer as coisas ao freguês, põe! Não ponhas para o lado sem ouvir o bip.
Preciosa aprende rápido, é esperta. Ninguém lhe faz a folha, não! Lida com as gentes do lugar, fala e conversa mas não dá confiança a ninguém. Sempre sisuda, confortável na pele de caixeira, porém.
Quando os anos passam Preciosa vira fufa, deu-lhe para aquilo! Amasculina-se e isso. Preciosa, veste umas roupas femininas, vá, que isto de ser mulher é interessante... Tens mamas, anca larga... e gostas de mulheres. Oh céus... Que desperdício, rapariga!
Preciosa vai aos bailes, dança desaustinadamente. Não há medos ou vergonhas que a abalem, lá na terra já toda a gente sabe, já tudo se habituou a essas modernices e até nem levou assim muito tempo. Preciosa é uma mulher trabalhadeira, qual é o problema se fode com mulheres ao invés de com homens? Ora essa! Interessa é a gente ser feliz...
Preciosa assentou. Tem uma companheira. É completa. Íntegra, até. Recentemente adotou duas lindas meninas... Lourinhas, com um ar tão angelical que só visto! Meninas essas que vão à escola sem sofrer de bullying.... Essa coisa de agora...

...

Olá. 

Sou a escrevente desta história banal... E confesso que não sei como a terminar. Queria algo pomposo e não acho nada condizente com a ideia de quase festa. Queria celebrar o amor e a felicidade que todos desejamos tão ardentemente. Lançar foguetes, fazer chinfrim...
Diz-se que um autor não termina a sua obra, antes a abandona, mas isso, às tantas, foi 'obra' dalgum escritor medíocre que viu nessa descoberta o almejado brilhantismo...
Fica-se assim; esta história fica assim. Abandono-a neste exato momento. O leitor abandone-a também, que está na hora.

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