sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Duas coisas boas

Primeira coisa boa: hoje é sexta-feira!

Segunda coisa boa: estou de férias!

No fundo, lá mesmo no fundo, oficialmente, quero eu dizer, entrarei de férias só na próxima segunda-feira. Mas quem é que estando de férias quer saber da oficialidade das coisas?!

Confissão

Está bem, sim senhores, vamos lá:

Eu, bloguer me confesso, este espaço virtual é todo ele escrito pelo alter-ego, aquele gajo que não se contenta, que quer mais e mais e mais. Eu, a mulher, pouco crio aqui, vencida que sou pelo dito.

Percebeste?!

É realmente difícil perceber se é a vida que toma contornos despropositados ou sou eu que ando à deriva. Sem propósitos, portanto.
A boa notícia será porventura esta: não é absolutamente necessário perceber nada do que se passa na minha cabeça.

Arrumações

Tenho um amigo. Não chamo amigo a qualquer um, se calhar este até nem sabe que o é tanto assim, mas considero-o meu amigo porque já deu mostras disso algumas vezes.
Um dia passou na rua e olhando de relance para dentro da loja viu-me de costas debruçada sobre o balcão e olhando sem pestanejar numa determinada direção. Entrou e diz-me que havia resolvido parar para me dizer que eu parecia o Gabriel Pensador.
O que eu mirava com tanto afinco era a prateleira das ceras. Os novos fascos não iam caber no sítio do costume, o que significava que ia ter de fazer uma série de mudanças. Então fiz menção de lhe explicar o motivo. Ele, apesar de ser meu amigo, não lhe apetecia ouvir-me. Fez-me sabê-lo mas lá se deteve um poucochinho de tempo e eu desbobinei.
Agora pouco mais resta para escrever. Só falta dizer que compreendo que nem sempre nos apeteça ouvir problemas que parecem tão minúsculos quando colocados diante dos nossos. E acrescento, já agora, que dói um bocadinho menos perceber a sinceridade das pessoas. Comigo é assim.

Aroma

Estava a ler o livro do momento – 'Ao Sul' de Napoleão Mira – no local do costume – na livraria que serve café - e cheirou-me a lareira acesa. Um cheiro suave mas presente. Talvez fosse imaginação minha por estar a ler do Alentejo, a memória olfativa faz viajar com muita precisão, por sugestão a minha própria cabeça criou o cheiro. Mas não, era o cheiro dos livros, descobri depois.

Vou escrever um post...

… Para um público-alvo que não vem ler.

Apesar das características físicas e psicológicas marcadamente femininas que possuo sei distinguir as duas extremidades dum parafuso, sim?!

Maçã ferrosa

Uma cliente do meu colega comprou-lhe cavilhas para espetar numa maçã, diz que é bom para criar ferro, faz bem à saúde, à anemia mais concretamente.
Vai daí, pergunto eu, do meu pedestal:

- Então e depois a mulher come a maçã ou chupa o prego?

Baú


Há três anos era assim.

Foi a altura

da explosão

de palavras

que houve em mim.


Velhos tempos...

O papelinho verde


O homem entrou cheio de boa disposição e vai logo dizendo:
«Quem semeia, colhe!! E eu ando a semear, a ver se arranjo trabalho para lá em casa não ralharem comigo por não haver pão!»
Depois mirei o prospeto, tem muito a ver com o palavreado do seu distribuidor, deve ser também o autor.

Isto às vezes não custa nada

Entrou um sujeito com as mãos atrás das costas, como que a dar um ar descontraído.

A senhora desculpe-me a pergunta: isto é uma drogaria, não é?
Tem... ácido muriático... é assim que se diz, não é?
Existe em que tamanhos?
Quanto custa?
Muito obrigado.
Se não nos virmos mais, um bom fim-de-semana.»


Pelo meio fui respondendo com monossílabos e frases simples. Não era preciso mais nada. Pena é não ter comprado...

Já não há canções de amor, Rui Veloso

Um destes dias vou poder
apaixonar-me outra vez
sem me importar de saber
se vai durar um ano ou um mês


Correr e saltar num dia
depois não dormir tranquilo
pensar que o amor é isto
e descobrir que afinal é aquilo


Já não há canções de amor
como havia antigamente
já não há canções de amor


Um destes dias vou ser capaz
de encontrar a felicidade
avançar em marcha atrás
ir de verdade em verdade


Dizer que o amor é aquilo
que ontem estava descoberto
e ver que no fim duma paixão
espreita sempre um deserto


Já não há canções de amor
por não haver quem acredite
já não há canções de amor
por não haver quem acredite


E vós almas tão ingénuas
cujo amor não tem saída
que buscais nas tolas canções
o açúcar que adoça a vida


Não percebeis que é o engano
que prova que há uma chance
acertar à primeira não é humano
é a essência do romance


Já não há canções de amor
como havia antigamente
já não há canções de amor
vou investigar o caso
com o máximo rigor
tirar a limpo a verdade
que há nas canções de amor
vou saber se ainda é possível
escrever canções de amor


Fonte: http://www.vagalume.com.br

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sumo interesse

Ainda que eu encontre interesse no que - à priori e para a maioria das pessoas - não tem, seja a minha mais elementar forma de escrever, também sofro do vulgo:

E depois? Para que é que isso interessa?!

Tal explica a pessoa desiquilibrada que - afinal até - sou.

Aflição

Escrever é aflitivo.
Hoje despi o casaco mas as pulseiras ficaram presas nas dobras das mangas.
É uma aflição escrever (agora está a ser) porque eu queria escrever comicamente para a gente se rir, descrevendo a verdadeira saga que é as mangas dum casaco ficarem presas em meia dúzia de pulseiras, ficar ali com as mãos escondidas, como que enclausuradas num pedaço de malha fina que por as pulseiras terem ficado lá enroladas não me consigo libertar, sendo que as mãos são o principal instrumento para a libertação... E não consigo ter piada absolutamente nenhuma. Bolas.

A janela donde te vejo

Tinha de identificar dalguma forma a capa dum livro, uma vez que todo e qualquer livro que ande na minha mala está forrado para não se desgraçar todo. Algo criativo tinha de sair das minhas mãos. Sem esperar uma coisa artística ou sequer bonita joguei-me à obra. Os materiais eram fita de embrulho amarela e fita-cola. Saíu uma janela com duas barras verticais, ilustrando uma prisão. Senti-me estranha com a obra que criei.

A fruta

A gentil e bondosa dona Luísa deu-me uma anona.

'Ah, Gina, tome lá, que são muito docinhas. Gosta de anonas?'
'Oh, que bom! Gosto, gosto.'

Mas eu queria era uma mona nova, que esta já não está nada de jeito. Tem aí, dona Luísa?

Às vezes não te parece que a tua vida não tem jeito nenhum?!

.............................................................................................................................................

A frase

'Se não pode mudar a sua vida mude de atitude.'

Odeio esta frase. Abomino, mesmo. Dá-me raiva. Apetece-me espancar alguém. Basicamente é assim: deixa-te de merdas e levanta os cornos do chão, eu sofro muitíssimo mais que tu e não me queixo.

Que chatos, pá!

Rebaldaria

Há sempre uma maneira de ridicularizar tudo e mais alguma coisa. Diz que as lojas de venda de ouro em segunda mão promovem o roubo. Usando a mesma bitola, a Feira da Ladra promove o roubo e a venda clandestina. Transforma os vendedores/compradores em cooperantes de graves crimes, é o que é. Mas é também a Feria da Ladra, esse nicho de sensações permissivamente ilícitas.

Vou falar do tempo, ok?

Está calor. Corrijo: está muito calor. Agora, no fim do Verão, que até já passou, não me faz diferença mostrar pele. No início da Primavera a timidez impera nesta cabecinha, há um recato fingido de desabituação de certo tipo de vestimentas. Agora não, agora quero lá saber...
Não sei como é com as outras cabras mas comigo é assim.

Substâncias

Estou convencida que o trazodone me faz falar. É como um dreno, aquilo. Tenho impurezas e a substância fá-las sair. Sai tudo o que não presta, frustração e raiva. Falo, digo parvoíces, algumas frases saem em rajada. Pode ser que faça bem este não-acumular de coisinhas.

A cafeína é outra. Mas essa é mais tipo mola impulsionadora, põe-me a rir (leia-se cacarejar) e faz-me saber que a vida é bela. Podia dizer que me faz ver a beleza da vida. Mas não. Faz-me saber. É diferente. Como se a cabeça se me abrisse para receber essa informação. A vida é sempre bela, eu é que não sei isso em todos os momentos.

Estou asténica e enérgica. Não em simultâneo, claro está, mas saltito entre um e outro estado há horas. Até estou um tudo-nada tonta.

Qualquer um seve(?)

Há a ideia generalizada de que o balcão, ou o estar atrás dum balcão, é algo acessível a toda a gente e super-fácil, que não se sabendo fazer nada se serve muito bem para estar atrás dum balcão.
Discordo peremtoriamente. Sinto-me lesada com a ideia, até. Quem fala assim desconhece completamente o que esta profissão encerra. É difícil p'ra caraças...

Olhe, tem cá umas coisinhas p'ras traças que é assim um papel que a gente rasga aos bocadinhos e põe?

Depositei em cima do balcão toda uma parafernália de inseticidas anti-traça que comercializo, já conhecedora de que 'papeis que a gente rasga aos bocadinhos e põe' não constava na lista. Mas... a gente não se governa com o solitário e cortante 'não tenho', de maneiras que qualquer vendedor(a) que se preze tenta escoar o que tem em casa.

Não! Não é nada disto! É assim uns papelinhos que a gente rasga e põe!

Hum... Pois, realmente assim em papel não tenho. Mas tenho este e aquele e o outro e aqueloutro.

Não! Em papel!

O balcão é um caso bem mais difícil do que este pequeno episódio demonstra. Aqui só dou a conhecer uma cliente quase zangada porque estou 'a fingir' que não a percebo. Há alturas em que à zanga se junta a revolta porque pensam que estou a tentar impingir o que me apetece.
Ok... perontus... A minha vida às vezes é assim um bocadinho parva por causa doutrém. Normalmente sinto que para parveá-la já basto eu, não necessito da colaboração de mais ninguém.

A árvore amarela

Lisboa - Rua Brito Aranha, 29 de Setembro de 2011


Ainda se mostra em tons de verde, a árvore. Agora já cá não venho senão daqui a duas semanas, quando eu voltar há-de estar amarela. Conheço esta amiguxa há anos, quando o Outubro estiver entradote ela estará amarela. Como aqui.

Saudades

A dona Maria da Luz mudou-se para os algarves há alguns anos. Hoje ligou a saber de mim, diz que tem saudades.
Estas atenções são uma maravilha, fiquei extasiada com a amabilidade dela.
O meu blogue não pode conter apenas angústias, é bom que a minha vida seja um pequeno barco à deriva, que eu adoro surpresas, mas que balança entre momentos maus e bons. E os maus têm de servir apenas para acrescentar valor aos bons.

Post atrasado

Escrevi o texto abaixo numa altura em que me achei curada e de certa maneira livre dos meus pesares.
O texto foi ficando nos meus rascunhos, não me apeteceu publicá-lo, é íntimo, revela questões melindrosas, fiquei receosa.
Até hoje.
Entretanto a prosa deixou de fazer sentido, tudo quanto lá está escrito hoje é mentira. Naquele dia fez sentido, hoje não.
Mas acho que está na hora. Já me chateia abrir o documento e ler palavras que passaram de prazo. Podia deitar o texto no lixo, pois podia, mas não o faço, é doloroso, não consigo mandar embora assim tão friamente as minhas criações. Só consigo eliminar textos cuja (re)leitura me revoltem as entranhas. E não é este o caso.


A cura

Fiquei doente porque durante largos anos encolhi os meus sentimentos. Não falava do que ia mal na minha vida, do que me afligia. Não contava com o apoio de ninguém porque achava que era assim que tinha de ser. Não desabafava. Não esbracejava. Não estrebuchava. Nunca. Engolia as frustrações. Ficava tudo cá dentro em ebulição e era eu que punha a água fria para deixar de ferver. Sozinha. Às vezes escrevia mas sempre encapotado, ninguém percebia nada do que eu estava para aqui a dizer. Um dia a coisa descambou. Quando isso aconteceu tomei consciência do que estava a fazer a mim e à minha vida. Aquilo estava de tal maneira entranhado na pele e no meu cérebro que se alastrava para todas as áreas da minha vida. A minha casa não me interessava para nada, sequer a ideia de todo o amor que tenho aos meus filhos me levantava a cabeça para continuar a jornada. Vivi momentos e senti horrores que não desejo a ninguém.

Hoje sei contornar os problemas doutra forma, naquilo que sei e que posso, mudei-me. Continuo a encolher-me, a não deixar transparecer, a reprimir emoções e pensamentos, mas alcancei um estágio diferente, estou onde nem tudo me atinge, protegida por um escudo imaginário e deixo-me ali estar. Talvez não seja o melhor lugar, talvez o escudo não esteja onde presumo que esteja, talvez até nem exista, talvez este encolhimento mais consciente me leve até outra doença, quiçá mais grave e profunda. Mas mais não posso fazer, é-me completamente impossível. Diz-se que não podendo mudar de vida que nos mudemos a nós. É o que faço, muito embora me pareça não passar de vãs tentativas. Mas é o que faço, garantidamente.

(Este post serve para registar que estou curada. Para o bem e para o mal, este é o meu diário.)

A mulher que agora já se ri

Vi-a entrar e pensei imediatamente:
«Gina Maria, deixa-te de merdas que esta não curte que te rias de tudo... Lembra-te lá.»
Diz que quer plástico a metro, vai para Cabo Verde definitivamente e tem que acondicionar as coisas na viagem. Atendo-a o melhor que posso, refiro-me ao riso, sempre muito séria, frases curtas e concisas. Tentei. E ela ria-se, a cada frase minha, a bicha. Já me viram isto?
Depois fui natural, é um descanso ser natural. Ainda lhe desejei boa viagem e tudo.

Fui praxada!

Segue-se pequena conversa entre dois intervenientes. Um deles sou eu (verde), o outro é um jovem (vermelho) que anda ali assim a ser praxado porque este ano calhou-lhe em sorte ser caloiro.

Olhe, eu estou ali nas praxes... E mandaram-me arranjar moedas de um cêntimo... Se a senhora puder...

Hum, bem, você quer fazer uma troca, não é?

Sim, sim! Cinquenta cêntimos. Se puder...

Comecei a contar cinquenta moedinhas... E lembrei-me:

Olhe, eu estou a contar moedinhas, por isso também estou a ser praxada. Depois diga isto ao seu praxante, ok?

Está bem...

Ou então deixe estar, senão depois você ainda é mais praxado.

Pois... Olhe, deixe estar assim, não faz mal se não tiver aí os cinquenta cêntimos, é que eu só tenho quatro minutos para arranjar as moedas e acho que já passaram...

Agarrei em mais umas quantas (senhores fiscais das finanças, não autuem, por favor, que isto são boas causas) calculando mais ou menos a quantia e dei-as rapidamente ao rapaz afogueado.
A alameda e suas praxes. Conheço-as há largos anos mas uma destas é que nunca me tinha acontecido.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Comunicado

Quando começo a escrever o abstrato, ou por outra, o que ninguém quer saber:
«São 23:26, acabei agora mesmo de lavar duas frigideiras muito engorduradas e tenho as mãos a escaldar porque a água estava demasiado quente.»

É porque o que anda cá dentro dói que se farta mas não pode ser escrito sob pena de tomar uma forma física qualquer que me chicoteie ainda mais.
Eu sei que é assim, mas o leitor é capaz de não ter este conhecimento. Por isso o comunicado presente.

Conversa

Ela podia ter-me perguntado quais são os meus sonhos ou o que domino melhor. Só para a gente passar o tempo entretidas. Mas não. Podia ter perguntado eu, sei disso. Só por dizer que agora ando a ver se aprendo a não fazer perguntas.

A meta

Sintra, 18 de Setembro de 2011

Há sempre uma meta que me instiga. Agora a vontade é desistir mas há uma meta. Tenho de chegar até ali porque sei que vai ser bom. Não desisto, então.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Estranheza(s)

Uma vida estranha é uma mulher ter um atraso mental poucochinho, assim como que não ter os cinco sentidos bem medidos, e ser dona de uma fortuna enorme, que lhe deixou a tia, ou a madrinha, ou lá que é. Se calhar os pais, ou assim, é que lhe passaram a herança, não sei bem. Essa mulher vive infeliz, sozinha... e cheia de dinheiro. Não se entrega a ninguém com medo que lhe roubem a fortuna. Esta mulher é doente da tola, riquíssima e está completamente sozinha. Ainda lhe vai valendo a vizinha idosa, vá lá. Mas um dia...
Há mais vidas estranhas. Há pelo menos uma: a minha. A minha vida é estranha. Tenho uma profissão de que não me orgulho ou sequer apraz mas permite-me uma visão da vida das pessoas que poucos têm, uma vez que ando muitas vezes metida na casa delas, o que me ajuda a escrever doutros mundos que não conheceria se estivesse fechada num escritório ou num armazém.
Balcão, objeto abominável. Escrever, ato que adoro.

Cada um tem as suas... Já a minha mãe diz.

Porquê?

Eu pergunto demasiado. Já escrevi isto várias vezes, o que me traz a ideia de que também escrevo demasiado, por isso me repito.
Mas vamos às perguntas.
Pergunto à farta, mesmo. Não tenho vergonha de perguntar, sou até um bocado infantil. Ninguém me atura, pois claro. Ainda por cima sou uma sensível do caraças, percebo essa porra a léguas.
Tenho de aprender a indagar. Indagar é algo que eu sei fazer, sim senhores, mas tenho de aprender a fazê-lo sempre, em todas as ocasiões e com todas as pessoas. Para ser uma senhora muito ajuizada e com quem todos (e todas) querem falar.
Mas antes de mais tenho de aprender a refrear os meus porquês e as questõezinhas que me deixam curiosa, tirar-lhes o ar, sufocá-los na garganta. Difícil que se farta...

A amarelada

Esteve aqui. Apareceu amarela e macilenta. Era uma besta, agora é uma querida, vem cheia de caganeirices simpáticas. É natural, a mulher esteve à morte, agora qualquer pessoinha que veja para ela é um sinal de que está viva. Raios a partam. A minha vontade foi mandá-la à merda mas depois lembrei-me que estando ela tão rodeada de caganeirices, a bem dizer já está na merda. Chafurda aí, vá.

E pronto, agora vou voltar a ser uma balconista amável. E competente, já agora.

Hum...

Esteve aqui um senhor bem-parecido e aprumadinho. Pediu-me um serviço e eu fiz. Ficou satisfeito, pagou e saíu.
Este post fica só assim para o leitor imaginar o que lhe aprouver. Ainda estou na onda de mistério (ver post anterior).
Não é uma maravilha esta interação entre nós? Eu dou o lamiré e o leitor desenvolve com a sua própria criatividade...

Que gira...

Rubriquei a nota de encomenda mas esqueci uma perninha do 'n' e acabei por escrever 'Gira'. Fiz referência ao caso junto do vendedor, um sujeito vivaço e bem-disposto.

O que ele achou da minha gracinha...
Se ele comentou ou não...
Se ele discordou...
Concordou...
Se ficou sério, sisudo...
Se se riu a bom rir...

Vamos ficar assim, não adianto mais nada, às vezes é fixe as coisas ficarem por dizer a ver se alguém questiona os meus textos e assim, que o que mais espicaça as pessoas é a onda de mistério. Isso ou então sexo.

Dias de um ginásio

Às vezes desejo ser um ser assexuado, não um ser hermafrodita, assexuado mesmo. Sem sexo. Sem esta mistura explosiva de olhares e sentimentos, arrepios corpinho acima, corpinho abaixo, suores e outros fluidos. Saliva e ranho, por exemplo.
Para mim, estar no ginásio é fértil nesse sentido, o sexual, lá eu relaciono quase tudo o que vejo com sexo e afins, sem que até hoje tenha descodificado o porquê. É por isso que os textos desta etiqueta (Dias de um ginásio) sempre acarretam perversidade e alguns até vão dar à libido. Depois canso-me disto, claro. Detesto escrever sempre do mesmo, acho uma canseira e, pior ainda, acho que será uma canseira para o leitor, pensamento que não suporto.

Ora acontece que hoje vou escrever doutra coisa. Vou escrever de barulhos. Barulhos no ginásio. Paisagem sonora, para ser uma prosa mais trabalhada.
Há música, uma batida forte para dar ginete, vozes em vários tons, máquinas em movimento, televisores... E depois há o aspirador, assim lá por baixo dos outros sons, mal se ouve mas faz uma diferença do caraças. Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô....

Sim, eu sei, é melhor escrever perversa e/ou libidinosamente, é.

Desmame

Uma senhora perguntou o preço do 'Mame' (desodorizante Mum).
Por momentos pensei: «Queres ver que ela sabe do meu desmame e quer saber que tal vou eu nestas lides?!»

O não ser diferente

Não sou pessoa para me achar diferente. A sério que não. Sou igual a toda a gente. Sou capaz de atitudes assaz cruéis, desejo mal com grande intensidade, vingo-me sempre que posso. E também sou adorável, apaixonada pela vida e capaz de sentimentos nobres e ações altruístas. Tenho a mesma raiva e a mesma adoração que a outra gente. Sou tal e qual eles. Ou elas. A sério que sim.

Há tempos encontrei por acaso uma moça que esteve envolvida num programa de TV que eu via com alguma regularidade, o 'Peso Pesado'. Queria falar-lhe mas hesitei. Por fim decidi-me a cumprimentar a rapariga. Disse-lhe que esteve bem no programa, sempre muito esforçada, parabendizei-a, incentivei-a a continuar, que sim senhor ia no bom caminho e coiso. Em suma: não fui diferente de ninguém, ela deve ter a cabeça cheia de frases iguais às que ouviu da minha boca. O que vale a mim é que fui sincera, lá isso fui.

Montrar

Montrar outra vez, é verdade. Poque não? Gosto de estar lá dentro, primeiramente porque posso fazer caretas às pessoas que passam na rua, seguidamente... porque sim. Dizem sempre coisas a alguém que esteja sempre dentro duma montra. Falei no plural para me misturar com outros colegas de profissão que porventura aqui aterrem. Dizem-nos sempre coisas. Pessoas diferentes, as mesmas frases e as mesmas frases em pessoas diferentes.

'Isso bem limpinho!'
'Ah, que boneca tão gira que está na montra...'
'Eh pá, agora passei aqui assim e vi uma coisa a mexer, afinal eras tu!'
'Olhe, menina, está para venda?'

Montrar

Tenho andado a desfazer/fazer/refazer as montras. Ocupadíssima, portanto. É por isso que não escrevi ontem e hoje estou aqui que não posso, rebentando com tanta coisa dentro da cabeça por escrever. É assim: já cá estou, sei que todo o universo uiva de saudades da minha presença sempre tão intensa, agora podeis descansar e deleitar-vos nas sábias palavras que sempre aqui entrego. Lede, pois.

domingo, 25 de setembro de 2011

O atrasado

Manifestei alguma preocupação junto da rica filha, dizendo que era estranho o mano estar a demorar um pouco mais que o costume no jogo de futebol. Ela, pragmática, responde:

- 'Inda há pouco falei com ele por sms, portanto está vivo.

À-dos-Calvos (ou lá como é que se chama), 25 de Setembro de 2011

Registo fotográfico

(Escolher umas quantas fotografias daquelas que acho maravilhosas, uma por ano desde 2004 por exemplo, e depois referir que ia gostar tanto de ler comentários assim:)

Excelente abertura!

Maravilhoso contraste!

As sombras estão fantásticas!

Enquadramento fenomenal!

Captação extraordinária!

Que jogo de cores fabuloso!

Muito bom!
E acabaram-se-me os adjetivos...


Mafra, 2004

Ericeira, 2005

Rio Mundo (Espanha), 2006

Castro Cola, 2007

Marbella (Espanha), 2008


Mafra, 2009

Loures, 2010

Sagres, 2011

Bolo de Caramelo

Descobri o 'Bolo de Caramelo aqui há algum tempo. A receita deu-me logo a ideia de ser um bolo que foge um bocado ao comum e guardei o linque para mais tarde o confecionar. Esse dia aconteceu a semana passada. Mas... esqueci-me de tirar a foto. Ontem fiz de novo o bolo e...



... É realmente muito bom ! Aí vai a receita:

Ingredientes:

Bolo

250 gr de açúcar mascavado claro (150gr para se usar na massa, 100gr para o caramelo)
200 ml de natas
100 gr de manteiga amolecida
150 gr de farinha com fermento
1 colher de chá de fermento em pó
2 gemas
3 claras
1 pitada de sal
1/2 vagem de baunilha

Cobertura

Ingredientes 

100 gr de açúcar mascavado claro
200 ml de natas
1 colher de chá de manteiga
1 pitada de flor de sal
Amêndoas para decorar

Pré-aquecer o forno a 180ºC.
Untar uma forma com cerca de 24 cm de diâmetro, com margarina e polvilhar com farinha.
Abrir a vagem de baunilha longitudinalmente e raspar as sementes com uma faca.
Ferver as natas.
Levar ao lume os 100 gramas de açúcar num tacho, e deixar derreter em lume brando.
Deitar as natas aos poucos, mexendo sempre muito bem, até que fique um creme homogéneo. Reservar.
Bater a manteiga com o açúcar, até obter um creme claro. Juntar as gemas, uma a uma, batendo bem entre cada adição.

Adicionar o caramelo e as sementes de baunilha, enquanto bate.
Juntar a farinha peneirada com o fermento e bater apenas até ligar todos os ingredientes.
Bater as claras em castelo com uma pitada de sal e incorporar à massa.

Colocar na forma e levar ao forno, por cerca de 20 a 30 minutos.

sábado, 24 de setembro de 2011

Desafio

Passei por acaso no blogue A Casa do Alfaiate e li um post contendo um desafio interessante. Tão interessante que me senti desafiada.
Respondo a este desafio porque me considero uma pessoa que gosta de escrever e não por me achar escritora e mais não sei quê. Não senhores, eu gosto de escrever. Ponto final.

Como escreve?

No computador, quase sempre. Tenho um bloco pequeno e uma caneta na minha mala para as emergências, uso-os quase todos os dias para apontar tópicos ou frases que me surjam quando não tenho o computador ao pé de mim. Para ser sincera, ao momento o que anda na minha mala é uma caneta, sim senhores, mas o bloquinho... não passa de pequenos pedaços de papel aproveitado.

Quando escreve?

É indiferente, julgo eu. Escrevo em pé, no computador da loja onde trabalho. Páro o que estou a fazer para escrever. Tenho a benesse de poder parar o trabalho (que possa esperar, claro está) porque não tenho colegas, sendo sozinha não me encosto noutros para poder dar largas à vontade de escrever. Quando o trabalho pode esperar... Escrevo.
Escrevo sentada numa esplanada ou num jardim porque a cabeça vagueia e me bailam sempre muitos assuntos.
Escrevo aqui em casa, largo o bolo ou a roupa para estender e rabisco à pressa o que tenho na cabeça. Quando posso, desenvolvo.
Em suma, vou escrevendo...

De onde surgem as suas ideias?

Do que observo nas pessoas em geral. Normalmente escrevo pequenos episódios do meu quotidiano e dou-lhes um toque pessoal. E transmissível...
Outras vezes escrevo do que observo em mim. É conforme. Se bem que escrever de mim às vezes é cá uma canseira... Ui. Acho melhor, quero dizer, a bem da verdade defendo a ideia de que é melhor escrever dos outros, uma vez que assim revelo melhor quem sou. Existe uma grande tentação para quem escreve de si: auto-comiseração. Tenho fases em que é um problemão não ceder.
É melhor escrever dos outros, é.

Inutilidades ajuizadas

Este mundo não foi feito para nos agradar. Sequer nos movemos dentro de um corpo que escolhemos. Ainda por cima viver cansa-nos de sobremaneira. A vida possui uma vastidão de inutilidades que colaboram unanimemente, essas sim com muito juizinho, para que a gente queira é morrer.

Um mundo inventado

Deus, a existir, e sendo verdadeiro aquele amor todo e o senso de justiça equilibradíssimo de que tanto se fala, permite-nos tudo. A religião não. A religião é que condena e não permite certas coisas, transforma o lícito em prazeres perversos.
O mundo é uma trama gloriosa - Deus é bom, as pessoas não prestam. Quem terá inventado esta coisa a que chamamos vida?

A meta

Ando por aí. Vagueio. Eu e a minha cabeça. Depois, o que acontece é uma necessidade suprema de contactar com a realidade. Que fazer? Nada. Quem sabe não me aparece à frente alguém que eu conheça e se ponha a falar comigo... Logo de seguida lembrar-me-ei de onde estou e o que faço ali. Há sempre uma meta...

Ponto de situação

Contei-te a minha vida para ridicularizar os pensamentos torpes que a minha cabeça consegue criar. No fundo, o que fiz foi ridicularizar a minha existência. O pior disto tudo é que eu não suporto sentir-me ridícula. E agora?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A arte

Egotismo é comigo, já não vivo sem ele. Deixei-me de tretas e abracei a minha arte, agora dou-lhe colo e muito mimo.
Posso muito bem pular a ideia de que tenho 'capacidade' para escrever, engrandecer esse reconhecimento que faço de mim mesma e tornar-me uma artista. Para mim e só comigo, como é habitual, aqui nunca tenho grande companhia. Seja lá como for, ninguém desmente as minhas aberrações literárias. Porquê receio ou pudor?

Lendo

Acabei...

… De ler o livro 'O bilhete de lotaria nº 9:672' de Júlio Verne. Não que tenha sido ler um prazer ler este livro mas li-o. Empenho, preserverança ou teimosia? Teimosia, claro que sim.
É enfadonho que se farta, só houve ali um bocadinho de nada, quase ao fim, em que achei 'queres ver que o velho afinal quer é casar com a miúda e anda metido no desaparecimento do noivo dela?!'
Não, não vou desmistificar a coisa, não gosto de desmanchar o prazer de ninguém.
No fim do relato, o número – 9:672 - impresso no bilhete de lotaria saíu... A quem?!
Não conto. E não escrevo mais nada, a não ser o agradecimento ao senhor simpático que me emprestou o livro com o intuito de eu perceber as voltas que um bilhete de lotaria pode dar. Obrigada, senhor...


Entretanto...

… Como não achava grande piada ao Júlio Verne e o seu 'Bilhete de lotaria nº 9:672' ia intercalando a leitura com outro livro, esse sim, interessante: 'Ao Sul' de Napoleão Mira. Este foi um livro que comprei no Museu da Ruralidade em Entradas, Baixo Alentejo, em Agosto último.
É um livro com o qual me identifico uma vez que as minhas raízes são alentejanas e conheço o modo de viver dos alentejanos. Retratando Entradas, uma terra ali tão perto da dos meus pais, sinto-me até bastante próxima do que leio, quase como se estivesse eu também a viver o livro.

«Gosto muito de Entradas. Gosto do cheiro das coisas. Gosto das pessoas e das casas. Gosto do cheirinho a comida feita na lareira, que pela tardinha, assim ao anoitecer, empresta ao ar uma atmosfera que me obriga a recuar no tempo e a viajar a outras latitudes temporais, que me trazem à lembrança um gosto raro de felicidade olfactiva.»

In
'Ao Sul, Napoleão Mira

Nota: página 51

A colega… ou isso

Há uma pu... perdão, senhora nova a trabalhar no banco. A dona Carminda tem agora uma nova pu... perdão, colega de trabalho. Estou estalando de as ver interagir, que eu cá sou uma senhora... Curiosa, vá.

O Outono chegou

O Outono está aí,
o Setembro finda não tarda
e a mulher dos diospiros já por cá ciranda...

Quer vender. Enquanto expõe o seu produto, dizendo que é natural, que o marido lhe ralha porque ela come aos dois e três duma vez, amanha as calças. Acho-lhe graça, ela lá consegue levantar o cós usando apenas o braço direito. Vai na volta, só lhe cai as calças desse lado.
E sabe vender, a bicha. Diz que os que mais gosta são os diospiros que já apresentam fendas na pele. 
'Ai, gosto tanto daqueles que estão assim abertos... Gosto tanto, tanto!'
Quase saliva e abre tanto os olhos que eu quero fugir dali. Ademais, toda ela se move como se estivesse cheia de nervos, mexe no cabelo e atira a cabeça para trás para dar expressão ao que diz. 
Um primor para os meus olhos, esta senhora, afinal. Fugir dela porquê?

Mulher ruim

A Rhiana tem umas canções cheias de pecado aos mais variados níveis. Para já, começou bem: unfaithful. Depois chegou-nos canções como rude boy ou disturbia. Mas lá conseguiu mudar o estilo, afinal é boazinha, olha só:

California King Bed, Rihanna

Chest to chest
Nose to nose
Palm to palm
We were always just that close
Wrist to wrist
Toe to toe
Lips that felt just like the inside of a rose
So how come when I reach out my fingers
It feels like more than distance between us

In this California king bed
We're ten thousand miles apart
I bet California wishing on these stars
For your heart, for me
My California king

Eye to eye
Cheek to cheek
Side by side
You were sleeping next to me
Arm in arm
Dusk to dawn
With the curtains drawn
And a little last night on these sheets
So how come when I reach out my fingers
It seems like more than distance between us

In this California king bed
We're ten thousand miles apart
I bet California wishing on these stars
For your heart, for me
My California king

Just when I felt like giving up on us
You turned around and gave me one last touch
That made everything feel better
And even then my eyes got wetter
So confused when I asked you if you love me
But I don't wanna seem so weak
Maybe I've been California dreaming

Fonte: http://www.vagalume.com.br

Nomear, sim ou não?

Em grande parte dos textos deste blogue, eu faço-me valer do facto de o mesmo ser muito solitário, nem sempre invento nomes para as pessoas que rodopiam nas minhas cenas de balcão ou outras. São pessoas que conheço bem (ou menos bem), dalgumas conheço-lhes a cor da colcha da cama, o sofá e o tamanho da mesa da cozinha. Não obstante, por uma questão escrupulosa, talvez, acho que não devo apresentar o que mais as identifica: o nome.
Do pessoal aqui de casa, nenhum está escondido atrás dum nome falso, ninguém se preocupa com essa lamechice - um nome é só um nome, certo?
Nomes. Nomes são nomes. Só passarão disso se eu quiser.

Posts esquecidos

Noutro dia escrevi aqui que não escrevo tudo o que me apetece. 
Hoje acrescento que também não escrevo tudo o que quero. 
Tenho falta de tempo para escrever, muito embora não pareça. 
Eu, com falta de tempo, quem diria... 
Sei disso.

Outro post que estava no esquecimento

Por causa deste assunto que toca meandros porventura privados da vida das pessoas voltei a lembrar-me dum post que ando há que tempos para escrever. Trata-se do senhor... Não posso escrever o nome do homem, não é ético, ele não gosta do nome próprio que consta no seu BI, e eu vejo-me na obrigação de ter este respeito sei lá porquê.
Um dia, o senhor Reticências pediu-me fiado. Ora, tive de apontar no livrinho mais folheado daqui, o das dívidas, vulgo 'livro dos cães'.
Então diga lá como se chama, peço eu. Ele hesita, sabe, o meu nome... nem queira saber... Então, mas diga lá, insisto eu. Ah, é Reticências Pinguim, mas sou conhecido por Pinguim, as pessoas chamam-me: Pinguim, ah, é o Pinguim, o Pinguim.

E é assim que o senhor Reticências Pinguim chega ao meu blogue. Com este nome, claro.

Um buraco com janelas

Segue-se um post que estava no esquecimento mas devido ao acontecimento exposto no post anterior voltou a bailar na minha cabeça.

Um dia fui a casa dum cliente com o meu colega. Entrámos numa casa descomposta, em franco final de obras de remodelação, cheirava a estuque fresco e tinta acrílica. Cumprimentámos o senhor e tal e eu fiquei ali especada a olhar e coiso, observando a pureza das paredes e os fios que ainda havia a descoberto, plásticos soltos e outras coisas assaz interessantes.
O homem ficou a falar com o meu colega e eu, vendo que era um jovem senhor todo muito à-vontade e 'bora lá e mais não sei quê, escapuli-me para cuscar o resto da casa. Entrei numa pequena divisão onde alguns móveis simplórios ocupavam já o espaço. Aproximei-me da janela e olhei lá para fora. O que vi foi abismal...


Lisboa, 15 de Setembro de 2011

Mas que visão aflitiva! Isto é um buraco com janelas! Credo, como é que esta gente respira?!
Tirei as fotos que queria, fui clicando e clicando, mas sempre com uma ideia na cabeça:
'Devia perguntar ao senhor se não se importa...'
Estando eu nestes pensamentos algo titubeantes e ansiosos, sinto que alguém me observa. Virei-me para o lado. Não era um... Eram três homens. Das obras, homens que estavam lá a fazer as obras.
'Ups!', pensei eu, 'Fui apanhada.'
Devo ter feito uma cara de susto do caraças.
'Bolas, como é que eu saio daqui, onde é que me enfio... digo o quê, faço o quê, vou para onde...'
Mas lentamente fui descomprimindo, verfiquei que nenhum deles me ia ralhar, sorriam, até, rente ao embevecimento. Todos, sem exceção, exibiam aquela expressão que só uma mulher reconhece. De certo modo era uma visão bem mais aflitiva que o buraco com janelas...
Cumprimentei os senhores e afastei-me daquela vista surreal. Um deles, o mais sorridente, diz:
'Assustou-se?'
'Não...'

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Momento único

Estou estupefacta! Neste momento estou com o ego nos píncaros, sou a pessoa mais importante do mundo inteiro e arredores.
Nunca vi o meu simples ato de fotografar ser tão incomodativo como hoje. Houve uma senhora que se enxofrou toda porque eu tirei fotografias a tudo quanto a minha vista abarcava olhando da sua janela!  
F a n t á s t i c o!

E escrever?! Posso, não posso, minha senhora?!
Creio firmemente que sim, é por isso que lá vai disto:

Deparei-me com uma vista fenomenal sobre Lisboa, algo de transcendente para mim, eu que raramente ando lá tão no alto.
Dali via-se o Tejo, o Cristo-Rei e se me esforçasse um pouco até da outra margem vislumbrava alguns recortes difusos.
Cá mais perto dava para ver o hospital e recente parqueamento, muito cinza escuro, o risco branquinho que só ele.
O relógio da torre da igreja lá se via por entre montes e montes de janelas, monumentos vários aqui e ali, carros e pessoas andando velozes como se formiguinhas fossem.
Ao outro lado uma vista diferente mas não tão lá ao fundo, é que a avenida é inclinada e para ali era a subir...

E pronto, já escrevi, minha senhora!



Imagem: Gina tirando fotografias em Olhos d´Água no dia 9 de Junho de 2011 a um Ocenao Atlântico que se lhe não nega nem sente qualquer pudor ou repulsa dos cliques da sua mísera máquina fotográfica...

Dias de um ginásio

Agora vou falar da dona Carminda. E o que tem a ver a dona Carminda com o meu ginásio para que conste aqui e assim?
Já se vai ver.
Não que ande no mesmo ginásio que eu, a dona Carminda, é antes porque creio fazer-lhe falta trabalhar o cardio. Tendo do coraçãozinho trabalhado não chegaria arfando de descer e subir a escadaria cada vez que um cliente lhe pede aqueles saquinhos com muitas moedas. Trocos, portanto, que aquilo ali sim, é um banco.
Ontem foi a vez de o senhorio do espaço onde a dona Carminda se move pedir uns troquinhos para os clientes lá do restaurante. Ela foi lá abaixo buscar, cheia de contrariedade, que eu bem vi, e chegou esbaforida e vermelha que nem um tomate bem maduro.
A dona Carminda precisa de se mexer... Ai, credo, esse corpinho sedentário... Acho que sim, acho que sim. Venha para o ginásio, vá lá. Olhe que aquilo melhora! Vai ver que daqui a dois meses apenas sentirá uma grande diferença quando o sô Zé lhe pedir dois ou três saquinhos daqueles.
Dona Carminda, venha ler este post, sim? É primordial... Ao depois, se seguido o conselho, verá que tenho razão.

Mosca sintrense

Sintra, 18 de Setembro de 2011



Olha a mosca sintrense!

Sabes lá se é de Sintra?

Claro que é!

És só tu que vais passear a Sintra, não?!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O que é para mim o fingimento?

Vou falar do meu fingimento porque não sou fingida - é mentira! - e não sei nada sobre o fingimento da outra gente.
Para já, acabo de descobrir que o fingimento é preciso. Preciso dele neste momento... E não é pouco, a ver se me chega em grande dose. Tenho de fingir-me uma escrevente destemida - este é o meu primeiro texto para a Fábrica de Letras, o que é deveras inibidor - a fazer de conta que gosto de mostrar aquilo que escrevo e que vou atrás das ideias dos outros, como esta de escolherem um tema e eu desenvolver.
Agora não finjo: não sou boa a explorar temas só porque alguém disse 'vai lá e escreve sobre isto e aquilo'. O sentimento já vem da escola primária, a dona Elisa mandava os meninos fazer uma redação a contar do Verão, do Outono, das férias da Páscoa... Bah! Nunca gostei. E então se tínhamos de ler em voz alta... Que horror! Nunca consegui dar o tom que queria às minhas pobres redações, talvez porque nunca me tenha esforçado, ocupadíssima que estava a fingir que não sabia lê-las.
O fingimento anda aqui a rondar, qual serpente ondulante atrofiando-me a imaginação – agora estou a fingir que sou poeta - a tal ponto que a minha vontade é largar a correr e levar o fingimento todo comigo. Ademais, sou uma mentira. A bem dizer sou o oposto, o outro extremo.
O meu fingimento é tanto quanto isto: não falo tal e qual como escrevo. É tudo mentira, escrevo a mentir, minto quando digo que minto, escrevo para descobrir as minhas verdades mas o que faço é encobri-las e dar azo às mentiras, que são todas minhas. Detesto aparecer mas adoro escrever porque desejo ardentemente que me vejam e, sobretudo, apreciem os meus textos.
Finjo.
Finjo, finjo, finjo.
Compulsivamente.
A minha vida é um manicómio...

Às vezes venho aqui para falar da minha mentira. Acabei por descobrir que, na verdade, sou mentirosa. A descoberta deixou de ser embaraçosa quando lhe dei colo.
Afago e dou a mão à mentira, desembaraço-me e sinto a verdade como se mentira fosse.
O que acabei de escrever é tudo mentira e é tudo verdade.

Texto enviado para a Fábrica de Letras

Novidade

Há alguns meses, senão anos, que conheço o blogue 'Fábrica das Letras'. É um blogue que promove a escrita de blogueres que queiram dar a conhecer os seus textos mediante um tema proposto.
Sempre tenho fugido, por assim dizer, de escrever a mando de outras cabeças. Decidi mudar. Uma vez que quero divulgar a minha escrita, o que tenho a fazer é deixar-me ir nesta onda, aproveitar o que de bom tem a blogosfera, mostrando-me noutras paragens.
O próximo post (ver acima) é o primeiro...

Edição limitada

Edição limitada é o meu livro que não há meio de sair porque não me disponho a dar os passos necessários. Eu é que estou a limitar a minha edição.
Hoje estou a ponto de chorar, vi mais um livro à venda de uma tal operadora de caixa de supermercado que escreve num blogue e editou um livro. Um livrinho simples mas é um livro. Estou a ponto de chorar... para já de inveja, claro, e depois de raiva porque não me mexo.
Já percebi que não é preciso ter nenhum curso de línguas, nem saber de cor o significado de todas as palavras do dicionário (os mais eruditos, incluso) para editar um livro. Não é sequer preciso saber escrever 'bem'. Hoje basta escrever (ou ir escrevendo, como eu faço) e ter uma quantiazinha de parte para gastar neste gosto que é ver as criações literárias de meros blogueres impressas em papel.
Tenho de fazer um mealheiro.
Vou fazer um mealheiro. Daqui a dois anos já devo ter o suficiente para a despesa mais uns três mil posts por onde escolher, seguramente.

No supermercado

Vi a Olinda na secção de charcutaria, tal como eu aguardava a vez de ser atendida. Pensei falar-lhe, soube que morreu a filha, uma menina que brincava comigo às bonecas no meu quintal. Entretanto, como ela não olhasse na minha direção e eu não me apetecesse deslocar-me até ela e blás, nem posso dizer que houvesse grande empatia parte a parte, deixei-me estar no meu canto.
A espera deu-me tempo para lembrar algumas cenas de infância em que a Olinda esteve presente. Levou-me à praia uma vez ou outra. Numa dessas vezes, como não entendi à primeira o que me dizia, chamou-me 'atraso de vida'. Magoou-me profundamente. Dizem que as crianças não esquecem quem as faz sofrer. Creio ser verdade, assim que o meu pensamento viajou até à infância a primeira coisa que me lembrei foi algo de negativo.
Afinal já não quero falar à Olinda, que se lixe o luto dela, que se lixe a pena que tenho.

Ah, não sou nenhum 'atraso de vida'.

Amizade rima com fealdade

Vi por aí algures (na internet) uma frase que resumia um certo tipo de amizade e que vou definir por palavras minhas porque é uma ideia com a qual concordo plenamente. E também porque me apetece escrever...

'Para existir amizade íntima entre um homem e uma mulher é preciso que um(a) deles(as) seja feio(a) a valer. Ou então um deles(as) achar o(a) outro(a) feio(a) que se farta, outrossim fará prosperar a mais pequena centelha de amizade.'

Obituário

Se calhar devia deixar este post para escrever no dia dos animais, que está aí não tarda, mas pensando bem o melhor é despachar já a coisa, até porque a bem dizer o assunto não traz felicidade.
Morreu o gato branco. Branco sujo, quero eu dizer. Ou por outra, morreu o gato que era da cor do passeio. Às vezes estendia-se ali na calçada, confundindo os transeutes. Eu, por exemplo,uma vez ia pisando o bicho esparramado no meio do chão como se não tivesse cama em casa.
Uma outra vez dei por ele lá em baixo no pátio da minha vida. Assanhou-se todo e eu encolhi-me o mais que pude para passar ao largo. Quando fiz menção de sair dali encontrei-o junto à porta. Assanhou-se ainda mais porque se sentiu sem escapatória e eu fiquei atarantada exatamente pelo mesmo motivo. Estou tramada, pensei eu, se me movo em direção à fechadura o bicho lança-se a mim e esta carinha laroca fica toda arranhada, o que não será nada conveniente.
Fui para baixo, esperei um pouco, ouvi uma cantiga ou duas e voltei para cima. Do gato nem rasto...
E agora morreu, foi atropelado. Quem manda atravessar a rua sem olhar?!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Setembro

Lisboa - Alameda Dom Afonso Henriques, 19 de Setembro de 2011

Segunda quinzena de Setembro. Circulam mais notas de cinco euros que de qualquer uma das outras, é o fim do mês que se vai aproximando. Há praxes na alameda. Rostos pintados, trajes andrajosos. Há barulho, confusão, algazarra. Há grupos de jovens fazendo um reconhecimento do local. São estudantes que vêm viver para ao pé da faculdade. Duplico chaves como em mais nenhuma altura do ano. Há filas de meninos liderados por uma professora em cada extremidade. Às vezes até vem uma no meio deles. Estão muito animados, excitadíssimos com o começo de um novo ano letivo. Um ou outro foge. Ouvem-se os ralhetes.
É a alameda na segunda quinzena de Setembro: bruá, notas de cinco euros, movimento, animosidade.

Como que em muito

Lisboa, 19 de Setembro de 2011
Muitas muitas

Muitas folhas

Muitas muitas

Muitas são

Muitas muitas

Muitas folhas

Muitas folhas...


São!

A forma

Tenho de perguntar à Isilda que raio de planta vem a ser esta...

Lisboa, 19 de Setembro de 2011

Setembro

Segunda quinzena de Setembro. Há sol. Por enquanto há sol. Já se sente um friozinho. O Verão terminará daqui a poucos dias. Mas há sol. Um sol que muito brilha.


Lisboa - Campo Grande, 16 de Setembro de 2011

Na loja oriental

Duas adolescentes aguardavam a chegada de algum super visionador ou assim daquela loja chinesa. Pareceram-me muito seguras de si, porém, algo apreensivas, o que me levou a pensar que teriam roubado qualquer coisa das prateleiras.
Eu a achar que é uma grande maldade o que faço, a de retirar a roupa dos cabides para a mirar bem e depois não voltar a colocá-la no sítio onde estava. Ou no supermercado, desarrumar as prateleiras do papel higiénico à procura do melhor e mais barato... Bah! Sou uma santinha.

sábado, 17 de setembro de 2011

Aconselhou-me: não inventes histórias, assim és genuína!

Não abandonarei o tom com que escrevo, isso seria morrer para a escrita.

A beleza

Tinha as mãos encarquilhadas da velhice. Era uma senhora vaidosa e exigente. 
Olhe aqui este cabelinho no ar, ponha-o lá no sítio, se faz favor.  
Educada, ao menos.
Creio ser das mais difíceis, a profissão de cabeleireiro, tem de se dizer que está muito bem, muito bonita, a velhas carcaças, esboços-fantasma de outrora. Para mim seria terrível ter de mentir assim.
Não que não existam belas senhoras idosas, há um certo tipo de beleza que só as velhas possuem, mas normalmente está mais ligado ao espírito que ao físico, é a beleza que transparece no rosto, um saber-viver que lhes ilumina o rosto. As novas não têm sabedoria para ostentar tal tipo de beleza... É a vida.
Depois há aquelas como eu, que estão a meia haste, ou bocadinho mais para lá da primeira metade da vida, vá. Não somos novas nem velhas, andamos a aprender a ser velhas e a convencer-nos que ainda estamos aí para as curvas... É a vida.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Antes e depois

Ontem pensava que era algo mais para além do meu blogue. Hoje não tenho a certeza. De certo modo a escrita esconde o que resta de mim.

Às vezes...

… A malta cá de casa troça da minha impetuosa vontade de registar pequenos factos. É comum a pergunta:
«Quê, não me digas que vais fazer um post disto?!»

Aquilo que se diz, de o santo da casa não fazer milagres, é tão verdade...

Pequena descoberta

As pessoas encontram-se mais facilmente quando caminham em direções opostas.

Em vermelho

A dona Luísa mira-me atenciosamente e diz:

«Ficam-lhe tão bem esses óculos vermelhos, Gina! Tão bem, tão bem!»

Está embevecida de tal maneira que por momentos penso que os meus óculos levaram a melhor sobre mim...

Em verde

Lisboa - Rua Francisco Sanches, 15 de Setembro de 2011


De que cor é a fachada do antigo cinema 'Pathé'?
Verde!
Às riscas mas em verde.
As coisas boas são sempre verdes.
Ou por outra:
Tudo o que é verde é bom!

Não posso esperar que as pessoas estejam sempre bem-dispostas mas é miserável não idealizar isso mesmo. Tenho de esperar tudo de bom ou a maldisposta passo a ser eu.

Coisas...

… Que digo:

Não sou mulher de meias medidas, gosto de agarrar as coisas com as duas mãos.

… Que pergunto:

Então a senhora não sabe que a coisa dobrada não entra?

… Que exclamo:

É na bolha!

O cliente ideal e raro

– Quero dez lâmpadas destas assim-assim.
– Só tenho oito...
– Então quero oito lâmpadas destas assim-assim. Quanto é?
- É xis.
- Aqui tem.

Obrigadinha, boa-tarde e até à próxima, meu caro.

E é assim...

- Quero uma trincha boa e barata, se faz favor!

- Hum, não fica bem eu dizer que não tenho nada assim, pois não?


Digo estas coisinhas assim com este jeito para ter montes de piada. E não é que tive mesmo?!

Quem me dera poder prescindir do pensamento...

Cumprimento

Como está?

Primorosa, claro.

Coisa pouca

Uma senhora que traga vestida uma saia branca às bolinhas pretas e uma blusa preta, pode dizer-se que escolheu um traje minimalista. Mas as bolinhas são tantas...

Dias de um ginásio

Correr numa passadeira elétrica também faz vento, tanto que se me seca o suor num instante enquanto corro.

A melhor maneira de saber

O meu colega tem menos uns quantos anos que eu de balcão. Mas não é por isso que deixo de aprender umas coisitas com ele.
Às vezes pedem-nos coisas que não temos, o que leva as pessoas a perguntar se sabemos onde há. E nós, sábios balconistas, de doce índole, informamos. Não raras vezes acontece a pessoa duvidar vivamente da informação, o que ofende a boa vontade de qualquer um. Ora o meu colega arranjou uma frase fantástica e que cala a desdenhosa pergunta:

Então e lá há disso?!

Só há uma maneira de saber...

Já usei a técnica várias vezes. Dá um resultadão.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A boa ação

Caro leitor, se chegaste aqui, olhaste rapidamente para os mais recentes posts e pensaste:

«Ena pá, esta escreve que se farta... Não tenho paciência nenhuma para ler tanta coisa!»

Fecha a janela virtual e não voltes. Deixarás duas pessoas extremamente felizes.

Se escrevo tudo o que me apetece? Não.

Escrever é inconveniente, para escrever 'bem' é preciso pôr o dedo na ferida, ninguém lê o blogue (ou os artigos de jornal, ou o livro) duma pessoa que não tem a certeza do que diz, que se refugia, que revele uma pontinha só que seja de insegurança. Eu escrevo para ser lida e ninguém regressará aqui se eu não for objetiva e (ao menos um bocadinho) tenaz, ou até mesmo excêntrica.
Depois fica-se viciado nisto, claro. A ideia de ter uma voz importante para os outros é fantástica. Tão fantástica quanto ilusória, eu sei. Paciência. Não quero saber.

Comecei este post com a ideia de falar do item 'não escrever tudo o que me apetece' mas desviei-me.
Não, não escrevo tudo o que me apetece. Nos últimos dias tive momentos de tristeza profunda e a vontade de escrever revelou-se intensa, quase incontrolável, mas detive-me porque seria demasiado inconveniente, corrosiva, até. Há coisas que têm de ficar cá dentro. A mim já não chega escrever num papel e guardar na gaveta, o que eu quero é ser ouvida. Quero badalar as minhas opiniões e os meus costumes.
Mas não posso usar sempre o badalo na minha vida, assim sendo, aguentei a dor e contornei a coisa. Nos ultimos dias escrevi umas quantas mentiras, uma catrefa de interesses interessantemente interessantes, lembrei a infância, contei do primeiro dia de escola, da minha mãe e da minha avó.

Escrever pode ser sufocante. Existe um fosso, um vácuo, um sítio qualquer sem ar onde por vezes paira o ato de escrever. Não há nenhuma ligação entre a pessoa que escreve num blogue e a pessoa que fala e ri, não se misturam.
É estranho porque sou fiel à minha personalidade, não finjo ser outra quando estou a escrever. Mas sou.
Com o correr dos tempos e de tantas palavras escritas fui deixando de me ralar com esta dualidade. Ao momento sei que nem sequer se trata de uma dualidade mas sim de uma lista imensa de sentimentos que afloram repentinamente e me transformam em alguém que adoro... ou então não. Personalidade múltipla, pode chamar-se. Marimbo. Quando não, transformar-me-ei numa 'fernanda pessoa' ou assim e eu não quero nada disso na minha vida. Eu só quero escrever. Tão simples assim, sim.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Um post

Há dois dias que me porto muito bem, apresento apenas um post por dia (este é o segundo de hoje mas não conta), e não mostro imagens que só eu admiro.

Um dia isto muda.

A minha mãe

O (re)começo

Esta semana (re)começaram as aulas (só para os mais novos, ainda não é a vez dos ricos filhos) o que me fez recordar o meu primeiro dia de escola. Não foi bonito, foi até um tanto ou quanto traumatizante. Chorei baba e ranho, pensava que a minha mãe me ia abandonar à mercê duma velha austera de bata branca, o que fez com que ela mentisse e me dissesse que ficava ali sentada naquela banco à minha espera, debaixo do pinheiro que ainda hoje lá está, enquanto eu estivesse dentro da sala:
- A mãe não vai embora, a mãe fica aqui sentada, vês?
Acreditei piamente tinha só seis anos, nessa idade o que os pais dizem é a mais pura verdade para nós.
Já não me lembro bem mas lá dentro devem ter-me acalmado dalguma maneira, talvez tenha feito um desenho ou o meu nome em grandes letras.
Nos dias seguintes ainda chorei baba e ranho, que bem me lembro, e como era muito envergonhada não pedia à professora para ir à casa de banho quando me vinha a vontade de fazer chichi. Logo... A minha mãe encontrou-me 'molhada' um dia ou outro e depois dava-me nalgadas, que eu não tinha nada que me mijar, ora o raio da rapariga, vergonha de quê e tal e tal.
Para meu descanso, isto não foi sempre assim. Não demorei muito a mudar radicalmente de opinião, semanas depois adorava a escola e pouco depois disso, olhando demoradamente para o saleiro que estava pendurado na cozinha lá de casa, onde se lia em grandes letras vermelhas 'SAL' exclamei em voz alta e muito senhora de mim:
– Sal!
O que encheu de orgulho a minha progenitora. Durante o resto da minha infância ouvi relatos assim 'a minha Gina três meses depois de andar à escola lia corretamente'.


Passar a esponja

Terminei em grande o texto anterior mas denegri um pouco a imagem da minha mãe. Vou contrariar essa ideia já de seguida.

A minha mãe era linda quando era jovem. A pele branca e sem defeitos, o olhar muito vivo, a boca bem desenhada com os dentes todos alinhados. Era uma cara sem atributos fantásticos mas resplandecente na sua aura de simplicidade.
A minha mãe foi sempre linda, ainda me lembro de os homens lhe mandarem piropos e ela esbaforida levantar a mala e dizer: «Levas com a mala nos cornos que verás, filho dum cabrão!»

Hum, acho que ainda não terminei da melhor maneira... Vou tentar outra vez.

Zanga versus Convivência

Os meus pais estiveram alguns anos zangados com a minha avó paterna e as minha tias (irmãs do meu pai) ao ponto de não falarem com os outros. Durante a infância ouvi zunzuns aqui e ali mas não sei contar o motivo da zanga, presumo que se tenha dado devido a invejas das minhas tias e avó para com a minha mãe. Os atritos próprios de sogra/nora/cunhadas, talvez não tenha passado disso mesmo.
Mas a minha mãe não queria as suas crianças ressentidas por não verem a avó (e as tias) e levava-nos (a mim e ao meu irmão) até à porta da casa onde moravam. Subíamos e ela ficava em baixo à espera, enquanto nós, tomando a atitude que a minha mãe corretamente nos ensinava, visitávamos e estávamos um bocadinho com a aquela parte da família, para que a mesma tivesse a nossa presença ao menos uma meia horita lá de quando em quando.
Era comum a minha avó dar-nos dinheiro no final da visita, até parece que estou a ver a nota de cem escudos a passar-me à frente dos olhos, ela sempre a estendia ao meu irmão, que era o mais velho, (coisas da hierarquia familiar...) mas sempre alertando que a quantia era para dividir pelos dois.

Sensata, a minha mãe... Não falar com a sogra e as cunhadas e mandar lá os meninos e assim. Sensata, sim senhores. Depois queria saber tudo, claro...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Todo um conjunto de interesses

Considerável interesse cultural

Óscar Wilde foi um grande homem das artes no século XIX. Há imensas citações dele neste sítio. Só não sei se ele alguma vez reparou (e escreveu, como estou a fazer) no seguinte:
O papel de espectador é o mais cobarde que há.

Pensamento cheio de interesse

Ter um blogue é super-hiper-mega maravilhoso, o virtual traz a ilusão de que sou um prodígio da natureza e uma pessoa tão importante, mas tão importante e faço tanta falta, mas tanta falta... Que as minhas histórias ou as porcariazitas do meu quotidiano são imprescindíveis à vida de qualquer terrestre.

Simplesmente interessante

Imagina!
Imaginar é comigo mesmo.
Não que seja irmã da Gina,
sou antes a própria.

De elevado interesse

Desde há uns tempos sou Gina no blogue. Uns dias depois nomeei a minha pen, e, apesar de não ser dada a inglesismos, chamei-lhe Gina's Pen. Não tarda chamarei Gina's qualquer coisa (ou então qualquer coisa da Gina) a todos os meus documentos, que eu cá tenho um alter-ego do caraças.

Para lá de interessante









Hiper-interessante

O senhor Juvenal tem uma mala nova. Achou no lixo. Está nova. Fica-lhe bem.

Muito (muito, muito, muito) interessante

Estou sempre muito duvidosa em relação ao sexo da ênfase. Primeiramente acho que é menino, depois chega a dúvida e concluo que é menina.
Entretanto baralho-me e já não sei qual das dúvidas ter, pois se achar que é menina vou pensar que deve mas é menino e se achar que é menino vou pensar que é menina de certezinha.
Para que não hajam dúvidas quanto ao sexo da ênfase, para escrever a primeira frase deste post consultei antecipadamente o senhor Priberam e para escrever esta última olhei de relance para a primeira, que está, seguramente, bem escrita.

Sumamente interessante

Acabaram com o cafezito ali assim. E agora? Perguntei-me donde viria o socorro àquelas três velhinhas que lá passavam as tardes e depressa me chegou a resposta: estão no café mais à frente, safaram-se bem.

Um interesse do caraças

De manhã estive a braços com uma impressora que me cuspia as folhas a um ritmo alucinante. Às vezes a minha vida é uma correria.

Super-interessante

Hoje tive de ver as horas como expliquei há dias. Tirei três fotografias ao meu colo, em modo museu para não se ver o flash. Umas às 14:00, outra às 14:13, e a última às 14:25. Tirei ainda uma outra às 14:54, não fosse eu estar já muito atrasada, onde se vê uma cadeira, uma caixa de parafusos e uma mala com porcas.

Interessante quanto baste, que isto os artistas têm todos a mania

Ouvi na rádio ator brasileiro José Wilker aconselhar as pessoas a insistir, teimar e duvidar, que a dúvida é muito criativa.
Concordo. Mas às vezes é uma chatice tão grande ninguém acreditar naquilo que eu digo...