terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O janeiro vai hoje embora e o dia tem mais uma hora.

Lisboa, 31 de janeiro de 2012

Eram dezassete horas e trinta e sete minutos da tarde. E olha só que claridade!

Ausência

O anúncio confirma-se: o homem das lixas nunca mais cá apareceu. Terminou a obra. Até sempre, caro senhor.
Não estou a ser irónica, este senhor era fantástico, atende-lo era muito fácil, não me chateava a mona com os preços, chamava os nomes corretos às coisas, nem se detinha indeciso entre dois produtos. E também não me comprou somente lixas, já se vê.
Ouvi dizer que é massagista, gostava de saber se é tão expedito assim na anatomia. Os massajados agradecerão, certamente.

Dias de um ginásio

Fui para uma máquina de braços que tinha o ferrinho nos 50 quilos. Eh lá... Quem terá sido a besta que aqui esteve, pensei eu, enquanto retirava o ferrinho e os colocava nuns humildes 15 quilitos...

Sonhos que eu tenho

Lisboa, 31 de Janeiro de 2012


Eu tenho o sonho de tirar fotografias a torto e direito à avenida 24 de Julho (Lisboa)... num dia 24 de Julho.

Eu tenho o sonho de tirar uma ou duas fotografias à rua 28 de Setembro (Ponte de Frielas)... num dia 28 de Setembro.

Eu tinha o sonho de tirar uma fotografia ao Mercado 31 de Janeiro (Lisboa - Saldanha)... Já se percebeu, ?

A achega que faltava

Queda das consoantes mudas

A queda das consoantes mudas, a bem dizer, era a única questão do Novo Acordo Ortográfico em que me sentia minimamente informada. Caem todas as consoantes que não são ditas, desaparecem, caput!
Com exceção... Do 'h'. Esta letrinha fantástica continua por uma questão de etimologia, para obedecer à origem da formação das palavras. Ainda bem! Escrever o 'omem oje está úmido' seria coisa para me escandalizar...

Del

É Delmira! Delmira, Delmira, Delmira. Agora já não me esqueço, eu que fazia confusão com Belmira, agora já não faço. A dona Delmira disse-me em tom de ensino:
– Olhe lá, não sou Bel... Não sou bela. Sou Delmira. Del-mi-ra.

Viu-me de roda da garrafa de água:
– Olhe lá, menina, quer emagrecer?
– Não, dona Delmira.
– Cá pra mim você quer emagrecer. Mas olhe que fica mais feia!

Mais feia...? Ó dona Delmira, a que não é Bel...

10:12

Olá, bom dia. Hoje começo por dizer que a polpinha do meu polegar direito, a que estava toda ela preenchida por uma enorme frieira no passado domingo, tanto que nem conseguia descascar batatas e ontem manuscrever era um verdadeiro tormento, hoje tem uma rachinha de atravessado e um ponto vermelho na ponta. Oh...

Isto melhorará. Tenho cerca de mais trinta dias deste desconforto, se bem conheço o que a aridez do inverno provoca nas extremidades do meu corpinho.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Autorretrato?

É mesmo, autorretrato... Vamos lá a escrever como deve ser.

Lisboa, 30 de Janeiro de 2012

Achegas

Registo hoje vários aspetos do evento de sábado (a ver se fixo que os dias da semana se escrevem com letra minúscula), o workshop sobre o Novo Acordo Ortográfico.


Para começar, devo dizer que o evento foi produzido e realizado através do site 'Palavras Maquilhadas', cuja autora é alguém com quem me estreei no estatuto de tia. É engraçado e estranho ao mesmo tempo verificar que a anfitriã do evento é alguém a quem eu mudei as fraldas, dei o biberão, aturei birras e respondi aos comuns 'porquês' (e se ela os tinha!) das crianças de três anos. Assim se vê: é a isto que chamamos vida e rodar dos tempos – hoje assisto a eventos produzidos por esse pedacinho de chicha*.

(*Termo carinhoso com que a minha mãe tratava a mim ou ao meu irmão, e a cada um dos seus cinco netos.)

No final fui apresentada à oradora como tia, e bastante surpreendida quando pouco depois ela lhe anuncia:
– A minha tia escreve!
Fiquei ali num impasse, em particular quando vi o genuíno interesse nos olhos da senhora, que exclamou:
– Mas esta é uma família de escritores!
Ups! Oh céus, o que é que eu digo?! Não estou habituada a estas atenções, ai minha mãe, meu pai... É isso mesmo! O meu pai! Rebusquei a família, contei rapidamente que herdei do meu pai o gosto de registar factos reais, que ele o faz toscamente num bidão que contém água e na porta do quintal. E eu... Escrevo uma espécie de crónicas num blogue. É isso.
Em suma, e uma vez mais, adorei a tarde de sábado porque não costumo ter o privilégio de contactar com pessoas que escrevem ou estão no meio de letras e às vezes essa solidão dói e pesa um bocadinho. Estar ali foi uma lufada de ar fresco.

Seguidamente saliento pequenas aprendizagens, porque escrevendo sempre fixo melhor.

Letras Maiúsculas/Minúsculas

Os axiónimos, ou seja, as formas de tratamento (doutores, engenheiros, diretores, etc.) passarão a escrever-se com minúsculas. Os pobres coitados foram despromovidos, portanto. Pequeno à parte: eu já escrevia assim...

Os dias da semana, meses e estações do ano também lhes foi retirado algum valor, nada de letras maiúsculas, é tudo minor.

Os pontos cardeais também foram destronados mas não tão radicalmente. Caso nos refiramos ao ponto cardeal como região, por exemplo: 'a comida do Norte é muito boa', aí sim, letra grada, por favor.

Acentos

As formas verbais: 'lêem', 'vêem', 'convêem', 'dêem' e 'crêem' deixaram de ter acento circunflexo no primeiro 'e'. Já as formas verbais 'têm' e 'vêm' permanecem como antes.

Retirou-se acentos a uma data de palavras: 'pára', 'pêra', 'pêlo', 'pólo'. Segundo os especialistas, a gente que se amanhe para perceber o texto, busquemos ajuda ao léxico, tiremos a limpo o resultado daquilo que estamos a ler mediante o contexto.

Hífens

As formas verbais do verbo 'haver': 'hei-de', 'hás-de', 'há-de', 'hão-de' serão partidas ao meio, dirão adeus aos tracinhos formando duas palavras.
'Hei de', 'hás de', 'há de', 'hão de'. Fica esquisito... Confesso que ouvi a explicação para esta mudança e considerei-a plausível, mas não a fixei para poder registar.
Há mais novidades nos hífens, nomeadamente, e foram estas as únicas que apontei no bloquinho que me ofereceram à entrada, 'minissaia' e 'antirrugas'. A brincar, a oradora disse que a minissaia ficou maior e eu lembrei-me que o antirrugas ficou com mais um repuxo.

Bolo de Chocolate com Courgete e Avelãs

Mais um bolo! Descobri no blogue Cinco Quartos de Laranja mais concretamente aqui. É um bolo diferente, de gosto suave e ligeiramente húmido. Experimentem! Alterei umas coisitas e ei-lo!





Ingredientes

350g de farinha com fermento
50g de cacau em pó
1 colher de café de canela, outra de gengibre, outra de erva-doce
150ml de óleo
375g de açúcar amarelo
3 ovos
2 colheres de chá de baunilha
450g courgetes raladas com casca
150g de avelãs tostadas e picadas
1 pitada de sal

Cobertura

200g de chocolate para cozinha
100ml de natas


Aquecer o forno a 180ºC.

Numa taça combinar a farinha, o cacau, a mistura de especiarias e uma pitada de sal.

Noutra taça juntar o azeite, o açúcar, os ovos, o extracto de baunilha e a courgette ralada. Mexer e de seguida juntar os ingredientes secos já misturados.

Juntar as avelãs. Mexer.

Colocar a mistura numa forma redonda untada com margarina ou óleo em spray.

Levar ao forno a cozer durante 45 a 50 minutos. Depois de cozido, deixar arrefecer. Desenformar.

Levar o chocolate partido aos pedaços e as natas a banho-maria. Mexer muito bem até estar completamente derretido. Colocar a cobertura por cima do bolo.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Fim de semana

Ontem...

Fui a um workshop sobre o novo acordo ortográfico na Biblioteca José Saramago, Loures. A experiência agradou-me bastante, não me dou com muita gente que tenha a escrita como atividade ou sequer como passatempo, de maneira que foi muito agradável ver e ouvir gente que como eu é apaixonada por tudo o que se relacione com o ato de escrever ou a escrita em si.
Aprendi uma série de coisas acerca deste novo e polémico modo de escrever sem erros, como por exemplo 'fim de semana' (título) agora já não se escreve com hífens...

Loures, 22 de Janeiro de 2012

Hoje...

Devo dizer que estou cansada da cozinha e de compor tudo e mais alguma coisa aqui em casa. Mas deixo fotos da comidinha...



Deixo, ainda, e já agora, outras brincadeiras que fiz com o amiguxo Picasa. Quando intervalei o árduo trabalho doméstico com pequenos e fúteis prazeres do ego, pois claro.


E assim me despeço: até amanhã.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tutear

Enquanto dava uma voltinha pela banca duma livraria folheei um livro (não fixei o título ou sequer o autor, infelizmente) escrito na segunda pessoa. Falava diretamente para o leitor – tu senta-te a ler, tu vais ver que acontece tal coisa, tu agora estás a pensar isto, tu vais sentir aquilo.
Em tempos tive a mania de escrever assim, vivia a ilusão que estava a conversar animadamente e cheia de atenções, o clima que eu criava ficava ainda mais intimista. Mas o tempo, essa existência que desfaz ilusões e altera ideias, mostrou-me que as pessoas se amedrontam com o interesse e a atenção.

Mas, seja lá como for, a ver se compro o livro. Continuo a gostar da ideia de tratar o leitor por tu, ou de escrever como se o estivesse a fazer para uma única pessoa. E tenho para mim que hei-de gostar de ler o tal livro.

Ciclo

No título está 'ciclo' mas eu não sei se é um clico, se tem a ver com menstruações ou luas ou outra coisa redonda e/ou giratória que haja neste mundo. Inclino-me para que seja uma substância qualquer que anda cá dentro aos pulos e de vez em quando é ouvida, uma vontade espontânea, chamo-lhe antes assim. E a vontade é esta: repentinamente lembro-me que o chocolate é um alimento que existe e é bom p'ra caraças. Imagino o derreter lento, o gosto doce, a textura suave, a pasta liquidificando aos poucos dentro da boca, escorrendo...
E vou comprar um chocolate assim que posso. Nham, nham! Depois sou uma besta, encho a boca com a guloseima em grandes pedaços, mastigo tudo sofregamente, engulo como se estivesse a esconder este sublime doce de alguém imaginário, amedrontada com a ideia de que esse alguém mo tiraria.
E fico satisfeita. Bem comigo e com a vida. Chega-me uma calmaria qualquer. Estou em paz. Ah...

Dias de um ginásio

Uma senhora tão quarentona como eu, já equipada com o fato de ginástica, mirava-se no espelho estendendo a t-shirt na zona da barriga, como se quisesse que a dita proeminência se enfiasse debaixo da roupa milagrosamente.
– Pois é, a gente engorda e acha que a roupa tem de acompanhar! Só que não acompanha...

Ó 'miga, é assim: a gente?A gente?! Veja lá isso, se faz favor. Fale por si, ora essa!

Torcer o pipo

Não sou violenta mas a vontade de torcer o pipo a alguém por vezes faz-se sentir. Por causa desta intensa vontade de torcer os pipos das pessoas que me enervam, lembrei-me do meu pai. O meu pai torcia o pipo aos pombos, que eu bem me lembro. Mas não que os bichos o enervassem. Acontecia quando eles começavam a ser mais que muitos e a despesa se tornava incomportável ou então porque o pombal estava a ficar demasiado apertado.
Comíamo-los fritos em azeite, cebola, alho, uma folhinha de louro, refrescando com um pouco de vinho e acrecentando depois de tudo bem cozinhado um ovo ou dois. Era bom. A carne era escura e densa mas muito gostosa.
Mas vamos à torcedela de pipo. Eu não suportava ver o meu pai extinguindo a vida dos bichinhos, ver toda a cena afligia-me. Mas conheci bem todo o aparato. Lembro-me de vê-lo de costas, os braços tensos, as mãos torcendo o pescoço, pressionando a veia jugular. Eu já só via os cadáveres em cima do muro, cabeças pendendo, olhos semi-fechados, o corpo inerte. Ali por perto já havia um alguidar. Depois era escaldar, depenar, amanhar. Nestas tarefas já eu ajudava um pouco. Gostava particularmente daquela parte em que o meu pai limpava as vísceras, ver a moela ser cortada e sairem de lá pedaços muito miúdos, mesmo desfeitos, de milho e outros cereais. Depois era a vez de a minha mãe tratar do resto, como já referi acima.
O leitor não pense que me fazia impressão comer pombinhos, imaginando-os queriditos e fofinhos como se fossem bebés amorosos e com essa visão alguma tristeza me assolava a cabecita. Não. Afinal de contas eu ajudava (ou vigiava atentamente) na limpeza e preparação destas aves. Comia e pronto. Protegida pela lei da vida, talvez... A ordem natural das coisas, quiçá... Mas não me vejo a torcer pipos, lá isso não.

Rosa e isso*

Lisboa, 27 de Janeiro de 2012


*Ou mais uma demontração do que de (in) útil se pode fazer com o meu mais recente amiguxo: o Picasa.

Macho que é macho...

Ora bem, eu quero uma bica, um xiripiti... e agora... o que é que eu vou escavacar*?

*Era a sobremesa que este macho escolhia, olhando a montra com atenção. Macho que é macho não come... escavaca a sobremesa.

Lembradura*

Lembrei-me de colocar aqui uma foto com a minha figura de lápis enfiado na boca, mostrando ao mundo como fico cómica e engraçada e mais não sei o quê. Entretanto percebi que tal ato é coisa para parecer muito mal. E eu sou uma daquelas bloguistas que não coloca nada no blogue que pareça muito mal.

*devida ao post anterior

Ausência

É meio dia e não sei quê e hoje ainda cá não apareceu o homem das lixas... Ontem, na sua segunda visita, recebi-o com o lápis enfiado na boca. Fiquei um tanto ou quanto atarantada e por causa disso o homem deve ter pensado que eu me espantava com a sua repetida presença neste lugar. Tanto que me anuncia logo a seguir:
– Eu agora não venho comprar lixas!
Já não me lembro o que me comprou, só me lembro que me disse que para a semana me verei livre da sua pessoa. O que me faz pensar que para a semana terei menos meia dúzia de motes para escrever.

À semelhança

Diz que os casais se tornam parecidos fisicamente pela prolongada convivência. Quando chega ali ao meio século, é vê-los muito iguais, gestos e repentes parecidíssimos. Feições similares...
Se calhar é. Talvez seja. Mas... Eh pá, eu cá não quero nada disso! Olha eu igual ao meu marido?! Que fazia eu com aquilo?!

E ao contrário?! Piora bastante... Oh céus!

Com ou sem agá

Por causa da Hema lembrei-me da Ema.

Ema tinha sobrenome de erva aromática. Fazia queijos frescos e vendia-os para fora.
De resto, mais nada.
Só se disser que Ema punha os queijos a secar no muro do quintal e o meu segundo cão, o Dick, os comia.
Só se disser que o Dick, esse animal inquieto, lhe entrava quintal adentro e espantava e retraçava as galinhas.
Só se disser que não estou certa quanto à história das galinhas.
Só se disser que Ema, como forma de protesto e vingança, envenenou o bicho.
Só se disser que houve um zunzum enorme na pequena localidade quando se pensou que um dos descendentes de Ema era paneleiro.
Só se disser que se calhar não era o filho de Ema, era outro filho qualquer.
Só se disser que Ema tinha um sinal na cara.
Só se disser que não sei muito bem se era Ema que tinha um sinal na cara ou seria outra vizinha qualquer.

Há pessoas pouco avivadas nas minhas memórias infantis.

Doçuras e travessuras

O Maciel diz que hoje o senhor Tomé se esmerdou na apresentação doce e variada das suas prateleiras. Há bolos para todos os gostos, feitos pelas experientes mãos do senhor Tomé. Um deles provei eu, e concordo com a ideia do Maciel: o senhor Tomé esmerdou-se mesmo!

Acento circunflexo

Tenho um vendedor que escreve 'cêra'. De acordo com o novo acordo? ...

Más horas

Ontem cheguei tardíssimo a casa. É o que faz querer apanhar boleia do meu colega. Ele ainda teve de ir fazer um trabalho demorado e olha... O meu marido já me disse que eu não tenho nada que estar à espera dele, eu que compre o passe, ora essa, chego atrasada e nem faço o jantar, os miúdos à espera, não dou atenção a ninguém, mas que raio de vida esta...

Mas eu gosto tanto de apanhar a boleia do meu colega...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Como fazer um post com um título bem maior que o próprio post e imensuravelmente fantástico?



Assim.

Falta d' ar (mas não falta dar)

Ela sobe-lhe o peito quando lhe falta o ar

Ela falta-lhe o ar quando tem de escrever

Ela tem de escrever...

Ela tem de escrever?!

A escrever falta-lhe o ar

Ela sobe-lhe o peito quando lhe falta o ar

Cabras citadinas

É oficial: o meu colega passará uma tarde da próxima semana trabalhando graciosamente com um monte de cabras escriturárias olhando para todos os gestos que ele faz. Ele, o gracioso, o prestável, o eficiente. Elas, as cabras, mal-encaradas, pretensiosas.
Ai... Conquanto haja trabalho e alguém pague...

Morrinha

Diz que logo à noite chove. Tomara já. Os escritores desejam a chuva, quase com desespero. Diz que a musa desce, que há qualquer anúncio na humidade, uma iminência, algo a desabar, sei lá.
Os escritores esperam desesperadamente que a musa desça com a chuva. E eu também.

Primícia

Lisboa, 26 de Janeiro de 2012


Nasceu há dias. A primeira rosa do ano.
Esta roseira é bem interessante, dá flor uma data de vezes ao ano.
Claro que isto quem diz é quem não percebe nada de horta - eu.

Ora bem...

Segundo cliente do dia: o homem das lixas. Era manhã cedo, ainda nem tinha mudado de indumentária, vinha vestido a rigor, sendo que o tenho quase sempre visto em roupas sarapintadas e empoeiradas.

(Olhe lá essa coisa da previsibilidade, senhor cliente, que eu dou-me mal com isso... Vem comprar lixas? 
Vinha.)

Hoje fez um pedido de grãos mais diversos, o que me tirou o tapete debaixo do chão; deixou-me sem resposta; não pude imaginar nada capaz relacionado com o pedido.

(Afinal não há previsibilidade nenhuma, toma lá que é para saberes!)

Agora que já é reconhecido por aqui, lá vai falando e mandando umas larachas. Lamentou-se dos obreiros: 'eles devem comer as lixas...'

(Tenho de verificar o stock de lixas, que este senhor está a escoá-lo em grande velocidade.)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O (ainda) menor

André, tens mais meio ano de menoridade. - Digo eu ao rico filho, como quem faz um anúncio importante.
Logo se mete a rica filha em modo teatral, mão na testa, voz de soluço:
– Oh, tu já vais fazer 18 anos?!
E o pai, já agora também fala, em tom de aviso:
– Olha, sabes o que isso significa?
O rico filho põe-se à espera, paciente. Na verdade ainda não abrira a boca. O pai lá continua:
– Que tudo aquilo que estragares... Pagas!
Finalmente o jovem digna-se a falar:
– Oh, até parece! Parti dois vidros em toda a minha vida!

Desabafo

A dona Carminda disse foda-se. Desabafou, portanto. Disse, sim senhores, eu ouvi. Barafustava em surdina com um colega novato que quer a papinha toda feita. Eu bem disse que ela não é paparicada por nenhum daqueles caramelos engravatados...

Cumprimento

– Como está esta j... Cof! Cof! Cof! Ai, agora engasguei-me com o ar! Ia perguntar por esta jovem senhora...

A dona Genoveva engasgou-se na palavra certa.

O cliente

O Gualter não aparece por aqui muitas vezes como cliente. Noutro dia, porém, foi dia para negociarmos. Foi um momento muito gostoso, que eu cá gosto de fazer coisas diferentes.
Fui tão prestável, tão interessada, tão agradável, tão boa rececionista, mas tão boa, tão boa... Que ele ficou receoso, de pé atrás, com as antenas no ar e a pulga atrás da orelha.

Ó Gualter, então que é isso? Sou eu, pá... Com modos um nadinha mais elaborados, é certo,
mas sou eu 'migo.

As pessoas costumam esperar algo ruim se tratadas com especial atenção, o que lamento.

Agora me lembro...

… Quem aqui chegar e que não conheça o blogue deduz facilmente que trabalho numa loja? Um sítio onde existem prateleiras cheias de produtos diversos? Que atrás do balcão está uma pessoa… ‘normal’? O comércio tradicional na sua essência, quero eu dizer. Será que se percebe?

80

O senhor das lixas hoje veio buscar o grão 80. 'Não me diga que voltou ao início da obra?!', foi o que reprimi desta vez, igualmente sem custo.

Cigarrar

Olhe, bom dia, diz o homem lá de fora, eu não posso entrar que estou a fumar, vende buchas?

Não, buchas não tenho, informo e de seguida oriento, o senhor dê mais duas passas no cigarro e ande um bocadinho que ao fundo da rua há buchas à venda.

O pedinchão

É um xis, dois ipslónes e cinco cêntimos.

E não pode ser só xis?

Não.

Isso é que está mal...

Bolas, não pode pagar mais cinco cêntimos?! Não me diga que os quer para dar ao Cavaco?

Ah! Ah! Ah! Ah!

Se os quer dar ao Cavaco tem de dizer que vai da minha parte, ok? É que sendo assim quem os oferece sou eu!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Filha

Chama-me filha com modos carinhosos. Tem sempre qualquer coisa a dizer, sendo que diz sempre a mesma coisa. Como estão o marido, os filhos e os velhotes e se tudo vai bem.

Ultimamente tenho reparado nesta existência fugaz e algo transparente. Há pessoas que pela sua simplicidade e o seu ar apagado e contido não possuem nada donde eu retire interesse. Um dia há um clique qualquer... Julgo que seja o prazer em deixar registado presenças que existem na minha vida mas nem por isso façam parte dela.
O mote para estas linhas que escrevo foi o facto de ela me chamar sempre filha, com um carinho despretensioso. Talvez seja essa a sua marca. É uma marca pouco profunda que encontrei sem pesquisar. Aconteceu. Clique.
Sempre há um colorido sobressaindo dum cinzento apagado, um pontinho de luz reluzindo em alguém fracamente iluminado. Que não se menospreze ninguém.

Obituário

Morreu uma senhora de quem escrevi há tempo. (Clicar aqui para ler.)

O texto refletiu um gosto especial em viver num balcão e na possibilidade que esse objeto separador de vidas tem de as juntar numa só emoção, proporcionando vivências absolutamente espetaculares, ou o fazer parte da vida de alguém, ainda que momentaneamente.
Hoje, relendo o texto, considerei-o escrito a quente e apenas roçando objetivo, em princípio eu queria demonstrar o quanto pode alguém mudar radicalmente de atitude e quão benéfico é para os que se deixam envolver. Ficaram coisas por dizer e por escrever. E agora que a senhora morreu... Acabou-se-me a esperança.

O alaranjado

Francisquinho entra seguro e cheio daquela aura amaricada, como é habitual. Quando olhei melhor vi-lhe no rosto um tom laranja. Tinha colocado uma base para disfarçar a pilosidade e aparado as sobrancelhas. Fiquei boquiaberta cá por dentro, na verdade a boca não se me abriu de espanto, a cabeça é que ficou zonza com a visão tosca apelando ao metrossexual.

Eu não tenho nada contra os paneleiros, as paneleirices, as pilosidades, as bases de rosto cor-de-laranja e as sobrancelhas aparadas, ao sério que não. Eu gosto é de escrever dos outros. O meu imaginário não me fascina por aí além, antes me incita mais que muito a produzir aberrações literárias. Portanto e basicamente, é uma questão de não me aparecer à frente aquele que não quer ver-se escrito ou descrito por mim.

Gestos e passos

Milena limpou as remelas à amiga com um lencinho branco e imaculado. Os pingos nos olhos é o que fazem, os malvados.
Depois saíram, foram passear na manhã fria. As duas de braço dado como quem se dá bem, convictas do mútuo apreço. Compraram camisolas e um cachecol. Sentaram-se e beberam meias de leite. Passeio bem-vindo, este. Mais tarde houve um almoço regado com dedicação e outras formas de amor. À tardinha, uma dúzia de pastéis de bacalhau.
Coisas assim: boas. Milena acha que o melhor é escrevê-las. Mas só depois de as ver acontecidas.

A distração deve a sua existência ao momento crucial.

Sem resposta

Um dia: vinha buscar lixas grão 60 e 80.
Mais tarde: vinha buscar lixas grão 100 e 120.
Outro dia: vinha buscar lixas grão 150 e 180.
Hoje: veio buscar lixas grão 240.

Hum, está claramente em fase de acabamento!*

Questionou objetivamente, despistou as dúvidas rapidamente, escolheu categoricamente, rematando que sem experimentar nunca conhecerá a eficácia do produto.

Sábia decisão!*

*Foi o que me contive de dizer. Às vezes consigo ficar calada sem grande custo.

A destacar

Comunicação

Venho por este meio
muito respeitozamente
comunicar a voças
exl iquelinos deste
ideficio a quem não
poder fazer a limpeza
deste predio
eu inquelino do r/c dto
fasso as limpezas dos pissos
e respectivas escadas
como também do ilvador por
apenas 3 € dou os
prudotos de limpeza

Ass João Santos

Não, não estou a exagerar. Não, não é o meu alter ego e o caraças a escrever. É uma simples comunicação escrita que alguém tinha a fazer. E fez.
Acho especialmente hilário o 'ilvador'. É bom que se veja: a gente fala assim...

O Maciel diz que gosta de me ouvir porque vai imaginando o cenário.
Considerei a revelação como se um elogio fosse. Fiquei com a impressão que sou descritiva.

Sumo de laranjas

Você faça sumo, pá!
Não, eu gosto delas assim ácidas.
Faça uns sumos que elas são pouco doces.
Mas eu gosto assim, eu como-as.
Não, faça sumo, vá.

Em suma, a dona Gislena tornou a dar-me laranjas que vêm da quinta em Santarém. Já vai para aí na quarta rodada da estação. Agradecida.
Como não são nada doces, à dona Gislena faz-lhe muita impressão alguém as comer. Então quer à força que eu as aproveite apenas fazendo sumos.


Lisboa, 24 de Janeiro de 2012

A porra do frio às dez da manhã

Lisboa, 24 de Janeiro de 2012

Porra, q' aqui 'tá um frio!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A substância incógnita

Lisboa, 23 de Janeiro de 2012

Parece que alguém espirrou e lhe saiu uma ranhoca gigantesca pelas narinas. Mas não. E também não sei o que é. Só sei que pende do teto, vai escorrendo por ali abaixo, qual estalactite âmbar, quer esteja frio ou calor. E pronto.

Oferenda

Sabe quem me deu isto aqui? Foi o senhor António, o senhor Gelásio e aquele... O transmontano!


Lisboa, 23 de Janeiro de 2012

Autoestima

E pronto, eu tenho de escrever isto porque me está a fazer tantas cócegass que não me contenho.
Ando a fazer uma coisa que não posso revelar porque o segredo é a alma do negócio. É algo contranatura, porque não é suposto classificar e achar muito bom e muito bem-feito as coisas que faço ou produzo e mais não sei o quê... E eu não possuo essa autoestima toda. Necessito de uma grande dose de autoestima, caraças! Onde é que essa porra se vende?! Se alguém souber, diga, por favor, que eu encomendo já um camião carregado de paletes.

Letras

Descobri hoje, quando olhava para um talão da Galp: o nome dele* escreve-se com todas as letras da palavra 'energia', nem mais nem menos. E é enérgico, o bicho.

* Um outro conhecido meu. Isto está bonito, está... Já se vê que é só gajos à minha volta, ?

A duas cores

Um senhor meu conhecido (este é outro, não confundir com o do post anterior) ofereceu-me uma caneta bi-cor, um café e um pacote de açúcar. Obrigadinha, caro.


Lisboa, 23 de Janeiro de 2012

Ósculo

Um conhecido meu chegou do estrangeiro e deu-me dois beijinhos repenicados nas faces, sendo que as mesmas se encontravam algo húmidas por causa do sumo da laranja que eu estava a comer.
Fiquei toda coisa com o estranho acontecimento. A cara cheirando a cítricos, a laranja escorrendo numa das mãos, as mesmas pegando... Oh céus, afinal sou mulher para viver tanta coisa emocionante...

As primeiras

Ontem vi duas papoilas. De folhas fininhas e dum vermelho esbatido, mas ainda assim, papoilas. Brilhavam ao sol, abrigadas do vento naquele cantinho de rua, numa ténue esperança de vida.

Admiração

Arménio era giro à brava. Alto, musculoso, olhar vivo. Bem, o olhar era um pouco mais que vivo, era espantado, vítreo. Mas eu curtia vê-lo, admirá-lo, sonhar acordada com ele, imaginando que falava comigo acerca nem sei de quê... Mas falava. Comigo.
Hoje sei estas coisas, sei descrevê-las. Mas aos 13 anos não, nessa altura não existiam pensamentos delineados na minha cabeça. 
Infelizmente ele não me curtia tanto assim, ou mesmo nada, nunca me ligou nenhuma, era essa a dura realidade da minha vida não-delineada.
Não sabes o que perdeste, Arménio... E eu também não.

Quantia

Quanto é?

É xis

Não é nada menos que isso?

Não.

Então e se eu invocar a crise e as dificuldades financeiras do país?

Não farei caso.

Então seja.

Pois bem.

Ver as vistas dum prédio verde-água, olhando da direita para a esquerda...







Lisboa, 23 de Janeiro de 2012

Dias de um ginásio

Finalizado o meu treino quis alongar-me. Reparei que o Mestre de artes marciais, que conheço de ginjeira e o caraças, finalizava também ele a sua aula e os praticantes estavam na fase do alongamento. Cheia de requisitos, porque não se entra de qualquer maneira para cima do tatami, mas sabendo de antemão que sou alguém que se pode dar ao luxo de o pisar, perguntei:
– Mestre, posso alongar aqui?
E ele, à vontade e absolutamente informal:
– Então não podes!

Quer dizer, eu cheia de manias e ele... Ora!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Picasa

Ter (finalamente!) dado o 'sim' ao Picasa, deixá-lo penetrar na minha vida a preto e branco... foi o que de mais criativo me aconteceu este fim-de-semana.


Loures, 22 de Janeiro de 2012


Bolo de Limão e Iogurte com Calda de Frutos Vermelhos

Devo dizer que este bolo fica ligeiramente ácido e não muito doce. Não recomendo a quem não achar assim lá muita piada a acidezes e isso... Eu cá gosto!




O bolo:

Peneire

1, 5 chávena de chá de farinha
2 colheres de chá de fermento em pó
1/2 colher de chá de sal fino

Misture

1 chávena de chá de iogurte natural
1 chávena de chá de acúcar
3 ovos
1 colher de café de baunilha
raspa de 1 limão

Junte as duas partes e mexa bem, sem bater. Quando tudo estiver ligado, junte

1/2 chávena de chá de óleo.

Deite numa forma de bolo inglês untada e coloque a meio do forno por cerca de 40 minutos

A calda:

Leve ao lume

1 embalagem de 450 gramas de frutos vermelhos congelados
300 gramas de açucar

Deixe ferver os dois ingredientes uns cinco minutos, ou até que o preparado comece a querer pegar no tacho. Retire do lume e junte

1 colher de chá de baunilha.

Depois de a calda arrefecer um pouco deite em cima do bolo já desenformado...

... E tenha um muito bom apeteite.

Nota: receita adaptada a partir do programa de TV 'Barefoot Contessa', Canal Food Network.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Fui ao cabeleireiro

Para não levar ao cúmulo a verdadeira masturbação intelectual (ou massagem erótica e quiçá sexual ao ego) que é a criação e 'manutenção' dum blogue, não coloco aqui as fotos que evidenciariam a enorme diferença, a verdadeira transformação que há na minha apresentação capilar, hoje. Algo do género 'Antes & Depois', quero eu dizer. Ficarão, então, essas três (diferença, transformação, apresentação capilar) no imaginário do leitor. O que não lamento, o imaginário do leitor é algo que me fascina de sobremaneira.

Cena da vida

Cenário: uma rua lisboeta numa manhã fria e clara de Inverno.

Droguista e Cunha, de saco de garrafinhas de benzina na mão diz para Esotérica da Conceição que apanha sol na pequena esplanada:
– Hoje é que está bom! Com este solinho!
Esotérica da Conceição acena com a cabeça e faz um som esquisito com a garganta porque tem as bochechas cheias de fumo do cigarro mas ali pelo meio ainda consegue rasgar um sorriso.
Arrumador da Silva mete-se na conversa e exclama com ar gozão:
– Está mesmo bom é para a praia!
Ruiva de Nariz Grande, personagem ali aparecida misteriosamente, grita para os outros três, como quem profere uma sábia revelação:
– Quando chegar o Verão é que vamos pagá-las!

Google+

Esta coisa do Google+ anda a moer-me a cabeça. Mudei o meu perfil do Blogger para esta novidade e agora vejo-me obrigada a preencher um campo que não me apetece: o apelido. Eh pá, não quero! Se eu me chamasse Pereira ou Alves ou Santos ou... Silva (ai que arrepios!), ainda vá que não vá, agora com um apelido estranho (sim, os meus apelidos são todos estranhos)... Sou facilmente detetável, ainda que não receie a exposição e não escreva na base do completo anonimato, não me agrada por aí além tantos dados à vista.

Por uns dias fui Gina do Blogue. Não é que fique mal... fica horrível. Por si só, Gina já é o que é, imagine-se do Blogue! Gina do Blogue... Bah! Entretando modifiquei-me outra vez, agora sou Gina G, o que nada tem a ver com nenhum ponto sensível do corpo feminino, garantidamente. Assim vou ficar...

Olá, boa tarde, o meu nome é Gina G, muito prazer em conhecer-vos!

A mala

Albernoa, 15 de Janeiro de 2012

Ela pousou a mala e ficou ali a olhar como se não tivesse futuro. O tempo parou. Uma janela pode ser fascinante, assim como uma entrada dum parque subterrâneo. O muro branco, as ervas daninhas. Havia barulho, logo, vida. Eram o sol e as árvores, a companhia. E a mala, amiga há que tempos mas cheia de segredos.
Os segredos são fascinantes também. O que estará guardado na cabeça das pessoas? Nada, presumo, normalmente guardam-se os segredos numa mala.


Homens

(Bolas... Só o título é chamariz...)

A gerente abalando do banco (ver post anterior) e tendo arranjado um substituto e não uma substituta, significa que a dona Carminda será a única fêmea no espaço bancário. O meu colega disse logo:

– Ah, é isso o que ela quer, ser paparicada!

Ora bem, discordo da ideia, a dona Carminda não será paparicada. O meu colega não sabe o que vive uma mulher que trabalhe exclusivamente no meio de homens...

Ser assim

Sou uma cliente bancária tão importante que a gerente, a braços com uma transferência e consequente abandono desta dependência, se veio despedir de mim com dois beijinhos e apresentar o substituto. E eu, cheia daquela coisa parva que me caracteriza, disse à mulher o seguinte:

– Oh, então vou deixar de ver esse olhar estranho?

Pronto, eu explico. Ela tem um olho verde e outro castanho. Há tempos dei por mim fixando-me no seu olhar e exclamando, cheia daquela coisa parva que me caracteriza:

– Ah! Você tem um olho de cada cor!

Confusão

Por causa dos nomes e o caraças, a minha cabeça está uma grande confusão.

Aqui no blogue:

A Palmira é a Zulmira, não é alentejana mas de vez em quando a gente chama-lhe assim.

A Isabel é que é a Palmira.

A alentejana é Belmira, ou Delmira, sei lá, é uma Mira e pronto!

Assim de repente pode parecer que isto não é confusão nenhuma. Mas é-o, efetivamente, quando tenho de falar dos trabalhos com o meu colega. Para além do simples facto dele saber da existência deste blogue, quando conversamos em privado é comum eu chamar os nomes blogosféricos das(os) minhas(eus) clientes. Então... às vezes transformo a nossa vida num sufoco, porque nem sempre estamos a falar da mesma gente. Um horror.

Talvez um dia eu escreva e fale dum modo diferente deste, quiçá...

Notificação bué-ré-ré importante

Tenho uma frieira buéda grande no dedão do pé direito. Ya, ya!

Está um trambolho vermelho e inchado, esse dedão. Foi a Henriqueta, essa grande pedicura, quem diagnosticou o caso infecto e doloroso.

?!

Pergunta:
– Sabe onde fica o Centro de Saúde?

Resposta:
– Sei, e quer que lhe diga onde fica, presumo...

Carícia

De repente apeteceu-me acariciar o sobretudo do Clóvis. Achei, assim de longe, que o pelo seria fofinho. Aproximei-me e com o dedo em riste deleitei-me, fiz-me o gosto. Ele olhou para mim com aquela cara de espanto do mais giro que há – levanta a beiça dum lado e sorri só com uma face – e diz, atónito com o meu desplante, enquanto eu continuava nas carícias:
- Foda-se! Ó chavala... Foda-se!

Texto & Contexto

- Deixa-me mexer?

- Com muito prazer!

Ligar ao texto é mais divertido, que se lixe o contexto...

O tubo

Um cliente chega aqui e pede tubo para gás natural. Depois fica um tanto ou quanto hesitante e diz:

– Agora o dilema é saber o comprimento que quero...

E eu, sempre pronta a respostas algo inesperadas:

– Hum, isso é um grande(!) dilema.

Os clientes têm de saber ditar números, é imprescindível, quando não, o dilema é meu e eu não quero cá nada disso.

Dias de um ginásio

Durante a aula de Pilates o professor vai dizendo: 'não há conforto, não é para sentir conforto, não há conforto, não é para sentir conforto...'

Que ruim, pá! Mas quentinho...

Pois é!

O meu colega concluiu que caso não se empenhe no seu negócio... Ficará empenhado.

Pássaros de Lisboa

Dantes havia aqui papagaios. Faziam barulhos vários, davam nas vistas, chegando algumas pessoas a virarem as cabeças e olharem para cima, despertos pela barulheira dos bichos.
Dantes havia aqui um parvo que dizia que os papagaios eram amigos dele. Olha os meus amigos, dizia ele, o parvo, como se fosse reconhecido pelas tropicais alimárias de penas!
Mas os papagaios não eram amigos do parvo. Nada, mesmo. Os papagaios imitavam esta que escreve, eram meus amigos. Gritavam 'até amanhã!' com a minha voz. Era a mim que dignificavam / louvavam, ó parvo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dias de um ginásio

Está um frio que não se pode. (Ao tempo que não se falava da porra do frio por aqui...)
E o que tem o frio a ver com os meus dias no ginásio?
Tudo.
Daqui a pouco vou estar feita maluca a correr numa passadeira. Ao momento estou enregelada, logo não terei frio.
Depois, ou antes, quero eu dizer, praticarei Pilates com um professor cheio de piada. Cheio de piada porque é homem para me aquecer de sobremaneira. Nem é preciso levar casaquinho...

Bloqueadores de conversa



As perguntas.

As verdades.

Inútil

Este blogue apresenta-se inútil e decadente, está tão doente que a minha vontade é decepá-lo para se me acabar o sofrimento. Estou incerta quanto ao que deixo escrito, quanto à minha autenticidade, quanto ao valer a pena.

Montrar

Desta vez, ao compor e limpar as montras, o único pensamento que tive e considerei capaz de aparecer no blogue, é o facto de o som do esguicho do líquido limpa-vidros parecer os gritos duma criança a ser violada. Depois, logo a seguir, espantei o pensamento por ser horripilante, demasiado dramático, portanto. Então lembrei-me e apaziguei a primeira ideia considerando aquele som de expiração estridente semelhante a um porco sendo atrozmente degolado. Bem melhor assim.

E a senhora, liga a alguém?

Continuação daqui.

Ligo. Este blogue tem vários textos onde descrevo visitas e telefonemas a pessoas com quem me dei em tempos, não numa tentativa de reaproximação, antes um enorme prazer em rever. Não deixo linques desses manifestos escritos para não dar a pala de senhora amorosa e especial, porque não sou nada disso.

No lugar da musa

Lisboa, 18 de Janeiro de 2012


É estranho verificar que pelo lugar da musa deambula uma senhora de quem há pouco tomei apontamento da morada para se ir lá ver o trinco elétrico.

Cruzamento de vidas

Cruzei-me com o Virgílio Castelo numa avenida lisboeta. Eu vi-o. Ele não me viu. O bicho nem faz ideia da pessoa especialmente bela e manifestamente requintada com quem se cruzou.

Loisa

Arrumar uma catrefada de vassouras pode ser uma atividade lúdica na medida em que tive de a abandonar para me ver a braços com uma engrenagem teimosa. Antes as vassouras, antes as vassouras.

O cão

O Clóvis tem um cão. A mãe do Clóvis é que tem um cão, quero eu dizer. Mesmo cachorrinho, agora o bicho é forte o suficiente para sair à rua, fazer-se à vida e tomar hábitos saudáveis. A mãe do Clóvis, sendo algo debilitada devido à muita idade, delega essa tarefa no filho.
Devo dizer que o Clóvis não tem muito jeito para essas lamechices, por isso estou a escrever este post. É giro vê-lo de trela na mão, parando aqui e ali, indo buscar lá ao fundo do seu ser uma certa paciência. Pára a marcha para o bicho cheirar tudo e mais alguma coisa, o que lhe toma um tempo precioso, um tempo em que podia estar contando as suas peripécias e a dizer a toda a gente como é sabido e experiente.
Quando me debrucei sobre o animal, interessada, o Clóvis fez-me saber que o cão é todo paneleiro porque se deita e rebola assim que se lhe faz festinhas no pelo. Pudera! O bicho é meiguinho e infantil, que esperar?
Eu fiz-lhe as festinhas todas que me apeteceu. Depois mandei-o levantar: 'vá, agora sê cão!' Não gosto de ver cães a serem tratados com excesso de mimo, ou como se fossem pessoas. Mesmo com miminhos, um cão é para ser cão.

Post-it


Vi uma viatura 
na rua 
coberta de post-its amarelos, 
cada um deles 
com um coração vermelho 
desenhado à mão toscamente. 

Um amor...

Amo-te

Eu disse... 

Repetir consecutivamente 'amo-te' banaliza o sentimento, diz-se. Dizer 'amo-te' fragiliza, expõe e, para terminar, é lamechas e isso envergonha a maioria das pessoas. 

(...) Agradava-lhe a continuidade; a sensação de estar ligado às tradições do passado. Vivera numa grande época. Na verdade, a sua vida era um milagre; que não restassem dúvidas quanto a isso; ali estava ele, na flor da, a dirigir-se à sua casa em Westminster para dizer a Clarissa que a amava. É isto a felicidade, pensou. (…)

Ele estendeu-lhe as flores – rosas vermelhas e rosas brancas. (Mas ele não conseguiu dizer que a amava; pelo menos numa única palavra.) 

(…) Tinham falado dele ao almoço, disse Richard. (Mas não conseguia dizer que a amava. Pegou-lhe na mão. É isto a felicidade, pensou.) 

'Mrs. Dalloway', Virginia Woolf

Páginas 126, 127

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

6000

Vem aí o post 6000. Ou por outra: este é o post número 6000. 

Eh pá, não sei que dizer ou escrever mas já que quero fazer o registo deste número redondo... Pronto, é assim, uma pessoa gosta de escrever, tem os meios e a disponibilidade... E depois é isto. Aguentem-se, caros leitores, não abalem daqui que eu gosto de vos sentir. E podem crer: eu escrevo para vocês.

5999

Está quase, quase...

Cabeleira


Tenho de ir tratar da cabeleira. A bem da verdade já fui marcar a consulta. 
Chegada lá disse ao Mimi: 'quero que me faça o mesmo da outra vez que eu pago'.
 
Às vezes não enceto as conversas lá muito bem... Adiante.

 
 

Tenho de ir tratar da cabeleira.
O meu colega colou o cartão de visita do meu cabeleireiro no espelho do estamine, subtilmente...
A moça que me depilou as sobrancelhas teve de pôr um ganchinho a segurar a longa franja...
A minha mãe disse-me: 'Gina, olha que os cabelos agora usam-se curtos, filha!'

Dias

Dia 1: Perguntei as horas à menina do café e expliquei que não tinha telemóvel por lhe ter acabado a bateria e estava meio perdida em termos de tempo. 

Dia 2: Perguntei as horas à menina do café, que se espantou por eu ainda não ter posto o telemóvel à carga. Disse-lhe que normalmente me esqueço de pôr o telemóvel a carregar porque não é habitual alguém me ligar. 

Dia 3: A menina do café pergunta-me se quero saber as horas. Digo que não, que já tenho o telemóvel a funcionar muito embora ninguém me ligue, a não ser a menina que sempre me dá alguma atenção. Ela não se apercebe da minha última afirmação, queda-se na primeira e volta-se com a velha questão: 'e a senhora, liga a alguém?'

Os seres


Um ser desvaloriza o outro em prol de si mesmo.

Tenho para mim que sou especialmente bela e tenho maneiras manifestamente requintadas.

Os restantes seres... Não.

A encalhada

Esmeraldina encalhou na pilha de vasos à entrada. Ralhou consigo:
– Ai, Esmeraldina, então? Eu não te disse que te portasses bem antes de sairmos de casa?!
Fiquei num impasse, já me aconteceram cenas tão diversas - nomeadamente uma senhora falando entusiasticamente para uma parede - que fiquei muda e verdadeiramente expectante. Depois reconheci a bem-disposta senhora - afinal estava só bem-disposta - pregou-me um beijo em cada face e cumprimentou-me com 'a paz do senhor, como vai a irmã?'. 

Se calhar a Esmeraldina até nem tem assim lá muito juízo, não...

Mafalda

Tem meias finas com florinhas. Verde-escuro, as meias. Rosa, as florinhas. 

Acho que sim. Acho que sim porque não acho mais nada nas meias da Mafalda.

Ódio

A sogra não gosta do genro.
Ele mete a mão nas partes e cheira de seguida, limpa as unhas com a ponta da faca e chupa os intervalos dos dentes. Asqueroso, mesmo.
O genro não gosta da sogra.
Ela é refilona e frontal, diz-lhe tudo o que não aprecia. Temperamental, fá-lo sentir imundo e má pessoa. Manienta, mesmo.
Mas o genro não é má pessoa, eu sei que não, a atitude mais rebelde que consegue ter é dançar desajeitadamente a canção 'Like a Virgin' da Madonna numa festa de anos daquelas familiares...

17



Era dia 17 de Janeiro,
terça-feira.

É dia 17 de Janeiro,
terça-feira.


Há coincidências,
lá de quando em quando.

Fotografia em papel mas posterizada para a internet

Lisboa, 5 de Setembro de 1992*


As sobrinhas queixaram-se-me: 
– Ó tia, a gente quase não tem fotografias de infância, as poucas que há, a minha mãe cortava-nos as cabeças... Se um dia tu puderes tratar de nos arranjar das tuas... 
Fiz-lhes a vontade, aos poucos fui compondo uma pasta com imagens dum passado familiar em pedacinhos. Enquanto isso, ia recordando outros tempos, que a minha vida não teve sempre a forma d' hoje.

*Na foto, da esquerda para a direita: Débora, Ana Cláudia, Ana Sofia. São primas mas não todas umas das outras. A do meio é a rica filha que é prima das outras duas. As das pontas são as minhas sobrinhas e são irmãs. Todas três na festa do primeiro aniversário da rica filha.

Dias de um ginásio

O meu professor de Pilates diz que estou fantástica. Oh céus...

Pode não parecer mas nesta foto está uma gaja boa...

Albernoa, 15 de Janeiro de 2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um bom blogue, ou um blogue bom

Envio de Mensagem: 

Nome: Gina  
Website: http://verdeagua2.blogspot.com  
Mensagem: Olá, boa noite. Deixo dados para inscrever o meu blogue nesta iniciativa (que descobri agora mesmo) na categoria 'Diários de Bordo / diários íntimos e pessoais' Cumprimentos... e muito agradecida (claro!) pela oportunidade de divulgar o meu blogue.

No mesmo dia em que recebi o destaque de que falei há dias, sem querer, encontrei um site - Aventar - promovendo um concurso onde se elegeria o melhor blogue do ano 2011 em diversas categorias. Num gesto impulsivo inscrevi o meu... Não estou totalmente arrependida mas para lá caminho. Neste momento o calor esfriou e tenho uma grande dificuldade em acreditar que este 'Verde Água' é um bom blogue por várias razões, sendo que a principal é a minha total falta de aptidão para captar a atenção dos leitores durante muito tempo. É imprescindível fazer com que as pessoas regressem e, principalmente, se acomodem ou se habituem ao meu estilo, creio eu. A mim falta-me esse saber, a minha experiência diz-me que raros são os que ficam, duma forma ou doutra eu espanto a caça toda... E não estou, de modo nenhum, a queixar-me. É apenas uma constatação. O leitor querendo aceder a este site e votar, faça favor. Mas não vou pedir que vote no meu blogue, antes peço para votar no que achar melhor. 

Votar aqui .

Filme

Andou um homem de câmara de filmar sofisticada filmando a minha rua. Mais logo, este pedacinho lisboeta aparecerá na TV, presumo. Este pedacinho com tão pouco para ver, este pedacinho tão solitário e triste. Pedacinho abandonado, até.

Dias de um ginásio

Há uma nova modalidade no ginásio. Não sei como se chama mas isso é o de menos. Trata-se de uns lençóis presos em vigas onde os praticantes se balançam e/ou esticam a musculatura, o que proporciona uma estranha visão a quem observa.
Duas 'meninas' brincavam com os ditos lençóis, fazendo de baloiço, quais donzelas repletas de jovialidade e candura, de faces rosadas e cabelos ao vento, o que me provocou uma espécie de inveja...

Marina

Marina, uma rebelde e atiradiça jovenzinha de 16 anos, não está virgem e orgulha-se disso. Tem namorado, este é o quinto. Tem namorado, ou uma espécie disso. Uma colega mais velha e experiente das coisas da vida diz-lhe:
–    És uma desmiolada e uma desavergonhada, vais com todos!
Ela não quer saber, deixa-se estar, assim é que está bem. Depois de há um ano atrás ter visto a sua primeira paixão completamente destruída pelo namorado, esse vil e intruja, e a sua vida avassalada por uma dor atroz, nunca mais vai deixar que a magoem, a partir de agora será sempre ela a terminar os namoros, já sofreu bastante e nunca mais será destratada por homem nenhum.

Beleza


Tomélia é linda, tem a perna boa. Os homens olham-na com gula, os porcos. Até as mulheres, essas cabras invejosas, a comem com os olhos.

Oh céus, não se pode ser bela!

Frio

Albernoa, 15 de Janeiro de 2012

– Se estamos no Alentejo porque está tanto frio?!

Pergunta a rica filha para o ar, enregelada.

– Porque estamos no interior! Nunca deste geografia na escola?!

Espanta-se o rico filho, esse jovem que não percebe apenas de futebol...

Caixinha(s)

Tenho um outro homem cá em casa, cada vez estou mais convicta disso. Alguém com características normais de macho, ainda que bastante jovem e recém-chegado ao estatuto.
Noutro dia comprei umas caixinhas coloridas para guardar as mercearias na despensa. E sendo que nos últimos meses tenho enchido a despensa com caixinhas de todas as cores e feitios para armazenar as mais diversas coisas, o rico filho, quando lhe mostrei orgulhosamente a minha mais recente aquisição, ainda por cima toda amaricada...

–    Mais caixas, mãe?!

Pergunta ele, rente ao gozo. Masculinidade e arrumações coloridas não combinam. De todo.

A rica filha que escreve