sábado, 31 de maio de 2008

Apenas...

Vi-a porque assomou à porta da loja para me cumprimentar. Estava de passagem e não queria deixar de me dizer "olá!". Assim que a vi achei logo que ela tinha piorado, estava amarela e trémula.
- Então, Fátima? Isso* não está no bom caminho pois não? - ela encolheu os ombros e eu percebi que aquele encolher de ombros era a resposta para confirmar o que eu suspeitava. Encostou-se à ombreira da porta e eu vi como estava cansada. Saí de dentro do balcão e fui para a rua ter com ela. Acariciei-lhe a mão, estava a ferver...
- Fátima, você está com febre! - exclamei em tom de aviso.
- ...sim... - olhou em redor como se quisesse sentar-se. Pedi ao vizinho do lado que a deixasse sentar na esplanada e ele assentiu. Faladora como é, a Fátima começou a falar-me do motivo de andar na rua apesar das debilitações - que vinha sempre um bocadinho de manhã para a loja e sempre faz companhia à empregada (tem uma loja de lingerie), que em casa não tem nada que a entretenha e assim pensa demais, que tinha ido ao veterinário por causa das vacinas do cão e por isso é que tinha passado por ali, que o percurso era demasiado longo e por isso estava tão cansada, se o marido soubesse que ela tinha andado tanto... ralhava.
Tive pena mas tentei não demonstrar. Porém, acho que não consegui. Mas ouvi-a e deixei-a falar. Principalmente quando falou do veterinário e do cão. Esses, eram assuntos fora das doenças, assuntos triviais.
Custa ver alguém que apreciamos definhar. E o que custa nem é a doença, é o não se fazer nada...
Eu nem fiz nada por ela. Apenas saí do meu posto de trabalho para lhe dar atenção, apenas lhe acariciei a mão, apenas pedi ao meu vizinho do lado que a deixasse sentar na esplanada sem consumir, apenas a ouvi, apenas apreciei a companhia dela, apenas... apenas... apenas... é tão pouco para quem está a morrer, não é?


*cancro da mama

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Com tempo para passear (e para parar)

Não deixa de ser engraçado que eu hoje, por volta das dezassete horas, estivesse sentada a beber um café no centro comercial Atrium Saldanha. Eu ali sozinha num local e a uma hora totalmente fora do habitual, a ver o mundo girar à minha volta sem que eu lhe pertença, é caso para dizer...
Parei ali porque precisava de descansar um pouco, estava farta de andar a pé e tinha que parar. E parei ali. Pedi o café e sentei-me a saboreá-lo. Ouvi um piano a tocar no barulho de fundo. Quando me levantei e retomei o meu rumo o som foi ficando maior. Uma pianista tocava ao vivo, não era uma gravação. Fiquei a vê-la uns minutos, sem pressa. Não há dúvida que a música ali, aliás, aqui ao pé de mim é outra coisa, adquire uma vivacidade muito mais intensa do que se estiver a ouvir num CD. Digo, não que é outra louça, mas sim que é outra música!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Lisboa, 5 de Maio de 2008

Estou no Ginásio. Isto não me está a correr muito bem. Acho que estou sempre a fazer tudo mal. O Manel acha-me sempre com um ar infeliz e cansado. Eu não queria nada ser assim mas sou e não consigo mudar. Normalmente disfarço, quando o Manel - ou outro monitor qualquer - vem ter comigo sorrio, demonstrando - ou querendo demonstrar - que estou felicíssima mas não estou, sinto-me um caco por dentro.
Não estou a escrever muito à vontade, estou presa e tensa, não me vêm grandes ideias à cabeça para escrever aqui. A primeira coisa que me ocorre são os acontecimentos no Ginásio e isso é normal porque é no Ginásio que estou neste momento.
Que admiração quase todos fazem quando verificam que escrevo. É giro, isto. Eu até sou gira e interessante mas em simultâneo não consigo demonstrar isso. Estou sempre tensa e calada, quando falo é sempre sem eloquência. Ou se calhar até não, às vezes lá vai uma eloquênciazita ou outra...
Por acaso, ultimamente até nem me tenho achado nervosa. Estou muito mais calma do que há umas semanas atrás. Também não sei o que terá mudado... a vida, presumo!
Ah!... Vá lá, Gina!... Continua lá a escrever que é giro!!! Que mais há-de ser? Não sei muito bem, não...
Hoje de tarde estive sozinha na loja, soube-me bem a solidão. Ainda para mais não houve confusão nenhuma nem nada...
Escrevi bastante lá no P.C. da loja. O interessante foi que eu escrevi dois textos com sentimentos opostos e eu sinto tudo aquilo à mistura, não me entendo... mesmo!
Quando constato que não me entendo acho-me a pessoa mais parva do mundo. Como é possível que eu perca tempo com parvoíces deste género?


Se eu fosse uma pessoa sábia e culta, diria que este texto é composto por caprichos da minha imaginação; puros delírios. Assim, digo que este texto é o resultado de um elevado grau de parvoíce. Não tenho quaisquer dúvidas.

Caminhos

Não me apetece nada escrever. Mas escrever é algo que eu quero muito fazer. Gosto de transformar os meus pensamentos em palavras e quero continuar a fazer isso.
Talvez eu não encontre cadência na escrita porque agora não existe aquele algo que me embala. Não está aqui, foi embora e deixou-me como que só. Não posso chamá-lo nem sequer esperar que venha porque o algo é mau.
É preciso que esteja tudo desarrumado para eu procurar ajuda escrevendo. Assim, tenho a sensação de que tenho coisas para fazer e acho-me acompanhada porque estou a escrever, arranjo e componho o que penso. A cadência surge naturalmente, há um sincronismo: mente -> pensamento, dedos -> palavras, mente -> pensamento, dedos -> palavras... e cá dentro vai ficando tudo lisinho, sem vincos e arrumadinho por cores.
Porém, às vezes, também há cadência quando está tudo arrumado nas prateleiras e nas gavetas. Surge com as coisas boas de mim. Tenho-as e mostro-as, deixo que se vejam mas nem toda a gente as vê. Lamento isso mas não posso alterar-me porque não consigo.
A vida é assim, eu sei, cheia de curvas e desvios, caminhos tortuosos e esguios, com placas de sinalização indicando várias direcções, arestas para limar e nós para desatar rapidamente; não vá eu enforcar-me com o que penso.
O que está para além da caminhada de hoje eu não sei. Outros dias virão e eu ficarei a saber, ou não.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Especialmente para mim

- Mãe!... Tenho uma cadelinha no Sims! Chama-se Gina, assim já posso mandar em ti!!!



A rica filha quer mandar na mãe...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Que chatice!!!

"Ai mulher, estás tão magra!... Qualquer dia desapareces!..." é o que ouço algumas vezes.
Bem... não é que esteja tãããão magra, apenas estou muuuuito mais magra ou muuuuito menos gorda.
Não me chateia quando dizem que estou mais magra, não chateia nada não senhor! O que me chateia é que as mesmas pessoas que me dizem agora que eu estou tãããão magra são exactamente as mesmas que passavam a vida a dizer-me que eu estava muuuuito gorda! Então afinal não estou bem de maneira nenhuma, é?
Eh pá!... Chateia-me!...


domingo, 25 de maio de 2008

P' ra que servem os piaçabas?

O homem entrou na loja e perguntou-me se eu tinha piaçabas à antiga. Respondi que sim. Depois de ter na mão um "piaçaba à antiga" perguntou-me:
- E isto é feito de quê?
- É feito de piaçaba natural* - respondi num tom neutro mas pensei para comigo em tom indignado: "É claro que é feito de piaçaba!!! Afinal, foi o que me pediu!!!"
Ele quebrou o meu pensamento indignado porque pegou em dois piaçabas, um em cada mão e, em cima do balcão, simulou um tambor. Olhou para mim e sorriu perante o meu olhar que espelhava espanto.
- Sabe p' ra que quero eu isto? - perguntou-me, referindo-se aos piaçabas. Continuava a fingir que tocava num tambor manipulando os piaçabas como se fossem as baquetas** de um tambor. Demonstrava grande à-vontade no gesto denunciando assim que sabia mesmo manusear tais objectos.
- P' ra tocar num tambor?! - perguntei-lhe de volta, completamente surpreendida.
- Sim - disse simplesmente. E riu. Muito. Ri também por contágio e também pelo prazer da descoberta. E ele ia tocando em cima do balcão de vidro e rindo porque o toque produzia mesmo um som. E eu ria-me com ele.
- Hã? Que tal? Faz um som porreiro não faz?
- Faz - respondi eu - mas é capaz de em cima do tambor fazer um som diferente por ser de outro material - eu e a minha mania dos pormenores, até parecia perceber alguma coisa de tambores ou de percussão.

- Hã? Não!! Mas dá p' ra ver!!... - sorriso aos molhos que rapidamente se transformou em sonoras gargalhadas - até me fez rir!! Já viu?!
Fiquei a pensar se ele se estaria a rir porque me fizera rir a mim ou porque aquilo de que alguém lhe falara (tocar tambor com piaçaba) afinal era mesmo verdade; era mesmo assim; fazia um som mesmo porreiro...
Quero voltar a vê-lo para lhe perguntar.


*Nome de duas palmeiras que produzem fibras empregadas no fabrico de vassouras. Pesquisado aqui

**Ai o que eu andei para saber o nome de tal objecto...

imagem: Google

sábado, 24 de maio de 2008

Vale a pena rectificar

Quando foi para o ar o meu blog na Radio Comercial, foi-me feito previamente um questionário onde uma das perguntas era:
"Porquê Verde Água?"
Respondi: "Não tem uma razão muito específica, na altura de criar o blog achei que seria engraçado pôr o nome de uma côr, por ser abstracto, digamos assim. O "verde água" foi a primeira côr que me passou pela cabeça naquele momento."
Na altura em que a locutora falava acerca desta questão a minha filha disse com algum desapontamento na voz:
- Mãe, tu disseste que querias o nome do blog com uma côr e o "verde água" fui eu que escolhi...
Lembrei-me imediatamente da conversa dessa altura e de facto ela tem toda a razão - quem escolheu o nome para este blog foi a rica filha!!!
Apesar de ser uma coisa - aparentemente - mínima, aqui fica registada publicamente a rectificação. O seu a seu dono.




Bolo de cenoura com cobertura de chocolate



Ingredientes da massa:

1 chávena grande de cenoura ralada
4 ovos
1/2 chávena de óleo
1 copo grande de leite
2 copos grande de farinha
2 chávenas grandes de açúcar


Ingredientes do creme:

1 chávena pequena de chocolate em pó
1 lata pequena de leite condensado


Modo de preparação da massa:

Bata os ovos inteiros juntamente com a cenoura ralada, o óleo, , o leite a farinha e o açúcar até obter um creme. Depois leve a massa ao forno numa forma untada com manteiga e polvilhada com farinha.


Modo de preparação do creme:

Adicione o chocolate em pó ao leite condensado e leve ao lume mexendo sempre até levantar fervura. Quando estiver pronto cubra o bolo com este creme e decore a gosto.


É tão fácil de fazer quanto bom. Aconselho.

Ao Sábado:

Há uma divisão na minha casa que eu não uso diariamente - a minha sala. É bonita, simples e alegre mas não tenho tempo para lá repousar todos os dias mesmo que seja por uns minutos. Para isso acontecer teria que deixar de lado alguns passatempos, nomeadamente o meu blog. O tempo que me "sobra" gasto-o aqui.
Porém, aos Sábados - e hoje é Sábado - sento-me no meu sofá azul a bebericar o meu cafezinho e a ver música na TV. Sabe-me tão bem... e este Sábado - hoje - achei que era melhor não pôr música para ouvir o barulho do silêncio. Soube-me ainda melhor estar ali descansando, bebendo o cafezinho e ouvindo o barulho do silêncio. Não há melhor sítio para se estar, a minha casa é o melhor sítio do mundo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Às vezes há coisas assim:

Tocou o telefone. Depois de eu levantar o auscultador deu-se a seguinte conversação -

- S******** de D***** H****, boa tarde. Daqui fala a Gina. Em que posso tornar-me útil?
(isto é só um bocadinho de filme para dar cor ao post porque na realidade o que eu disse quando atendi foi o meu já clássico: "tou sim , boa tarde!")

- Quem fala? (pergunta feita como quem conhece muito bem o terreno)

- O meu nome é Gina. (educadinha e com um ligeiro toque de servilismo na voz, coisa pouca)

- Sabe quem fala? (convencida de que eu sabia)

- Não, lamento. Não estou a reconhecer a voz. (com pena por ir desapontar)

- É a Becas, irmã da Mimi. (convicta, muito perto da prepotência)

- Não sei quem é... (a desapontar mesmo, talvez até a ferir o orgulho à senhora)

- Estivémos aí ontem. Até estivémos a conversar com a menina e tudo. (desapontamento na voz)

- Desculpe mas deve estar a fazer alguma confusão. A senhora está a ligar para uma drogaria. (tentando dar a volta à questão por forma a desviar a atenção ao desapontamento e à ferida no orgulho da senhora)

- Drogaria? Não é uma perfumaria? (espanto, muito espanto)

- Não. É uma drogaria e fica na Rua R*** D********. Era para aqui que queria ligar? (aliviada pelo sucesso do desvio)

- Eu queria ligar para a Rua M***** S*****. Tenho aqui um papelinho que diz "Gina - 21*******". (o espanto deu lugar à dúvida)

- Pois, de facto os dados batem certo. Eu chamo-me Gina e o número de telefone é esse. Mas não me lembro nada de a senhora cá ter estado ontem. (dúvida desfeita mas a ferir o orgulho, certamente)

- Não se lembra? Então até estivémos a falar do medicamento! (indignação a potes)

- Não, não me lembro. Qual medicamento? (voando em queda livre, ou seja, à procura de mais um pouquinho de diplomacia antes de me estatelar no chão pela falta de táctica)

- Não foi a si que eu fiquei de dar o nome do medicamento para os gases?...
(dito num sussurro, não fosse estar alguém ao pé de mim e ouvir)

- Não, minha senhora. Não foi comigo que conversou. Eu não me lembro de falar sobre medicamento nenhum. (contendo o riso)

- Pronto! Deixe lá então! Eu vou ligar para elas... Obrigada. (resignada)

- De nada. Boa tarde. (elas... quem serão?)

Certamente não saberei nunca, por não ter problemas de gases.


terça-feira, 20 de maio de 2008

Olhar azul


Vi novamente aqueles olhos maravilhosos. Lá, dentro do olhar, há uma candura e uma felicidade invulgares numa senhora octogenária. E a candura não fica lá, vejo-a sair. E a felicidade acompanha a candura e contagia-me.
Cada vez que a vejo interrogo-me como é possível que alguém daquela idade mantenha um olhar assim, que priva a entrada à maldade e à tristeza e a outras coisas más. Aquele olhar é um miminho para os meus olhos. Fico feliz só de a ver. Se ela soubesse... qualquer dia digo-lhe.

Breve pensamento




segunda-feira, 19 de maio de 2008

Não pode ser consigo?

Por motivos profissionais lido habitualmente com homens - patrão, vendedores e colaboradores. Existe, ainda, a particularidade de a grande maioria dos meus clientes serem do sexo masculino. Estou, portanto, familiarizada com o jeito de ser masculino. E até sei quão mais fácil é lidar com homens do que com mulheres...
No entanto, é sempre com alguma apreensão que visito locais de predominância masculina, particularmente se não é dentro daquilo que domino, tal como aconteceu hoje. A minha máquina de lavar roupa avariou e era necessário ir buscar umas peças para o Luís a reparar.
Entrei e cumprimentei quem estava, dando as boas-tardes. Porém, ninguém retribuiu a saudação. A isso também eu costumo assistir frequentemente pois hoje em dia, durante o exercício das minhas funções, a maioria das pessoas não chega a cumprimentar-me, trata imediatamente de "despejar" o motivo que a levou até ali, pondo de lado a boa-educação.
Ali, do lado de dentro do balcão estavam três empregados: um ocupado com um cliente, outro ocupado ao telefone e um outro semi-ocupado, tinha artigos na mão e parecia querer arrumá-los no sítio. Fiquei à espera deste último por me parecer o menos ocupado. Ao fim de alguns segundos e respondendo ao meu olhar inquiridor (creio) disse-me baixinho, pela timidez:
- Boa tarde. É só um bocadinho que um dos meus colegas já atende, está bem? É que tem que ser com um deles... - mostrou-me um sorriso fugaz.
Ora eu tenho a mania - é o raio do feitio que tenho! - de dissipar tensões dizendo qualquer coisa. E assim eu, exibindo uma expressão divertida e desolada em silmuntâneo (creio), disparei isto:
- Tem mesmo que ser com um deles? Não pode ser consigo? É uma pena... - grande pausa; mesmo enorme; uma eternidade. Ele olhou para mim espantado e fazendo algum esforço, quer para não esbugalhar os olhos, quer para não abrir a boca - é que assim despachava-me mais depressa!... - eu acabei a frase e o homem, corado até aos tornozelos, enfiou-se lá para dentro levando com ele os artigos por arrumar. Só o vi uns minutos depois quando já um dos colegas finalizava o meu atendimento.

Ainda bem que não ando à caça porque se andasse, espantava-a toda. De medo.

domingo, 18 de maio de 2008

Flores campestres em memória

Maio é o mês das flores por excelência. Desde há uns dias para cá tenho observado as flores com mais atenção e, talvez por ter dado mais atenção às flores, aos pouco me tem vindo à cabeça memórias da minha infância relacionadas com as flores campestres.
Para quem não sabe, eu cresci por estas paragens saloias, muito próximo de onde vivo agora - Loures.
Quando criança, eu não era muito diferente do que sou hoje porque adorava passear, observar, tocar nas coisas e descobrir coisas. Entre estas coisas estão, claro está, as flores e plantas campestres das quais se vestiam os campos com a chegada da Primavera. Quando acabava os meus deveres escolares, eu partia à descoberta tendo por companhia o Tobi, o meu cão.
E assim me lembrei de fazer uma série de post's com fotos de flores e de plantas das quais eu guardo recordações de infância.
Esta série que hoje inicio, apenas tem um senão - não sei o nome de algumas das flores e plantas... mesmo assim, continuo!

Hum... se calhar não começo da melhor maneira... eu não era muito delicada para com as papoilas. Era até indelicada, arrancava os botões ainda por desabrochar e abria-os para ver que cor tinham. Havia-os em três tons - branco (que representava um pintainho), cor-de-rosa (que representava uma galinha) e vermelho (que representava um galo). Estas comparações não sei quem mas passou, talvez o meu pai ou a minha mãe. A verdade é que eu descobri que quanto mais claro era o botão da papoila mais jovem ela era e mais longe estava de desabrochar.
Com os caniços eu fazia apitos. Escolhia uma cana e depois entretinha-me a desfiá-la por camadas de modo a ficar fininha. Quando achava que estava no ponto, soprava e ouvia-se um som semelhante a um apito.
Hum... 'tou a ver que também não tinha delicadeza nenhuma para com os caniços...

E agora a primeira flor da qual não sei o nome. É pena não estar aqui a minha mãe para lhe perguntar. Por aqui há extensões enormes com esta flor e eu, ora fazia ramos enormes com elas e levava para casa (devo dizer que a minha mãe não achava muita piada porque lhe sujava a casa de terra), ora apanhava grandes quantidades e cortava-lhes o caule de modo a ficar apenas a flor e com linha e agulha fazia colares que punha ao pescoço e exibia orgulhosamente. Esta actividade era feita no meu quintal e assim a minha mãe já não se importava. Só tinha pena de os colares durarem apenas um dia... - uma vez mais, indelicada para com a natureza...
Desta planta também não sei o nome. Mas eu chamava-lhe - e ainda chamo - os "namorados". Havia uma espécie de jogo que fazíamos na escola quando dávamos passeios pedestres pelo campo. Há uma parte desta planta que se despega com facilidade ficando na extremidade uma substância que adere facilmente à roupa. E assim o "jogo" consistia em jogar os "namorados" às costas dos meus colegas para ver quem tinha mais "namorados". Quantos mais ficassem colados à roupa mais "namorados" se tinha. A parte mais engraçada era quando eles não davam pela presença dos "namorados" nas costas...

Bem... termino este post com a certeza de que em criança só fazia asneiras... sempre a estragar o meio ambiente. Enfim... infantilidades.

fotos: são todas da minha autoria e foram todas tiradas na região de Loures.

Lisboa, 23 de Maio de 2006

À minha frente está o Tejo, calmo e sereno. Ao longe Montijo, Barreiro e outras localidades que não conheço. Por cima o teleférico e atrás de mim árvores, muitas árvores... e à minha volta estão os sons - jovens conversadores que passam e me olham com curiosidade, gaivotas que por tão perto estarem me fazem companhia e um canto estridente que vem de um restaurante em pleno funcionamento. O canto, apesar de estridente, não destoa. Às vezes, há coisas que parecem estar fora do sítio mas não estão.

Onde estou? No Parque das Nações, em Lisboa!!!

sábado, 17 de maio de 2008

Sonho

Hoje tive um sonho horrível, quase um pesadelo - sonhei que o rico filho tinha morrido...
Estou a escrever porque desde que acordei o sonho ainda não me abalou da memória. Pode ser que assim abale.
Às vezes sonho que um dos meus filhos morre. No sonho sinto uma tristeza tão profunda e tão carregada de pesar que se torna impossível de suportar. Choro muito e idealizo a minha vida dali para a frente sem um deles. A dor da perda física é muito grande. E eu estou a sonhar! Olha se fosse verdade!
A parte boa é quando acordo. É um alívio tão grande! Afinal é um sonho, é tudo mentira. Que bom!
Quando me levantei fui espreitar o rico filho. Dormia profundamente... e agora está lá fora a jogar à bola com os amigos, cheio de vida.

Profissões

Já referi por aí algures que a minha profissão há uns anos atrás era costureira. As razões que me levaram a mudar de profissão são várias mas a principal foi porque assim se proporcionou. Há coisas que acontecem porque sim, a vida dá voltas e nem sempre vale a pena ficar a pensar nelas. É o caso.
Aprendi muita coisa com a profissão que desempenho hoje, estou muito diferente daquilo que era e, às vezes, pergunto-me se seria diferente do que sou no presente se tivesse continuado como costureira. Apesar de nunca poder ter uma certeza, tenho um pensamento: eu acho que não seria nada disto que sou agora se continuasse como costureira. E tenho um motivo para este pensamento: a profissão faz as pessoas e as pessoas fazem-se à profissão. Se eu não tivesse largado a profissão de costureira, hoje eu usaria óculos a tempo inteiro, teria as costas encurvadas e seria miudinha por causa de passar a vida de roda de alinhavos, chuleados, enviesados, botões e fitas de cetim. Ah... e ia também ler revistas de imprensa cor-de-rosa nas horas vagas e ia ver muitas novelas enquanto dava uns pontinhos à mão.
A profissão que desempenho hoje - e desde há 14 anos - é balconista. Com esta profissão tornei-me diplomata e destemida, opinativa e conselheira, conversadora e ouvinte. Não tenho qualquer dúvida de que me fiz à profissão e que a profissão me fez ou me tornou nisto que sou. Sou alguém que aprendeu a dizer o que tem que dizer sem temor - ainda que isso não suceda sempre - sou alguém que aprendeu a opinar e a aconselhar - ainda que isso não faça, de maneira nenhuma, parte do meu feitio - e sou alguém que conversa bem mas ouve muito melhor. É por deixar espaço aos outros para falar que quando chega a minha vez digo pouco. Não tenho tempo para ver TV nem interesse algum em revistas de imprensa cor-de-rosa ou novelas. Prefiro ler, escrever, passear, ouvir música, estar com a família. Aqui talvez seja mais pela evolução natural da vida do que devido à profissão.


Reparaste que sei muito melhor naquilo em que me tornei do que aquilo em que me tornaria? Claro!!! É normal!... Afinal estou a descrever a minha realidade de hoje, aquilo que conheço.

sexta-feira, 16 de maio de 2008




"Este caderno tem andado por aqui em cima dos móveis do meu quarto. Comprei-o com o intuito de andar comigo na mala para eu escrever o que me vem à cabeça e que seja adequado para publicar no meu blog. Há aqui alguns textos ainda por transcrever e é por isso que há uns dias atrás fui buscá-lo ali à caixa que está debaixo da minha cama e pu-lo à vista para me lembrar de transcrever para o meu blog o que falta.
Hoje, o Luís pensando que era um caderno de escola de um dos miúdos (este caderno é igual aos cadernos que o rico filho tem) abriu-o e leu o último texto que eu escrevi em Julho de 2006 e que relata uma conversa que o meu irmão teve comigo onde me chamava a atenção para uma série de atitudes do Luís com as quais não concordava demonstrando uma espécie de desdém mascarado de exortação. Não gostei de ouvir mas aceitei. Mesmo aceitando, fiquei muito triste e custou-me muito ouvir. Assim, desabafei escrevendo aqui. O Luís ficou triste e aborrecido(...)"


Este acontecimento reforçou bastante a ideia de que os diários são como a Caixa de Pandora. Quando abertos e lidos descobrem-se segredos guardados e às vezes já esquecidos como este. É como se todos os males que existem no mundo estivessem à espera de uma fresta para se escapulirem cá para fora e trazer toda a infelicidade.
Cá em casa ninguém liga a mínima ao meu diário, ninguém demonstra curiosidade em lê-lo. E ainda bem. Já referi aqui pelo meu blog várias vezes que uso essa escrita para registar acontecimentos e estados de espírito, mas que é uma escrita muito diferente da que faço no blog. E agora também já sei que afinal até tenho segredos. Era um segredo, deixou de o ser e tornou alguém infeliz. Eu própria, não consegui deixar de me sentir infeliz por aquilo que escrevo trazer infelicidade a quem amo.

foto: o "tal" caderno

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Um dia chamado "não faz mal"

Eu transformo os deveres em urgências. E depois fico cansada. Muito cansada. De seguida desejo fortemente que haja um dia em que não existam deveres. Um dia em que não faz mal não fazer o que devo.

  • Não faz mal não ir trabalhar.
  • Não faz mal não dizer bom dia.
  • Não faz mal não advertir.
  • Não faz mal aborrecer-me com nulidades.
  • Não faz mal ter um ar de enjoada com a vida.
  • Não faz mal não varrer o chão.
  • Não faz mal deixar de responder.
  • Não faz mal não ir ao Ginásio.
  • Não faz mal ter-me esquecido de comprar leite.
  • Não faz mal não dar atenção à conversa.
  • Não faz mal não limpar o pó.


Um dia chamado "não faz mal"? Desengana-te Gina. Esse dia não chegará nunca.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cabelos brancos...

... não lhes fico indiferente, não gosto de os ter. Contudo, não me apetece pintá-los como faz a maioria das pessoas da minha idade ou até bem mais novas que eu. Mas também não me apraz assumi-los. Quando me olho ao espelho já não vejo frescor nem juventude e isso traz uma saudade que sabe a irrecuperável porque é um tempo que não virá nunca mais.
Sem dúvida que a melhor via é aceitar. É também a via mais barata de manter a minha cabeleira. E é também a via mais saudável...
Não sei muito bem como é que eu faço estas coisas, iniciei este texto com um ideia e acabo-o com outra, oposta! Mas agora que já achei grandes vantagens para esta questão - vivam os meus cabelos brancos!!!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Os "gajos das obras" mais queridos que eu conheço

Quem disse que os "gajos das obras" são todos umas bestas insensíveis? Eu disse. Mas hoje, mudei de ideias... por isto:

Há obras lá na rua onde fica a loja onde trabalho. Andam a esburacar o chão para mudar os canos da água e por isso o acesso às lojas e às portas dos prédios está dificultado por existir uma vala para aí com um metro de profundidade. Ora eu sou uma mocinha que anda sempre de um lado para o outro, é um entra e sai todo o dia, saio com frequência da loja e, obviamente, vou ter que voltar a entrar. A vala agora está mesmo à minha porta e a mim custa-me horrores dar trabalho porque de cada vez que eu saio ou entro, um dos "desgraçados dos gajos das obras" tem que pôr um tábua a fazer de ponte para eu atravessar e até o "gajo" da escavadora pára a máquina só porque eu tenho que passar. Como já disse, custa-me horrores dar trabalho às pessoas e uma das vezes em que saí da loja disse ao homem que não era preciso pôr a tábua que eu atravessava assim de um salto, que até nem me custava nada, que eu conseguia, blá blá blá... Resultado? O que estava dentro da vala levantou os braços e disse: - Não senhora! Não salte! Nós pomos a tábua. Dois ou três (já nem me lembro) tomaram a iniciativa de ir buscar a tábua e o da escavadora parou imediatamente a máquina... não queriam que eu me aleijasse... que solícitos!


Vês, Gina? Os "gajos das obras" não são todos umas bestas insensíveis. É verdade que há aqueles que acham que tu (eu) não sabes qual é a diferença entre um casquilho e uma porca de redução... só porque és (sou) uma mulher. Mas isso hoje não interessa para nada...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

- Os morangos são a quatro euros e noventa e cinco o kilo?!?! - perguntei eu com a voz carregada de espanto.
- Não... é um euro e noventa e cinco o que está aí escrito. Eu às vezes faço uns números um bocado esquisitos. Nunca tive jeito para números - respondeu o merceeiro onde habitualmente me abasteço.
- Então e para as letras, tem jeito? - quis eu saber.
- Também não...
- Então já estou a ver porque é que o senhor passa a sua vida a mexer na fruta...
- Pois... - fez ele resignado.

(que malandreca que eu sou...)

domingo, 11 de maio de 2008

O meu blog já deu um programa de rádio

Ontem, às 20:42 escrevi assim:
"Às 21h vai para o ar o meu blog... estou ansiosa. Nem sei que pensar, parece-me bom de mais que alguém gaste tempo a fazer um programa de rádio com aquilo que escrevo, já que escrevo de uma forma tão pessoal. Será que vão dar a entoação certa? Quero dizer, assim como eu daria se fosse eu a fazer o programa... espero que sim. Espero gostar dos textos que escolheram, da voz que se vai ouvir, da entoação que vai dar, das músicas que vão dar o ambiente ao programa."
Depois de o programa ir para o ar devo dizer que não estou desapontada: A D O R E I ! ! ! É espectacular a sensação de ouvir alguém ler os meus textos dando-lhes a entoação certa. Gostei muito de escolherem uma voz tão jovial e alegre para apresentar o programa. Gostei do primeiro post que escolheram para apresentar, não poderia haver melhor escolha para começar. Gostei das músicas e da ligação que tinham com o que estava a ser lido. Gostei de terem escolhido textos que incluíam os ricos filhos, as minhas idas ao Ginásio, as minhas opiniões... Ali, em directo para quem quisesse ouvir. Também gostei de constatar que o meu blog passa a imagem certa da minha pessoa: uma mãe de família que gosta de escrevinhar o que lhe passa pela cabeça. Agora já tenho a certeza que o meu blog transmite isso.
Aqui fica o meu muito obrigada a toda a equipa da Rádio Comercial por me proporcionar momentos tão fantasticamente agradáveis!

sábado, 10 de maio de 2008

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Sim... o meu blog vai mesmo dar um programa de rádio!!! Hoje à noite às 21h e amanhã às 13h na Rádio Comercial.
Se porventura ficares triste por não poderes ouvir em directo o meu blog ser lido na rádio, não continues triste porque podes ouvir posteriormente se acederes aqui e ouvir sempre que te apetecer. Há-de lá estar o link com o título do meu blog. Eu vou clicar lá algumas vezes com certeza.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Hoje estive em casa de um casal idoso e admirei o gosto com que me mostraram a sua casa e as suas coisas.
É frequente eu entrar em casa de pessoas que só conheço na loja ou nem isso, a manutenção doméstica faz parte das funções do meu marido e por vezes acompanho-o durante a execução das suas funções.
Este é um casal simpatiquíssimo e muito simples nos relacionamentos embora tenham conseguido algum estatuto social devido à gorda conta bancária, são um bom exemplo de quem trabalhou toda a vida amealhando uns trocos e podem, agora, desfrutar de uma vida desafogada de preocupações financeiras.
Enquanto o Luís trabalha eu faço de relações públicas qual diplomata, ou seja, digo umas gracinhas e mando umas larachas, uns bitates e o que vale, é que normalmente caio em graça. Abro o jogo e as pessoas vão cedendo admiradas...
Hoje dei por mim a pensar que é fácil ser recebido em casa de alguém na condição que relatei no primeiro parágrafo deste post, talvez seja porque normalmente não tenho a mais pequena perspectiva em relação a nada nem a ninguém, basta-me ir observando e dizendo alguma coisa. Considero deveras importante dizer alguma coisa, é sinónimo de que se está alinhado na conversa ou que se está a dar atenção e importância à conversa das pessoas. Sem modéstia digo que acho que tenho facilidade em me relacionar desta forma com as pessoas.
Depois vem o estorno, sou contemplada com o admirável gosto com que algumas pessoas me mostram a sua casa e as suas coisas e me falam de si próprias ou da sua vida. Eu dou para receber. Esta frase é como um tesouro valiosíssimo mas escondido, a maioria das pessoas não faz uso dela... esta frase podia e devia ser vivida. Eu tento muito vivê-la mas é verdade que não consigo isso sempre.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Hoje deu-me a ideia de que devo estar a ficar um bocadito diferente...

... porque eu estava dentro da montra da loja fazendo uso da pouca habilidade que possuo para a modificar e em silmuntâneo criar harmonia (ou seja, a fazer montras não me safo lá muito bem...) quando passou um menino de uns três anos acompanhado do avô.
- Avô - disse o menino - o que é que o homem está a fazer ali dentro?
É na palavra "homem" que está o cerne! o âmago! o núcleo! deste post...

terça-feira, 6 de maio de 2008

parvoíces

eu não devia ser assim... tão emaranhada em sentimentos... uns levam a outros e outros levam a uns e por aí fora... estou cheia de nós... quero perceber-me mas não dá... quero perceber-me porque preciso de me perceber... não serve para nada mas quero... se não me serve para nada porque preciso eu de me perceber?... porque não deixo andar isto como está?... porque me pergunto tanto?... para concluir que sou parva... depois disto ainda me acho mais parva do que antes da conclusão... e assim a indignação faz-se sentir... para quê isto?... não sei... e concluo que sou parva ao quadrado porque não sei... parva a dobrar porque deixo escapar a felicidade... mais parva do que antes porque não alcanço os bons sentimentos... gasto o tempo a pensar que sou parva e os maus sentimentos afloram e não se diluem... não desaparecem porque eu estou permanentemente a pensar no grau de parvoíce que possuo...
ah!... não sou nada parva!... que grande parvoíce pensar isso!... hoje é um daqueles dias em que não tenho a mais pequena e leve ponta de paciência para me aturar!!! palavra que não sei como é que tu me aguentas!!!
e assim vida corre e vai passando.... eu fico no mesmo sítio, é o que me parece... tudo passa ao meu redor e eu não me movo para tocar no que me pertence... descanso e deixo...
e a vida vai passando e eu vou mudando... mesmo ficando aqui, no mesmo sítio, vou mudando... afinal, eu não me mexo e mudo à mesma... então acho que devo deixar-me andar ao sabor da vida e esperar a mudança... estarei certa?.. ou por outro lado devo arregaçar as mangas, encher o peito de ar e empinar o nariz como se fosse dona do mundo?... talvez não... eu devia era continuar sentada a ver a vida passar à minha frente como se fosse um filme que eu assisto de fora, não fazendo parte do elenco nem participando no guião... estou aqui e não faço parte... mesmo que arregace as mangas nunca faço parte de nada na minha própria vida...

Adenda ao post anterior

Ontem, depois de ler o comentário do Waterfall, fiquei a pensar no que escrevi. Achei por bem criar uma adenda ao post anterior.
Fui demasiado sucinta e intimista nas palavras que escolhi para descrever como me sentia. A força a que me referia era a um Deus que nem sempre eu tenho a certeza que exista. Naquela hora senti que poderia ser um deus qualquer, qualquer um, ou qualquer coisa mesmo que desconhecida, serviria para me aliviar. É comum, quando tenho algum problema, pensar na possibilidade de transferir a minha carga para algo ou alguém, como forma de escape para os meus problemas. É também comum, pensar numa entidade espiritual ou num ser com capacidades superiores às da minha pessoa para me ajudar. E, é mais uma vez comum, lembrar-me de Deus... quando o meu cerco se aperta, quando não não tenho força para transportar a minha carga sozinha.
Tudo isto que acabei de escrever gira à volta do que não se vê, apenas se sente. E há tantas maneiras de sentir e ser espiritual, como pessoas há no mundo. Acaba por ser um assunto tão diverso que se torna desconhecido e por isso, para mim, muito atraente.
Escrevi que o desconhecido me atrai porque acho que o mistério é muito apelativo, seja ele de que índole for... acho isto, porque o mistério tem a capacidade de se transformar no que eu quiser que seja. Porque é mistério posso imaginar do modo que mais me aprouver...

domingo, 4 de maio de 2008


O terreno que piso continua instável e a carga é pesada. Queria que houvesse uma força qualquer para me aliviar do peso, até podeia ser uma força estranha e desconhecida que eu não me ia importar nem um pouco com estranhezas e, para além de tudo o mais, o desconhecido atrai-me bastante.
foto: Albernoa-Alentejo

sábado, 3 de maio de 2008



Há já uns tempos que reparo que quando viajamos de carro os ricos filhos trocam de lugar de cada vez que paramos para esticar as pernas ou por qualquer outro motivo. Hoje fizemos uma grande viagem e eu lembrei-me de lhes perguntar porque faziam aquilo.

Rico filho - Não sei... é sem querer yaaa?!?!

Rica filha - Sei lá... eu nem reparo yaaa?!?!


- Prontus!!! Tá bem!!! - exclama a mãe.


foto: os ricos filhos em Albernoa, o destino de hoje.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O gato Belchior

Quando a coisa vai de mal a pior. Quando não há túnel nem luz nenhuma lá ao fundo. Quando me acho má e perversa, desinteressante e aborrecida, dissimulada e mentirosa. Quando penso que sou indigna de ser chamada de "mãe" porque a Maternidade é uma Dádiva e eu não sei educar os meus filhos. Quando me indigno porque não tenho sequer paciência para a minha própria mãe. Quando me parece que nem a porra de uma queca sei dar. E, finalmente, quando faço comidas que são uma merda... eis que -


- me lembrei de uma vez em que fui a casa de um casal que conhecera recentemente. A certa altura, a dona da casa foi ver o bebé que choramingou. Fiquei ali sozinha na sala. Eu e o gato Belchior. Distraí-me e alheei-me do sítio onde estava. De repente, senti uma coisa pesada no meu colo. Era o Belchior. Tinha pulado para cima de mim porque simpatizara comigo. Queria carícias. As minhas carícias. Isto, sem me conhecer.
Sempre ouvi dizer que os animais conhecem as pessoas e só se aproximam se forem confiáveis. Eu, mesmo com toda esta malvadeza que quase apregoo ter, atraí um animal de modo a que ele procurasse um contacto físico. Como fui eu capaz de tal feito sendo uma pessoa tão má? Não sei. Até sei, é porque não sou má.
Acariciei o Belchior e falei com ele baixinho.
Naquele dia a minha vida parou naquele momento. E hoje também.

Auto-estima (quase) inexistente

A minha auto-estima é uma caca. Aliás, a minha auto-estima nem sequer é minha porque não existe. Eu não gosto de mim porque quero sempre ser diferente daquilo que sou. Não encontro prazer em nada do que faço e quando faço, acho sempre que está mal feito. Acho-me a criatura mais parva que existe neste mundo. Quando escrevo aqui, não penso muito porque senão, não conseguiria manter este blog público. É por isso que às vezes me alegro em ter poucos leitores. Como poderia eu ter muitos leitores se não escrevo de forma interessante? Como posso eu ter amigos se não me apetece falar? Não sei. E como acho que estou errada, gostava de ser diferente. Se gostava de ser diferente é porque não gosto disto como está. Se não gosto disto como está é porque não gosto de mim.
Porém, há momentos menos maus. Há momentos em que sei que o bolo até está bom. Há momentos em que acho que tenho uma grande lata e até consigo convencer alguém de algo. Há momentos em que até escrevo aqui textos que fazem rir ou chorar. Pelo menos a mim, fazem.
Mas... nunca ponho de lado a ideia de que o que eu faço, digo ou escrevo não interessa nem um pouco...
Há quem goste de mim. E a esses, desiludo-os sempre exactamente porque sou assim. É por isso que eu queria ser diferente.